Últimas medidas dos governos estaduais: o quanto elas podem impactar as ações de elétricas e de saneamento?

Segundo analistas, distribuidoras de energia tendem a sofrer mais que transmissoras e Sabesp

Ricardo Bomfim

Publicidade

SÃO PAULO – Em uma medida para ajudar as pessoas de menor renda, que estarão mais expostas ao desemprego que deve ocorrer por conta do coronavírus, as autoridades estaduais estão reduzindo ou eliminando tarifas de serviços essenciais como água e luz.

Embora realmente seja uma medida que pode ajudar muito as pessoas a sobreviverem à crise, o impacto nas empresas não é desprezível e deve ser levado em conta pelos investidores, principalmente aqueles que possuem ou pensam em comprar ações de Sabesp (SBSP3), Sanepar (SAPR11) e Light (LIGT3), papéis de setores justamente considerados mais resilientes durante crises, como é o caso de agora.

Segundo Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, as companhias de energia elétrica serão mais afetadas que as de saneamento nesse caso. “Foi zerada apenas a tarifa para pessoas de baixa renda, a chamada tarifa social. Em termos de demanda, [saneamento] é o setor menos afetado, pois depende muito mais do uso residencial”, explica.

Continua depois da publicidade

Para ele, o mercado está superestimando o impacto sobre essas empresas, pois é muito baixa a quantidade de clientes que se enquadra na tarifa social e a fatia desses consumidores na composição total das receitas é menor ainda. “As medidas são por apenas três meses e abrangem um consumidor que já é menos representativo do todo”, avalia.

A equipe de análise do Credit Suisse destaca, na mesma linha, que apesar da Sabesp ter dívida em moeda estrangeira, a sua agenda de amortização dos débitos está relativamente endereçada e não se antecipa uma queda grande de volume ou tarifas por conta das ações sociais do governo de São Paulo. “No mais, mesmo que a reforma regulatória seja postergada, acreditamos que será eventualmente aprovada e consequentemente, a tendência regulatória para o segmento continuará a ser favorável”, explicam os analistas do banco suíço, referindo-se às mudanças na Lei do Saneamento, que devem permitir maior participação da iniciativa privada no setor.

Por outro lado, o Morgan Stanley reduziu a recomendação para a ação da estatal paulista de água e saneamento de overweight (exposição acima da média do mercado) para equalweight (exposição em linha com a média do mercado). O banco avalia que a ação da Sabesp agora oferece uma exposição maior às variações do câmbio e com a probabilidade das discussões sobre a privatização da empresa serem novamente adiadas por causa da pandemia.

Continua depois da publicidade

Nesta segunda-feira (23) a Sanepar anunciou que assim como a Sabesp não vai cobrar conta de água de clientes de baixa renda, que representam anualmente R$ 15 milhões do faturamento anual da companhia paranaense, o que dá em torno de 0,3% do total. A empresa também vai adiar seu reajuste anual de tarifas, que geralmente ocorre entre março e abril para entrar em vigor em maio.

Os analistas Francisco Navarrete, Victor Oliveira e Bruno Reis, do Bradesco BBI, estabeleceram recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a Sanepar, com um preço-alvo de R$ 127,00.

“Nós estimamos que o próximo reajuste tarifário da Sanepar ocorrerá em maio de 2021, e vai continuar de acordo com o planejado, o que recalibraria totalmente as tarifas, eliminando a perda de fluxo de caixa do cancelamento do reajuste anual em 2020”, escrevem em relatório.

Continua depois da publicidade

Energia elétrica

Já as companhias do setor elétrico terão uma vida muito mais difícil a depender das medidas que os estados adotarem. De acordo com Gabriel Fonseca, as distribuidoras de energia dependem muito da demanda das empresas, que está extremamente comprometida por conta do home office. “Zerar tarifas dessas empresas gera uma reação em cadeia no mercado inteiro. É míope achar que parar de cobrar a população é um sacrifício só da Light, por exemplo, porque o setor inteiro é impactado”, destaca.

Fonseca critica ainda o fato de que os governos estaduais, ao intervirem nas companhias de energia elétrica, estão passando por cima da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão que possui a competência para regular o setor. “Zerar tarifas de energia pode gerar inadimplência principalmente entre as pequenas e médias empresas. A agência reguladora vai se compadecer das elétricas se isso ocorrer? É válido levantar medidas para ajudar a população, mas as empresas têm que ser mantidas.”

Navarrete, Oliveira e Reis, do Bradesco BBI, lembram que o setor elétrico é defensivo e que insolvência não é uma preocupação real para a maior parte das empresas cobertas, mas ressaltam que a liquidez pode ser um problema dependendo da duração da pandemia de coronavírus e do tamanho da queda na demanda por eletricidade, especialmente se a desaceleração da economia também resultar em níveis maiores de endividamento ruim.

Continua depois da publicidade

“Esse cenário pode levar a uma redução nos dividendos. Na nossa visão, é muito provável que para manter a cadeia de pagamentos do setor girando o governo tenha que em breve implementar medidas de emergência como empréstimos do [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] BNDES”, apontam.

Ainda assim, a equipe do Bradesco BBI vê um risco/retorno atrativo nos preços de cinco ações do setor: Eletrobras (ELET3), que tem a maior parte da sua receita estável independente da demanda ou de questões hidrológicas; Cemig (CMIG4), por sua geração robusta de fluxos de caixa, que mitiga uma potencial redução na demanda; Taesa (TAEE11), por ser bem defensiva e apresentar uma Taxa Interna de Retorno (TIR) atrativa, 9,1% (460 pontos-base acima do que paga um título público Tesouro IPCA); Cesp (CESP6) e Alupar (ALUP11), que também apresentam boa resiliência e são opções defensivas interessantes em momentos de crise.

O Morgan Stanley também vê com bons olhos a Eletrobras. A equipe de análise do banco elevou a recomendação das ações da estatal de underweight para overweight, após as quedas de preços dos papéis nos sell-off provocados pelo coronavírus e também pela expectativa de adiamento nas discussões sobre privatização. O banco explica que como geradora e transmissora a Eletrobras tem boa posição defensiva e seu preço caiu 51% com a correção.

Continua depois da publicidade

Sobre a Light, o banco manteve recomendação overweight dada a forte queda das ações no acumulado do ano, de 63% até sexta, mas avaliam que há espaço para queda no curto prazo devido à potencial pressão no desempenho operacional, impactando ainda mais a alavancagem.

Além disso, o banco americano reiterou a recomendação acima da média para a ação da geradora e transmissora de energia privada CPFL (CPFE3), cujas ações tiveram queda de preços de 29% nos recentes sell-off do coronavírus na B3. Para o banco, a ação CPFE3 tem boa posição defensiva.

Aproveite as oportunidades para fazer seu dinheiro render mais: abra uma conta na Clear com taxa ZERO para corretagem de ações!

Planilha

Resultados do 3º trimestre

Acesse gratuitamente a planilha secreta do InfoMoney para acompanhar a temporada de balanços. Clique no link abaixo para receber a sua por email.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.