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SÃO PAULO – Ao atingir os 77 mil pontos nesta quarta-feira (4), o Ibovespa marcou nova máxima histórica e está cada vez mais longe dos 73.920 pontos, que foi o topo histórico cravado em 29 de maio de 2008 e objetivo percorrido pelo mercado desde a recuperação engatilhada em fevereiro de 2016. Porém, essa conquista é acompanhada por diversas ressalvas dos analistas, já que o novo recorde foi realizado apenas nominalmente, não em termos reais.
De fato, descontando o desempenho do Ibovespa pelo CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou até mesmo pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado no período, mecanismo necessário para comparar o valor da carteira teórica do índice ao longo do tempo, o Ibovespa deveria estar na metade do caminho, por volta de 40 mil pontos.
Ibovespa ajustado à inflação
*Fonte: Bloomberg
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Ibovespa ajustado ao CDI
Fonte: Bloomberg
Porém, muito mais importante do que avaliar o desempenho em termos reais, entender como o Ibovespa era composto em 2008 e comparar com as ações que fazem parte da composição do índice atualmente ajuda a explicar porque o mercado já renovou sua máxima histórica, enquanto blue chips como Vale e Petrobras estão longe das respectivas máximas históricas, ao contrário do visto nove anos atrás. Essas diferenças podem ser resumidas em 8 tópicos:
1) Participação de Petrobras e Vale
Em 2008, o Ibovespa era refém de Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5). Considerando as ações ordinárias e preferenciais das duas empresas, além de Bradespar (BRAP4), holding financeira cujo principal investimento é justamente a mineradora brasileira, as blue chips correspondiam por 34,3% da variação do Ibovespa. Para se ter uma ideia da concentração, os ativos PETR4 e VALE5, com maior volume negociado na época, detinham participação de 26,9%. Considerando a composição da carteira do Ibovespa desta quarta-feira, a participação direta e indireta das duas empresas recuou para 17% e hoje em dia as duas empresas que possuem maior participação no índice não são mais Petrobras e Vale, mas sim os bancos Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), que juntos representam 19,6%. Fonte: B3 2) Bancos ganharam espaço
Por falar nos bancos, com a mudança na metologia do índice em maio de 2014, que passou levar em conta o valor de mercado das empresas e o volume de papéis disponíveis para a negociação, ao invés da quantidade de negócios após a derrocada dos papéis da OGX, as instituições financeiras ganharam bastante espaço dentro do Ibovespa. Em 2008, a participação das instituições financeiras era de apenas 15%, ano que contava ainda com as units do Unibanco, que dois anos depois foi incorporado pelo Itaú em uma fusão que criou o maior banco privado do Brasil. Considerando a última versão da carteira teórica do Ibovespa, a participação dos bancos disparou para 29,1%. Fonte: B3 3) Commodities com menor peso
Comparando as carteiras, fica nítida a perda de participação das empresas ligadas as commodities. Além de Petrobras e Vale, a queda de participação do setor siderúrgico foi expressiva com a mudança de metodologia do índice. No ano de 2008, as siderúrgicas representam 9,8% da composição do índice, sendo que Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) possuíam participação de 3,06%, 2,77% e 2,59%, respectivamente. Colocando em ordem crescente, as ações preferenciais classe A da Usiminas detinham a 6ª maior participação no índice, enquanto os papéis ordinários da CSN e preferenciais da Gerdau estavam na 8ª e 10ª posição pela sequência. Em 2017, a representatividade do setor recuou para apenas 1,8% e todas essas ações possuem agora participação inferior a 1%. Para se ter uma ideia, com 0,90%, as ações preferenciais da Gerdau possuem maior representativida dentro da composição do índice. Fonte: B3 4) Economia melhor representada
A perda de espaço das commodities deu lugar para os setores que representam melhor a economia, uma vez que suas atividades estão ligadas ao consumo interno. Além dos bancos, as empresas do setor de consumo e varejo ganharam importante representatividade nessa comparação. Hoje com a 4ª maior participação no índice, com 7,32% da composição, as ações da Ambev (ABEV3), naquela época sob o código AMBV4, representavam apenas 1,21% do Ibovespa e estavam na 21ª em termos de relevância. Acima de uma das maiores empresas de bens de consumo do Brasil, estava, por exemplo, Bradespar (BRAP4), que é uma holding financeira e possuia 1,42% de participação por conta de sua participação em Vale. Com as mudanças, a participação das empresas de consumo e varejo saltou para 13,6% em 2017, liderada pelas ações ordinárias da Ambev, enquanto Lojas Renner (LREN3), Hypermarcas (HYPE3) e Lojas Americanas (LAME4) possuem participação superior a 1%, com a 13ª, 21ª e 22ª colocação em termos de importância na composição do Ibovespa. Fonte: B3 5) O “fim” de um setor e o nascimento de uma potência
Os investidores mais antigos certamente lembram, pelo bem ou pelo mal, dos tempos áureos das ações da Telebras (TELB3; TELB4), quando a telefonia fixa estava entrando no Brasil e esses papéis eram um dos mais negociados na antiga Bovespa. De lá para cá, o setor passou por diversas transformações, a estatal saiu do Ibovespa, mas, ainda em 2008, as empresas de telecomunicação possuíam importante participação no índice. Naquele ano, faziam parte da carteira Net (NETC4), Telemar (TNLP4; TNLP3), Tim (TCSL4), Vivo (VIVO4), Brasil Telecom (BRTO4), Brasil Telecom Participações (BRTP3; BRTP4), Telemar Norte Leste (TMAR5), Telesp (TLPP4) e Telemig Participações (TMCP4). Somada as participações, o setor representava 8,1% do Ibovespa. Porém, com a fusão entre Oi (OIBR3; OIBR4) e Brasil Telecom, que resultou na consolidação do setor, além do fechamento de capital da Net em 2012, o número de empresas foi drasticamente reduzido. Para se ter uma ideia, das 9 empresas que faziam parte do Ibovespa em 2008, apenas Telefônica Brasil (VIVT4) — que comprou a Vivo em 2010 — e TIM (TIMP3) fazerm parte da composição do índice. Portanto, de uma participação de 8,1%, o setor passou a representar 2,5%. Fonte: B3 Para “compensar” essa perda, Kroton (KROT3) e Estácio (ESTC3) entraram na composição do índice, com 2,27% e 0,76%, respectivamente. As empresas do setor de educação são consideradas premiums pelos analistas, tendo em vista a resilência dos resultados e a eficência do time de gestão. Desde 2008, os papéis da Kroton dispararm 645%, enquanto de Estácio 415%. 6) Perdendo energia
Quando o assunto é dividendos, as empresas do setor de energia e saneamento são “figuras carimbadas” nas carteiras de investimento, tendo em vista seu fluxo de caixa constante e a baixa necessidade de investimento, o que confere bons frutos para os investidores. Comparado com 2008, a representatividade dessas companhias perdeu força dentro do índice. Em termos de números de ações, houve apenas uma “baixa” quando comparada as carteiras de 2008 com 2017, mas, em termos de representatividade no índice, a queda foi de 9% para 6%. Para se ter uma ideia, apenas as ações ordinárias da CPFL Energia (CPFE3) possuem participação superior a 1% neste ano, enquanto naquele época tínhamos 3 representantes: Cemig PN (1,80%), Cesp PNB (1,55) e Eletrobras PNB (1,08%). No caso da estatal, a perda de participação foi a mais sentida: em 2008, as ações preferenciais classe B e ordinárias representavam juntas 2% do índice; agora são 0,90%. Fonte: B3 7) Esquecidas pelo mercado?
Em 2008, em meio ao boom imobiliário, as ações do setor de construção estavam em destaque no mercado financeiro e na lista de compra de muitos analistas, na expectativa pelo fechamento do famigerado déficit habitacional. Porém, com os altos preços dos imóveis e a crise financeira que atingiu o Brasil, o saldo negativo não diminui no ritmo projetado e o endividamento das construtoras levaram a queda abrupta do valor de mercado dessas empresas, que foram “pulando fora” do Ibovespa. Naquele ano, o índice era composto por Cyrela (CYRE3), Gafisa (GFSA3), Rossi (RSID3) e CCP (CCPR3), com participação total de 2,9%. Em 2017, o setor é representado por Cyrela e MRV (MRVE3), que juntas representam apenas 0,6% do índice. No caso de Cyrela, que em 2008 detinha a maior participação entre as empresas com 1,28%, agora a empresa possui 0,29%. Fonte: B3 8) Nível de concentração
Quando comparamos as duas carteiras, o nível de concentração chama muita atenção. As duas ações com maior participação em 2008, no caso Petrobras (PETR4) e Vale (VALE5), detinham 26,9%, enquanto em 2017 o “Top 2” é composto pelos bancos Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) com total de 19,5%. Porém, quando avaliamos o “Top 5” e “Top 10”, o nível de concentração é maior neste ano. Em 2008, as cinco ações com maior participação no índice representavam 37,2% da composição, enquanto neste ano esse número saltou para 39,7%. Quando vamos para as dez ações, o percentual passa de 51,1% para 57,3%, razão que pode ser justificada pelo menor número de empresas que fazem da carteira do Ibovespa: 66 contra 59 em 2017. Outra prova da maior concentração do índice na versão atual em comparação com 2008 é o número de ações com participação maior de 1% na composição. Naquele ano, 31 papéis detinham representatividade maior de 1%, enquanto em 2017 são 25 empresas.
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Petrobras
PETR4
14,14%
5,22%
Vale
VALE5
12,75%
–
Vale
VALE3
3,35%
7,77%
Petrobras
PETR3
2,64%
3,57%
Bradespar
BRAP4
1,42%
0,44%
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Itaú Unibanco
ITUB4
–
11,09%
Itaú
ITAU4
3,16%
–
Bradesco
BBDC4
3,84%
8,57%
Bradesco
BBDC3
–
1,53%
Unibanco
UBBR11
2,78%
–
Itaúsa
ITSA4
2,44%
3,48%
Banco do Brasil
BBAS3
2,38%
3,53%
Santander
SANB11
–
0,86%
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Usiminas
USIM5
3,06%
0,35%
Usiminas
USIM3
0,56%
–
CSN
CSNA3
2,77%
0,52%
Gerdau
GGBR4
2,59%
0,90%
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Ambev
AMBV4
1,21%
–
Ambev
ABEV3
–
7,16%
Lojas Renner
LREN3
1,07%
2,08%
Hypermarcas
HYPE3
–
1,06%
Lojas Americanas
LAME4
1,12%
1,04%
B2W
BTOW3
1,14%
–
Natura
NATU3
0,89%
0,43%
Pão de Açúcar
PCAR4
0,73%
0,97%
Localiza
RENT3
–
0,78%
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Telemar
TNLP4
1,52%
–
Telemar
TNLP3
0,64%
–
Vivo
VIVO4
0,86%
–
Telefônica Brasil
VIVT4
–
1,69%
Brasil Telecom
BRTO4
0,76%
–
Brasil Telecom Participação
BRTP4
0,73%
–
Brasil Telecom Participação
BRTP3
0,34%
–
TIM
TCSL4
0,99%
–
TIM
TCSL3
0,33%
–
TIM
TIMP3
–
0,76%
Telemar Norte Leste
TMAR5
0,27%
–
Telesp
TLPP4
0,26%
–
Telemig Participação
TMCP4
0,19%
–
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Cemig
CMIG4
1,80%
0,56%
Cesp
CESP6
1,55%
–
Eletrobras
ELET6
1,08%
0,45%
Eletrobras
ELET3
0,93%
0,47%
Eletropaulo
ELPL6
0,83%
–
Copel
CPLE6
0,82%
0,23%
CPFL Energia
CPFE3
0,68%
1,00%
Transmissão Paulista
TRPL4
0,34%
–
Equatorial Energia
EQTL3
–
0,97%
Engie Brasil
EGIE3
–
0,59%
Energias do Brasil
ENBR3
–
0,35%
Taesa
TAEE11
–
0,33%
*Carteira teórica do dia 04/10/2017
Ação
Ticker
Participação em 2008
Participação em 2017*
Cyrela
CYRE3
1,28%
0,27%
Gafisa
GFSA3
0,99%
–
Rossi
RSID3
0,54%
–
MRV
MRVE3
–
0,32%
CCP
CCPR3
0,10%
–
*Carteira teórica do dia 04/10/2017