Trump atinge América Latina com anúncio de tarifas – mas ações de siderúrgicas brasileiras não sentem impacto

Anúncio de tarifa sobre aço e alumínio na Argentina e no Brasil chegou a assustar os investidores, mas ações de siderúrgicas viraram para ganhos

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Na manhã desta segunda-feira (2), Donald Trump, presidente dos EUA, surpreendeu novamente no Twitter ao dizer que vai retomar, de imediato, a imposição de tarifas a importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina, inaugurando uma nota etapa da guerra comercial. A sua justificativa é de que ambos os países “vêm promovendo maciça desvalorização” de suas moedas, “o que não é bom” para produtores agrícolas americanos.

Assim, no pré-market da bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) da Gerdau (GGBR4) chegaram a cair 3%, antes da abertura da bolsa brasileira. O movimento se estendeu na abertura, com os ativos GGBR4 chegando a ter queda de 2,18%.

Contudo, os papéis da companhia, assim como de outras siderúrgicas, passaram de queda para ganhos, com o anúncio sendo compensado pelos dados positivos vindos da China e também com os investidores digerindo o real impacto do anúncio feito pelo presidente americano. CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) também registram alta nesta sessão.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Conforme destaca Marcos Ross, economista-sênior da XP, em relatório (veja mais clicando aqui), o impacto econômico (de primeira ordem) dessa medida é negativo, mas de certa forma limitado, pois esses produtos representam apenas 1,7% das exportações totais brasileiras.

Neste contexto, JPMorgan, Morgan Stanley e a equipe de análise da XP reiteraram recomendações equivalentes a compra para os ativos da Gerdau após o anúncio do presidente americano, todos destacando o impacto limitado das tarifas.

“O aço brasileiro tem uma longa história de barreiras comerciais com os EUA e volumes no país provenientes das três principais empresas listadas – Usiminas, Gerdau e CSN – já eram muito pequenos e, em nossa opinião, não são significativos”, destacaram os analistas do JPMorgan liderados por Rodolfo Angele em relatório.

Continua depois da publicidade

Betina Roxo, analista da XP, apontou ainda que a Gerdau deve enfrentar impacto limitado da decisão do americano, já que a empresa possui cerca de 30% de suas operações nos EUA. Com isso, a analista possui um preço-alvo de R$ 19 para a ação, o que corresponde a um potencial de valorização de cerca de 10% em relação ao desempenho desta segunda-feira.

Dentre os outros ativos, o Morgan Stanley reforça que a CSN e a Usiminas sofreriam um impacto levemente negativo, com a primeira exportando para os EUA apenas 3% das receitas totais e, no caso da Usiminas, as exportações representariam 1%.

A Ternium, por sua vez, por ter uma grande usina siderúrgica instalada no Rio de Janeiro, “pode ser mais afetada por conta de suas exportações de placas para os EUA”.

A agência de classificação de risco Moody’s, por sua vez, destacou que o evento seria positivo para Gerdau e neutro para CSN e Usiminas. A CSN e a Usiminas não possuem grande exposição ao mercado dos EUA, portanto a qualidade de crédito das empresas não seria afetada; por outro lado, a Gerdau poderia até se beneficiar de um maior protecionismo no mercado americano dado que a operação da empresa nos EUA poderia se tornar mais rentável, afirmou em nota.

Motivações de Trump e as reações do setor

Apesar do impacto considerado limitado, o anúncio do presidente dos EUA gerou fortes reações no setor siderúrgico. De acordo com o Instituto Aço Brasil, a decisão de Trump não condiz com as relações de parceria entre os dois países.

“O câmbio no país é livre, não havendo por parte do governo qualquer iniciativa no sentido de desvalorizar artificialmente o
real. A decisão acaba por prejudicar a própria indústria produtora de aço americana, que necessita dos semiacabados exportados pelo Brasil para poder operar as suas usinas”, afirma a nota do instituto.

O economista-sênior da XP reforça no relatório que o Brasil e a Argentina não estão adotando uma desvalorização de suas moedas. “Pelo contrário, pelo menos do lado do Brasil, há uma preocupação com a atual desvalorização que levou o Banco Central do Brasil a intervir no mercado através do leilão de dólares no mercado à vista”.

A atual desvalorização da moeda brasileira é causada pelas seguintes razões, conforme aponta o economista: i) sentimento de risco generalizado com toda a região da América Latina, incluindo o Brasil e ii) o fato de que diferencial de crescimento, o diferencial de taxas de juros e os termos de troca não estarem mais ajudando o real.

Assim, destaca Ross, a declaração de Trump se mostra como uma tentativa clara de fortalecer o apoio político dos produtores de aço e alumínio dos EUA (seus eleitores), já que as eleições primárias dos EUA estão chegando.

Em meio a esse cenário, mesmo com o impacto limitado sobre as siderúrgicas no curto prazo, o anúncio pode impactar a economia através do canal de expectativas, uma vez que mais medidas poderão ser anunciadas em breve se as negociações falharem.

“Isso adiciona mais tensão ao ambiente de comércio mundial já bastante fragilizado. Até agora, as tensões comerciais estavam restritas a poucos países. Com esta declaração, Trump estreia um novo episódio na era da guerra comercial ao incluir países da América Latina em uma lista negra”, avalia  o economista da XP.

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.