Um breve cenário do mercado financeiro e de capital

Em meio às crises, em geral, e nas crises brasileiras, em especial, surgem boas oportunidades de investimento. Todavia, será preciso mais esforço de garimpo para achar o ouro em meio à lama. Por enquanto, mais lama, como se vê por aí...

Francisco Petros

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Parece-me que os movimentos das cotações no mercado financeiro e de capital brasileiro ainda estão incompletos – nunca estarão completos, mas aqui quero dizer em relação aos efeitos do cenário atual. Muito embora os ajustes do câmbio e das taxas de juros tenham sido fortemente realizados pelos agentes e o mercado de ações ter reagido para baixo mais antecipadamente, desde meados do ano passado, as cotações ainda reagirão ao cenário internacional e nacional. Vejamos.

No front internacional vê-se um Federal Reserve reticente em aplicar a dose de aumento de juros de forma mais imediata. Isso apesar da excelente reação da economia e dos mercados ao final do resgate estatal das dívidas privadas do sistema financeiro, após a crise de 2008. Esta inquietante hesitação da autoridade monetária norte-americana deve-se às dúvidas sobre o cenário internacional.

Como se sabe, China (em menor medida) e a Europa (m maior medida) ocupam as mentes dos analistas em relação ao futuro mediato. Os europeus reagem tardiamente a uma crise de demanda equivalente à Grande Depressão dos anos 20 do século passado e a China está deixando de ser apenas uma exportadora líquida de bens e serviços para ser investidora no mundo afora, inclusa a esquecida América Latina – está comprando muitas empresas e bens na Argentina e no México, além de ter acordos mais antigos na Venezuela.

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Este movimento cria inquietação em relação à intensidade da redução do ritmo do PIB chinês, principal motor da economia mundial há pelo menos uma década.

Os EUA sabem que o aumento da inflação, um dos balizadores da gestão da política monetária dos EUA (o outro é o emprego), dependerá fundamentalmente das mudanças no cenário externo, sobretudo nas moedas. A força do dólar para cima, frente ao euro e ao yuan, é fator favorável à inflação nos EUA. Já o mercado laboral norte-americano deveria estimular à ação imediata do Federal Reserve. Dois pesos e uma medida (os juros básicos).

Decorre deste processo a hesitação em elevar imediatamente os federal funds.

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Dado este contexto internacional, o Brasil não está mal posicionado em termos imediatos, pois lhe interessa a desvalorização do real, bem como o retardamento da alta dos juros nos EUA. Mediatamente a coisa é diferente, pois o cenário das commodities é muito ruim porquanto deflacionário e os problemas internos do Brasil afetaram o seu crédito externo, sobretudo das empresas estatais.

Estruturalmente, precisaremos de mais desvalorização do real, sobretudo quando sabemos o quão capenga está a competitividade industrial do país – os 4% de déficit em conta corrente externo de 2014 do Brasil é insustentável.

Do lado dos juros o cenário é complicado, pois o cenário deste primeiro semestre é fortemente inflacionário em função dos preços administrados (em forte aceleração) e a própria desvalorização cambial que interna inflação por força do repasse nos custos. A dinâmica de contenção da inflação exige um esforço que jogue o crescimento em zero para este ano e, quiçá, mais zero no ano que vem.

Contudo, a crise política vai reduzir para algo entre 1,5% e 2,0% o PIB deste ano – creio em uma queda de até 2,0% do PIB de 2015. Assim, o BC deveria parar de subir os juros enquanto os políticos em Brasília estiverem baixando o nível. Como se vê, a hesitação do BC brasileiro deve-se, sobretudo, aos fatores políticos, pois a economia já dá sinais que seguirá na rota anti-inflacionária imaginada e ambicionada pelo BC e Fazenda. Penso que a taxa de juros futura ficará no nível atual, mas por mais tempo que imaginam os agentes, mas não sobre ainda mais.

Já para o mercado acionário o cenário é mais inquietante. As estatais estão sob forte escrutínio dos investidores, o pais não crescerá nos próximos dois anos e a qualidade dos investidores externos mudou radicalmente – antes o Brasil fazia parte de uma asset class de países emergentes e agora quem aqui investe são os Global Funds que basicamente ajustam suas posições em ações brasileiras para seguir os índices (benchmarks) relacionados aos mercados mundiais.

Não há propriamente uma “preferência” pelo Brasil, cuja participação no mercado mundial está decrescendo. A troca de ativos brasileiros entre “investidores especializados” (emerging markets funds) e Fundos Globais é que evitou um colapso maior da bolsa brasileira. Com efeito: o cenário internacional será fator determinante para as perspectivas de médio prazo da bolsa brasileira, pois se depender de nossos fundamentos domésticos de curto e médio prazo, as cotações deveriam cair, em minha opinião, entre 20%-30% para ter algum fluxo mais especulativo. A relação preço/lucro (P/L) da renda fixa brasileira está entre 10x e 11x. As ações, como um todo, gravita além de 14x. Não dá para investir em ativos de bolsa.

Está claro que em meio às crises, em geral, e nas crises brasileiras, em especial, surgem boas oportunidades de investimento. Todavia, será preciso mais esforço de garimpo para achar o ouro em meio à lama. Por enquanto, mais lama, como se vê por aí…