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Colunista convidada: Andréa de Paiva, arquiteta, pesquisadora da FGV
O cérebro humano é uma máquina complexa e, cada vez mais, novas tecnologias ajudam a neurociência a compreender seu funcionamento. Exames de neuroimagem comprovam que características físicas dos espaços ao nosso redor afetam o funcionamento do cérebro humano. Arquitetos já vêm aplicando esse conhecimento há algum tempo, principalmente em hospitais devido à descoberta da importância do contato com a natureza para a saúde cerebral.O ÖstraPsychiatry Hospital, na Suécia e o Circle Hospital, no Reino Unido, são exemplos disso. Ambos utilizam materiais com aspecto natural, como pisos de madeira, além de proporcionar acesso a jardins ou janelas com vista para a natureza. Com isso, os pacientes ficam mais calmos, sua pressão arterial abaixa, sentem menos dor e, consequentemente, usam menos anestésicos e analgésicos – por fim, a recuperação é mais rápida.
Mas, qual é a influência das cidades no cérebro humano? Se nos hospitais o contato com elementos da natureza causa tamanho impacto no bem estar dos pacientes, o que esperar da falta de contato com ela que as grandes cidades impõem?A cidade de São Paulo, por exemplo, possui baixa capilaridade de áreas verdes. Sendo assim, frequentar um parque exige grande esforço da população, que tem que percorrer longas distâncias e suportar parques lotados nos finais de semana ensolarados.
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Animais de zoológico, quando forçados a viver em ambientes minimalistas e artificiais, apresentam comportamento neurótico e antissocial. Será que a selva de concreto da cidade grande não estaria estimulando esse tipo de comportamento na sua população? Doenças modernas como a depressão, ansiedade e síndrome do pânico não estariam sendo desencadeadas pela falta de contato com a natureza?
Mas os impactos do espaço urbano no cérebro humano não param por aí.A capacidade de localização no espaço e a falta de segurança também podem ser causadores de stress cerebral. O ambiente caótico da cidade grande, somado à falta de segurança, tráfego intenso e falta de sinalização fazem com que sair de casa seja entrar em estado de atenção e alerta.
Isso não significa que as pessoas estejam sentindo medo de andar nas ruas necessariamente. Mas exames de neuroimagem comprovam que alguns estímulos, mesmo que imperceptíveis no nível da consciência, ativam a amígdala, região cerebral responsável pelo processamento do medo. E quando esta região está ativada, o cérebro se prepara para uma situação de fuga ou luta, estimulando a produção de hormônios ligados ao stress, como o cortisol e a adrenalina.
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Além disso, quando uma área do cérebro está muito ativa, significa que outras áreas não funcionarão tão bem já que grande parte de sua energia estará sendo consumida pela área em atividade. Sendo assim, áreas relacionadas ao autocontrole, à criatividade, memória, concentração, entre outras, terão seu desempenho afetado.
O homem ainda não está adaptado à vida das grandes cidades. Os seres humanos modernos só surgiram há cerca de 200 mil anos, porém há menos de 15 mil anos começaram a se formar as primeiras civilizações, por conta da Revolução Agrícola. Foi a partir daí que o homem começou a se fixar em aldeias e vilas. Cerca de 95% da existência da nossa espécie foi vivida na natureza, num mundo colorido de verde, com sons suaves de pássaros e riachos, com formas orgânicas, sem muros e sem a frieza dos centros urbanos.
Hoje em dia, o emprego e a riqueza se concentram nas grandes cidades e, infelizmente, não podemos fugir delas.Cabe aos gestores dos grandes centros urbanos compreender as implicações de uma cidade projetada para o tráfego de veículos, o adensamento e a produtividade ao invés de uma cidade em escala humana, ou seja, distâncias que podem ser percorridas a pé, construções menores e menos opressivas e com mais foco na qualidade do que na velocidade das tarefas do dia a dia. Esses elementos geram impactos diretos nos gastos com saúde pública, com segurança e na qualidade de vida da população. O impacto econômico é considerável.
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Enquanto isso, para nós, habitantes das grandes cidades, o desafio é descobrir o ponto de equilíbrio e aprender a levar uma vida mais saudável, mesmo em meio a uma selva de pedras.
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