Treasuries sobem, yields caem…como isso afeta a vida dos investidores em bolsa?

Forte queda do mercado eleva busca dos investidores pelo ativo mais seguro do mundo

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Com a forte queda das bolsas nos últimos dois dias, os Treasuries norte-americanos ganharam destaque no noticiário financeiro, inclusive sendo “acusado” de todo esse pânico que dominou o mercado. Mas, no final das contas, por que ele é tão importante quando estamos tratando de investimentos?

Quando se vai tomar a decisão de comprar (ou vender) um ativo, uma das variáveis mais importantes para o investidor avaliar é o risco daquela operação – justamente neste quesito que esses títulos são importantes. Pelo histórico de solvência e por ter em suas mãos uma moeda forte, os bonds emitidos pelo Tesouro dos EUA são considerados os mais seguros do mundo, sendo um verdadeiro porto seguro para os investidores em momentos de pânico, como visto nos últimos dois dias.

Os títulos são divididos em 3 tipos: Treasury Bills (T-Bills), que vencem em até um ano; Treasury Notes (T-Notes), que vencem entre 2 e 10 anos; e os Treasury Bonds (T-Bonds), que vencem entre 10 e 30 anos. O penúltimo, mais especificamente com vencimento de 10 anos, é o principal referencial de juro a longo prazo no mercado financeiro e referência de risco.

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Interpretação

Em função da segurança que os títulos oferecem, os Treasuries normalmente têm sua demanda elevada em períodos de maior instabilidade nos mercados acionários. Assim, quando temos um período de pânico e há uma corrida por segurança como atualmente, os rendimentos (yields) dos títulos recuam e o que aumenta é o PU (Preço Unitário) do ativo. Apesar disso, a dinâmica dos Treasuries não está somente relacionada com proteção, na verdade, boa parte da sua precificação está ligada aos fundamentos econômicos.

A escalada do rendimento dos títulos norte-americanos desde o final do ano passado, atingindo na segunda-feira o maior patamar desde 2014, está acontecendo em boa parte pela projeção de maior crescimento das economias pelo mundo, em especial dos EUA, que no final das contas tende a beneficiar os mercados emergentes. “Dias atrás, os investidores ficaram nervosos com a disparada dos yields. Na verdade, a subida é ótima e deve continuar. O ruim é o fechamento dos yields (subida dos preços), como ocorreu nesses dias de pânico”, explica Henrique Bredda, gestor da Alaska Asset Management, sobre a dinâmica dos Treasuries.

Muitos analistas lembram também que a alta dos yields afeta o prêmio de risco dos modelos de precificação de ações, já que o aumento nas taxas deve ser compensado por um potencial maior de retorno. De fato, em um ambiente de baixo crescimento, essa lógica faz todo sentido, mas o cenário atual é totalmente inverso e mesmo com a escalada dos Treasuries ainda há upside para ser capturado pelas ações, ou seja, maior lucro projetado.

Oportunidade de compra

Sobre a forte queda do mercado nos últimos dias, Bredda aponta que foi uma ocorrência clássica de “fly to quality“, com a saída dos investidores do risco para investimentos mais seguros. Assim, o VIX (índice de medo) disparou mais de 100%, as bolsas dos EUA recuaram 4%, enquanto o rendimento dos títulos dos Tesouros dos EUA fechou: “isso tem que ocorrer de tempos em tempos. Quanto mais tempo se passa sem essas oscilações, mais de surpresa o mercado é pego quando ocorre, e mais forte é a correção”, avalia.

Assim, ele classifica o movimento do mercado de ontem como uma chamada de atenção para conter potenciais abusos. “Quem entrou na bolsa sem saber porque, acaba saindo bem rápido e isso é o que não vai deixar os preços subirem irracionalmente rápido. São os percalços e solavancos que um bull market precisa”, avalia. Caso a correção continue, Bredda destaca que pode aumentar a posição em ações ligadas à economia doméstica, mas ressaltou que a gestora “está aberta a qualquer setor”.