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Trump está com a mira voltada contra o Brasil? Como isso afeta os mercados do país?

Últimos desdobramentos da relação entre EUA e Brasil afetaram a percepção de risco do mercado

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A mira de Donald Trump se voltou de vez contra o Brasil? Os últimos dias foram de escalada nas tensões entre EUA e o governo brasileiro, o que justifica inclusive a recente queda dos ativos domésticos, como a Bolsa brasileira e o real, após recordes positivos na última semana. Apenas nesta quarta, no mercado à vista, o Ibovespa caiu mais de 1% e o dólar avançou 1%, fechando a R$ 5,50.

Contudo, o desdobramento após o fechamento do mercado que deu a verdadeira dimensão do que poderia representar a irritação do presidente americano com o Brasil. No fim da tarde, Trump impôs uma tarifa de 50% para os produtos do país, muito acima dos 10% do “Liberation Day” de abril e do que se esperava, mesmo se houvesse alta. Com isso, após o fechamento do mercado, o dólar futuro saltou mais de 2% e o Ibovespa futuro teve baixa de mais de 2%.

A escalada já tinha dado sinais em outros eventos nesta quarta, após a divulgação mais cedo de uma nota pela assessoria de imprensa da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, em que fala de “perseguição política” contra Jair Bolsonaro, ecoando declarações recentes do presidente do EUA, Donald Trump, em apoio ao ex-presidente brasileiro.

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“Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação”, disse a embaixada. Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, para que o representante diplomático explique essa manifestação.

No início da semana, em reação à mensagem de Trump em defesa a Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, sem citar o nome do presidente americano, que o Brasil é um “país soberano” que não aceita “interferência ou tutela de quem quer que seja”.

Em meio a esse imbróglio, quase que paralelamente Trump afirmou que o Brasil não tem sido bom para seu país e que anunciaria em breve novas tarifas sobre produtos brasileiros. “O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom”, disse Trump a repórteres em um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca nesta quarta, para depois trazer o número efetivo de taxação de 50%.

Na terça (8), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já tinha avaliado que existe um “grau de incerteza” nas declarações do presidente dos Estados Unidos sobre elevação de tarifas que precisa ser avaliada ao longo do tempo. Ele reforçou que o Brasil está focado em promover um trabalho técnico junto ao governo norte-americano.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o incômodo recente de Trump que culminou nas últimas declarações ocorreu principalmente em meio ao encontro dos BRICs entre domingo e segunda-feira. No próprio domingo à noite, Trump anunciou que uma tarifa adicional de 10% seria cobrada de países que “se alinharem às políticas antiamericanas do BRICS”, sem dar mais detalhes.

Cruz avalia que o incômodo maior teria se dado pelo trabalho do grupo em buscar alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos dos Estados Unidos.

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Conforme aponta o estrategista, diferentemente de crises passadas, a Guerra na Ucrânia e as sanções ao Irã tiveram efeitos menores no comércio entre os países que compõem o bloco em relação a outros períodos, justamente por seguirem comprando produtos um dos outros.

Agora, o foco maior dos EUA contra o Brasil tem um impacto negativo para as empresas do país, principalmente as exportadoras para os EUA.

Após o anúncio, Cruz destacou que a medida foi pior do que o esperado, uma vez que a expectativa era de uma tarifa de cerca de 20%. Assim, apontou, “a tendência é Bolsa cair e o dólar subir ante o real”.

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Cruz avalia que o anúncio de Trump pode abalar a imagem, já frágil, de investidores com o Brasil, já que se trata de um mercado de risco que fica ainda vulnerável por estar na mira do presidente americano.

Cabe ressaltar que as tarifas para commodities já tinham afetado recentemente algumas ações da Bolsa brasileira, como foi o caso da WEG (WEGE3) na véspera. Ontem, Trump afirmou que iria anunciar uma tarifa de importação de 50% sobre o cobre.

Na visão de analistas do UBS BB chefiados por Alberto Valerio, a notícia seria negativa para a WEG, dada a exposição de cerca de 25% da companhia ao mercado norte-americano. “Nós assumimos que o cobre representa cerca de 10% a 20% do custo dos produtos vendidos (CPV)”, afirmaram em relatório enviado a clientes nesta terça-feira.

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Neste cenário de incertezas, o dólar avança ante o real, especialmente pressionado pelas novas ameaças tarifárias e intensificando o temor local sobre o impacto na economia brasileira, destaca Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. “Os aumentos das tensões comerciais volta aos holofotes e contribui para um movimento de aversão ao risco dos ativos locais, agravada pelo desempenho negativo do Ibovespa e reforçando o movimento defensivo do mercado cambial, em uma pregão com liquidez reduzida devido ao feriado em São Paulo”, aponta o analista.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.