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A diferença entre o trader pessoa física e o institucional vai muito além do capital ou da estrutura: envolve mindset, gestão de risco, especialização e, acima de tudo, disciplina emocional.
O debate — mediado por Roberto Indech, head de Relações Institucionais da XP Inc., durante a Expert XP — colocou frente a frente dois nomes de peso do mercado: Alfredo Menezes, sócio-fundador e Diretor de investimentos na Armor Capital, com experiência em tesourarias de bancos como BCN e Bradesco, e Alexandre Wolwacz, o Stormer, sócio-fundador da Liberta Investimentos. O painel “Trader Pessoa Física versus Institucional” se propôs a derrubar mitos e apresentar as reais diferenças entre os dois mundos.
Visão do institucional
Menezes, que tem quatro décadas de mercado e passagem por tesourarias de peso, foi direto ao ponto. “A grande diferença é que o institucional está vendo a economia real, onde tem demanda, o que os traders estão querendo. E isso a pessoa física não vai ter nunca”, afirmou.
Segundo ele, a estrutura profissional envolve não apenas capital, mas também áreas específicas como compliance, jurídico, gestão de risco e estratégia. “Na física, você é coração, disciplina e emoção”, resume.
Stormer complementou com um alerta: “O trader pessoa física tem que ser o broker, o operador, o estrategista, o compliance, o gestor de risco… tudo ao mesmo tempo. Essa é uma das grandes diferenças que existem e que dificulta muito para a pessoa física”, destaca.
Menezes ainda destacou que nas instituições existe uma diretoria de risco completamente independente da tesouraria, o que cria uma camada extra de controle — e de conflito. “Normalmente dá muita briga entre os dois”, confessa Menezes.
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Ele mesmo adota regras rígidas: “Se um profissional é estopado na Armor, ele fica uma semana sem operar. Vai ler um livro. A chance de perder dinheiro com o emocional abalado é enorme”, revela.
Enquanto isso, fez a seguinte sugestão, com tom de bom humor: “Comecem a reportar o resultado de vocês todos os dias para a esposa. Se tiver loss, ela fala: ‘Vai lavar louça por uma semana’. Isso ajudaria radicalmente”, brinca.
Ambos concordaram, por sua vez, que o gerenciamento de risco é o pilar central de qualquer operação bem-sucedida.
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Menezes destacou a importância de acompanhar métricas objetivas para além do índice de acerto: “Eu analisava a média de lucro e a média de prejuízo. Se o cara tinha uma média de prejuízo maior do que a de lucro, ele pedia limite. Mostra que não tem disciplina”, explica.
E Stormer reforça: “Tem muito trader com 30% de acerto que é máquina de fazer dinheiro, porque quando perde, perde pouco, e quando ganha, ganha muito. O contrário também é comum: gente com 90% de acerto que perde dinheiro porque segura o prejuízo e realiza lucro rápido”, assinala.
Na comparação entre os dois perfis, Stormer apontou que a pessoa física pode explorar ativos com menos liquidez e evitar operar em dias sem oportunidades claras. “É como um surfista, se o mar está flat, ele nem tira a prancha do carro. A física pode esperar o melhor momento para operar”, compara.
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Enquanto o institucional opera com grandes lotes e liquidez restrita, o trader individual tem agilidade. “A grande vantagem da pessoa física é a velocidade de entrada e saída”, avalia Menezes. “O institucional precisa de lote. Não dá pra perder tempo com small caps”, comentou.
Ao tratar de estratégias, Stormer criticou o uso do preço médio: “Pode até salvar 60% das vezes, mas no dia ruim é caixão. Acaba com a conta do cara.” Menezes também foi direto em relação a esse ponto: “Sou totalmente contra. Se o mercado está indo contra você, tem algo errado”, afirma.
Especialização
Outro tópico abordado foi a profissionalização do trader. Menezes destacou a importância do networking: “Você não precisa ser bom em tudo. Se é bom em câmbio, faça amizade com quem entende de juros. Troque informação.”
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“Monte grupos de estudo. Um estuda petróleo, outro dólar, outro índice. Isso te dá visão e apoio”, complementa Stormer.
A especialização, para ambos, é peça-chave da consistência. “Tenho alunos que operam só Petrobras, outros só índice, outros só dólar. Eles conhecem tudo sobre aquele ativo: volume médio, principais players, melhores horários”, explicou Stormer.
Menezes acrescentou: “Na tesouraria, tem quem só olha juros, outro só moeda, outro só equities. Quem tenta fazer tudo acaba sendo mediano em tudo”, pontua.
Eles também desmistificaram uma das maiores crenças do varejo: a ideia de que o institucional “vai caçar stops”. “Nem olha, nem imagina. Isso é uma lenda”, afirmou Menezes. “O institucional está preocupado com o cliente dele, com a carteira dele.” E Stormer ironiza: “Eles não estão atrás do stop de vocês. Estão atrás do meu.”
Os custos operacionais também entraram em pauta. Menezes explicou que os institucionais costumam negociar corretagens em pacotes mensais fixos, o que permite uma frequência maior de operações. “Mas emolumentos são os mesmos para todos. A Bolsa é monopólio.”
Para Stormer, isso reforça a importância de ser seletivo: “Operar está caro. Se escolher bem, você economiza uma grana”, diz.
Profissionais
Ao falar sobre carreira, Menezes contou que prefere contratar engenheiros para atuar no mercado financeiro. “Eu acho que o engenheiro tem um raciocínio lógico bom, é fácil de você ensinar economia para ele. O cara que é um economista, se ele não tiver um raciocínio lógico bom, ele acaba não sendo tão útil no mercado”, comenta.
Ele revelou que um dos sócios da Armor foi descoberto no Twitter, por fazer perguntas inteligentes e técnicas — mesmo sem formação em finanças. “Era arquiteto, mas o nível de insight era muito acima da média. Eu tinha trader sênior que não perguntava aquilo”, relembra.
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