Trump causa reviravolta no mercado; veja as ações que mais sofreram e as que mais comemoraram novo cenário

Exportadoras registraram fortes altas nos últimos dias, enquanto endividadas em dólar e ligadas ao consumo doméstico sofreram

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após a eleição de Donald Trump, o mercado passou por um momento de pânico, anestesia e agora de reflexão sobre os efeitos que essa mudança de governo na maior economia do mundo terá sobre os mercados. E, pelo que a reação das bolsas pelo mundo aponta, não há respostas fáceis. 

Na última quinta-feira, enquanto o Dow Jones e o S&P500 subiram, o Ibovespa teve um novo dia de decorrada, enquanto o dólar subiu incríveis 4,73%, a maior alta desde 2008. Na sexta, o índice teve uma nova baixa, enquanto a divisa americana só conseguiu estancar uma sessão de disparada com a forte atuação do BC no mercado. 

Este forte movimento ocorre em meio às expectativas das medidas de Trump no poder – e que fizeram o mercado fazer reavaliações para as commodities e para o cenário de juros com uma mudança de direção na maior economia do mundo. O grande destaque fica para uma das promessas do republicano na corrida eleitoral: aumentar os gastos com infraestrutura em US$ 500 bilhões nos próximos cinco anos (cerca de 3% do PIB) e cortar os impostos para pessoa física e jurídica em US$ 4 trilhões nos próximos 10 anos. 

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Tamanha expansão fiscal, mesmo que ainda no papel, já gera um forte efeito nos mercados, principalmente os emergentes e fazem diversas casas de análise revisarem suas projeções. O receio é de que o Fed adote postura mais agressiva com governo americano ampliando estímulos fiscais e gastos, com impacto inflacionário, o que levou os yields dos títulos soberanos dos EUA subirem e se tornarem mais atrativos, piorando a atratividade dos emergentes. 

Este movimento força uma mudança na dinâmica que tem atuado desde o começo do ano sobre os mercados emergentes, que atraíram bilhões de dólares em investimentos. Por meses, a combinação de juros baixos ou negativos no mundo desenvolvido levou investidores a esmiuçarem outros mercados atrás de retornos mais atraentes. Agora, com a forte alta dos rendimentos dos Treasuries, este movimento perdeu força. 

Desta forma, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve seguir mais cauteloso e diminuir o ritmo de corte dos juros. 

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Neste cenário, o Itaú Unibanco avalia que o Comitê deve reduzir os juros em 0,25 p.p. na reunião de 29 e 30 de novembro, ante estimativa anterior de 0,50 p.p.. “Assim, atualizamos nosso cenário de taxa Selic para o final do ano, de 13,50% para 13,75%”, diz o texto. Já para 2017, o banco segue esperando uma redução “acentuada” dos juros básicos, encerrando o ano em 10,00%. 

A postura mais “hawkish” do BC, além dos indicadores mais fracos do que o esperado no cenário doméstico, fizeram com que o economista para o Brasil do BofA, David Beker, revisasse para baixo a previsão para o crescimento econômico do Brasil em 2017, de 1,5% antes para 1,0% agora. 

Em meio a esse cenário, diversas ações da Bovespa sofreram, enquanto outras comemoraram o forte movimento de alta do dólar e subiram fortemente. 

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Nas últimas sessões, o mercado pode observar uma forte alta de ações de empresas exportadoras, que se beneficiaram dos ganhos do dólar nas últimas três sessões. Soma-se a isso o ganho de empresas de commodities, que registraram fortes ganhos em meio às expectativas com o programa de infraestrutura do presidente eleito americano. Na última semana, o minério de ferro negociado em Qingdao disparou 18%; além dos dados econômicos da China, a eleição de Trump ajudou a impulsionar o rali.

Com isso, os papéis de Vale (VALE3;VALE5) e siderúrgicas como CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Bradespar (BRAP4) tiveram uma forte disparada no Ibovespa, assim como empresas do setor de papel e celulose como Fibria (FIBR3), Suzano (SUZB5) e Klabin (KLBN11).

Entre as ações que sentem negativamente o efeito de uma Selic mais alta por mais tempo, estão empresas de diversos setores, principalmente relacionados ao consumo doméstico. Com uma Selic maior por mais tempo, a expectativa é de que a economia demore mais para voltar a crescer. Aliás, o governo brasileiro vem refazendo as suas estimativas para o PIB e prevê uma retomada mais lenta da economia, com as perspectivas podendo ser revistas ainda mais para baixo com as incertezas sobre Trump.

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Com isso, papéis do setor de consumo e varejo como Lojas Americanas (LAME4), Magazine Luiza (MGLU3), Via Varejo (VVAR11), Lojas Renner (LREN3) tiveram uma forte baixa nos últimos pregões. 

Outros papéis que tiveram baixa foram do setor de construção civil, caso de Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3) e Gafisa (GFSA3). Sobre as imobiliárias, é importante ressaltar que a relação da Selic com a queda ou alta nos juros do financiamento imobiliário não é tão simples assim como ocorre nos outros países. Isso porque o financiamento imobiliário brasileiro vem de veículos como o FGTS (Fundo de Garantia por Trabalho e Serviço) e a poupança, que não possuem lastro na Selic, mas sim na TR (Taxa Referencial). No entanto, a Selic impacta sim essas empresas em primeiro lugar porque geralmente denotam uma melhora ou piora no ambiente inflacionário. Em segundo lugar porque o investidor estrangeiro acaba se comportando como se a composição da taxa de juros para os imóveis fosse como no seu país de origem, comprando ou vendendo de acordo com a trajetória da taxa de juros básica. 

Também há o caso de CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3), que viram suas ações em forte queda em meio à revisão do cenário para a Selic. Elas possuem fluxos de caixa previsíveis por trabalharem com grandes projetos com valuations próprios. Então, sendo a TIR (Taxa Interna de Retorno) de um projeto conhecida, a atratividade desses papéis é muito determinada pela diferença entre a Selic, que é a nossa taxa livre de risco, e essa TIR. Quanto menor a taxa de juros, portanto, maior a atratividade das ações de empresas como elas. Desta forma, com os juros mais altos por mais tempo, a atratividade diminui.

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Outro setor que sofreu nos últimos dias foi o de shopping center, impactando ações da  Aliansce (ALSC3) e BR Malls (BRML3). Além do cenário econômico mais fraco, elas são influenciadas também diretamente pela Selic.  De acordo com teste de sensibilidade feita pelo BTG, para cada redução de 1 ponto percentual da Selic, elas ganham 10% de FFO (Funds From Operations). Ou seja, como como elas têm um fluxo de recebíveis ligado à taxa pré de longo prazo, em um momento de queda da Selic, receber em taxa prefixada e pagar em posfixada é uma boa forma de lucrar. Desta forma, postergar a alta da Selic atrapalha os planos dos investidores na companhia.

Também há aquelas muito endividadas em dólar. Um dos destaques dos últimos dias foi a Sabesp (SBSP3) que viu suas ações caírem 10,38% na última sexta-feira em meio à alta do dólar. Ela é uma das utilities mais endividadas na moeda americana. 

Se já foi possível observar o efeito direto no Ibovespa do novo governo dos EUA, o mercado segue cheio de dúvidas sobre o impacto na economia, principalmente americana. Segundo estrategistas de ações do JPMorgan, o mercado pode oscilar entre um ambiente de reflação – maior crescimento e maiores juros – e o de estagflação – retornos mais altos, mas perspectiva de crescimento misto.

As instituições vêm revisando suas expectativas para o cenário de ações e também para os títulos americanos, cujos rendimentos dispararam em meio às expectativas de alta de juros. Os bancos observam que os juros longos crescentes provavelmente beneficiarão as ações dos bancos dos EUA. Contudo, espera-se um impacto negativo sobre os mercados emergentes – que se beneficiaram com vários anos de custos baixos de empréstimos. 

(Com Agência Estado)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.