Vale: minério superando os US$ 160 e mais notícias que dão bons sinais para a ação da empresa em 2021

Avanços para acordo em Brumadinho, ainda que a um custo mais alto, desinvestimentos e revisão de expectativas para cima guiam otimismo com ação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A semana foi movimentada para a Vale (VALE3) que, apesar da leve queda nesta sessão, a ação VALE3 acumula ganhos de mais de 3% desde segunda-feira, atingindo novos recordes e com a ação chegando a superar a casa dos R$ 84. No ano, os ganhos são de 65% e, somente neste mês, de 8,5%.

Entre os fatores para essa disparada, está o salto da cotação do minério de ferro que, nesta sexta-feira, subiu pelo 12º dia consecutivo no mercado transoceânico, com valorização acumulada de 10,4% na semana. Só nesta sexta, o minério com pureza de 62% de ferro subiu 2,3%, indo a US$ 160,13 por tonelada no porto chinês de Qindgao, sendo o valor mais elevado desde 20 de fevereiro de 2013, de acordo com dados da publicação especializada “Fastmarkets MB”. Apenas em dezembro, a disparada é de 22% e, em 2020, a valorização supera 74%.

No radar desta sexta para a forte alta dos ativos, está a notícia quanto aos efeitos de um ciclone sobre embarques na Austrália também ajudaram, uma vez que o setor já tem lidado com uma menor produção do Brasil, com a Vale também reduzindo as suas projeções. A mineradora BHP, contudo, assegurou à Associação Chinesa de Ferro e Aço que as condições climáticas não afetarão embarques e que deve atingir a metade superior de sua meta de produção.

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De qualquer forma, conforme destaca a Reuters, qualquer questão que afete a oferta teria impacto relevante em meio à forte demanda no momento, em um cenário de indústria da China aquecida e exportações de produtos em novembro registrando o maior avanço em quase três anos devido à forte demanda global.

Vale destacar que, nesta sexta, os futuros do minério de ferro na bolsa chinesa de Dalian, que avançaram pela quinta semana consecutiva, chegaram a registrar uma disparada de quase 10% na sexta-feira, superando 1.000 iuanes por tonelada pela primeira vez na história em meio a esse noticiário.

Tal avanço do minério fez com que aumentasse a sensação de que especuladores estão alimentando mais o rali, conforme destacou a Associação de Ferro e Aço da China (CISA) em um comunicado: “os preços em disparada do minério de ferro se desviaram dos fundamentos de oferta e demanda, superando amplamente as expectativas das siderúrgicas, e há sinais óbvios de especulação”.

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Apesar de não acreditar que o preço do minério de ferro deva se sustentar nesses valores, os analistas do Morgan Stanley avaliam que deve ficar acima de US$ 100 a tonelada na primeira metade do ano em meio ao déficit persistente no mercado. Para 2021, a Vale destacou esperar uma produção de 315 milhões a 335 milhões de toneladas da commodity em seu Investor Day, o que frustrou o mercado; o Morgan espera que a companhia produza 330 milhões de toneladas, uma alta de apenas 30 milhões na base de comparação anual.

Tal disparada do minério fez com que algumas casas de análise revisassem os números da Vale para cima, caso do Safra, que elevou o preço-alvo para o papel VALE3 de R$ 74,40 para R$ 98 por ação, ou um potencial de alta de 15% em relação ao fechamento da véspera, reiterando a recomendação de compra como resultado da forte geração de fluxo de caixa esperada e rendimento de dividendos de cerca de 9% refletindo os preços resilientes do minério de ferro. “Isso mais do que compensou nossa nova previsão de produção mais baixa”, apontam Conrado Vegner e Victor Chen, analistas do banco.

Com a demanda da China sustentada, os analistas também esperam que os preços do minério continuem fortes no curto prazo, considerando a queda sazonal da produção no primeiro trimestre de 2021 e os baixos níveis de estoque nos portos chineses. Dessa forma, trabalham agora com preços médios de minério de ferro de US$ 100 a tonelada em 2021 e US$ 85 a tonelada em 2022, ante US$ 75/t e US$ 65/t, respectivamente.

Esses preços esperados mais altos mais do que compensaram as expectativas de produção mais baixas, com os analistas projetando uma produção de 320 milhões de toneladas em 2021 (ante 350 milhões), de 350 milhões em 2022 (ante 390 milhões).  A partir de 2024, a expectativa é de produção anual de longo prazo de 390 milhões de toneladas.

Já a forte geração de fluxo de caixa (rendimentos FCFE – ou Fluxo de Caixa Livre para o Patrimônio Líquido – esperados de 10% e 9% em 2021 e 2022, respectivamente) devem se traduzir em dividendos atraentes. “Estimamos rendimentos de dividendos de 8,9% em 2021 e 8,6% em 2022 ao preço atual”, apontam.

Vegner e Cheng também destacam que a companhia está reduzindo a sua percepção de risco, o que pode levar a um desconto menor em relação aos seus pares. “Vemos isso de forma positiva, embora entendamos que essas ações têm um impacto gradual ao longo do tempo”, avaliam.

Na véspera, por sinal, a Standard & Poor’s alterou a perspectiva da Vale de negativa para estável, citando que a mineradora brasileira tem se concentrado em reparar danos, indenizar famílias e implementar controles de risco mais precisos após 2 anos do rompimento da Barragem de Brumadinho, segundo relatório.

Além disso, a perspectiva elevada reflete a expectativa de que a Vale mantenha a alavancagem medida pela relação dívida líquida ajustada sobre o Ebitda em 2 vezes. Isso mesmo com projeções maiores de desembolsos com dividendos e investimentos e com potenciais multas associadas ao caso Brumadinho.

Neste sentido, na quarta-feira (9), em uma nova audiência, a Vale, o governo de Minas Gerais e instituições de Justiça, mais uma vez, não conseguiram chegar a um acordo sobre as reparações por conta da tragédia.

“A Vale continua empenhada em construir um acordo global com o governo de Minas e as instituições de Justiça no processo de mediação conduzido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais”, disse a mineradora. Na reunião, ficou acordado na reunião que a empresa vai estender até 31 de janeiro de 2021 pagamentos emergenciais de reparação, nos mesmos moldes atuais. Uma nova audiência deverá ocorrer em 17 de dezembro, com participação do Estado e das instituições de Justiça, de acordo com a Vale, que falou em “avanços sobre pontos relevantes” para um possível acordo.

Em relatório após a audiência, o Morgan Stanley afirmou que as negociações estão em linha com suas expectativas, segundo as quais era improvável que as partes chegassem a um acordo final na audiência de quarta. O banco acredita que o acordo deve sair mais caro do que a estimativa inicial da Vale, de US$ 1,4 bilhão, e inclui em seu modelo sobre os papéis da empresa um acordo em torno de US$ 4 bilhões, potencialmente no primeiro trimestre de 2021.

O banco mantém avaliação de overweight (expectativa de valorização acima da média do mercado) para os papéis da empresa negociados na Bolsa de Nova York (os ADRs), com preço-alvo de US$ 17,30, ou um potencial de 1,8% em relação ao último fechamento.

Desinvestimentos no radar

Também no noticiário da companhia, ela anunciou que assinou um contrato de opção de venda vinculante para a venda de sua participação na Vale Nouvelle-Calédonie (VNC), ou Vale Nova Caledônia, que tem operações de níquel e cobalto no território francês em ilhas no Pacífico Sul. Em novembro, a Vale anunciou um período de exclusividade para negociações com um consórcio liderado pela atual administração e funcionários da VNC, e apoiado pelas autoridades caledonianas e francesas, com a Trafigura como acionista minoritária.

A transação proposta tem conclusão prevista para o primeiro trimestre de 2021, segundo a Vale, que acrescentou que para isso “uma reserva de US$ 500 milhões  será refletida nas demonstrações financeiras consolidadas” da companhia.

Cabe ressaltar que, na véspera, a Vale teve que suspender suas operações na região e seus funcionários foram evacuados de forma segura após uma noite de protestos na Nova Caledônia por ativistas pró-independência, ocorridos na planta de níquel em suas proximidades. Em outubro deste ano, houve referendo sobre a independência da Nova Caledônia da França Os habitantes do arquipélago rejeitaram pela segunda vez a separação. No entanto, um terceiro plebiscito pode ser realizado em 2022, desde que seja pedido por pelo menos um terço da assembleia legislativa local.

“Acreditamos que a venda da Vale Nova Caledônia é um passo positivo para a Vale, em linha com a estratégia de desinvestimento de ativos não essenciais e deficitários. VNC tem sido principalmente um ativo de baixo desempenho, com Ebitda negativo contínuo ao longo dos anos (negativo em US$ 237 milhões em 2019, -US$ 63 milhões em 2018, e -US$ 62 milhões em 2017). Dada a robusta geração de caixa da Vale, acreditamos que a empresa pode certamente acomodar o investimento necessário de US$ 500 milhões para o desinvestimento”, aponta o Bradesco BBI, que segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as ações da companhia.

Com esses fatores positivos, Yuri Pereira, analista da XP, destaca a ação da companhia como uma das recomendações para 2021, apontando ainda o potencial de dividendos extraordinários por conta da baixa alavancagem (veja mais clicando aqui). Na mesma linha, de 7 casas de análise que cobrem a ação ordinária da Vale, 7 recomendam compra, segundo dados compilados pela Refinitiv, com preço-alvo médio de R$ 98,60, o que configura um potencial de valorização de 16% em relação ao fechamento da véspera.

A cobertura é ainda maior para os American Depositary Receipts (ADRs) da Vale, ou seja, os papéis negociados pela companhia na Bolsa de Nova York: 100% das 22 casas que cobrem o papel recomendam a compra, mas com potencial de valorização menor, de cerca de 1,2% em relação aos patamares atuais, uma vez que o preço-alvo médio é de US$ 17,20.

Os analistas destacam os riscos: desaceleração do mercado chinês, aumento da volatilidade dos preços das commodities,
e flutuações cambiais entre eles, mas reforçam a visão positiva para o papel. Depois de uma alta expressiva em 2020, a expectativa é de mais ganhos no próximo ano.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.