Testes de estresse dos bancos europeus ainda carecem de credibilidade

Utilização de diferentes definições, de acordo com cada país, faz com que resultados dos testes não possam ser comparados entre si

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SÃO PAULO – Por maiores que sejam os esforços da recém-criada EBA (European Banking Authority – Autoridade Bancária Europeia) no sentido de conferir maior credibilidade aos novos testes de estresse dos bancos europeus, o mercado deverá novamente avaliar com ceticismo os resultados.

Em 2010, quando foram feitos testes semelhantes, a principal crítica residia na falta de rigidez dos parâmetros utilizados. A derrocada na credibilidade aconteceu quando a Irlanda foi obrigada a emprestar recursos para o seu sistema financeiro – os dois principais bancos do país ficaram com grande parte dos empréstimos, mas anteriormente haviam passado nos testes.

Desta vez, alguns parâmetros que estão sendo utilizados perderam ainda mais rigidez, como por exemplo a projeção de queda do mercado de ações. Ademais, refletindo a melhora na condição econômica da Europa, as variáveis macroeconômicas utilizadas também foram aliviadas.

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Falta de definição única
Outro problema apontado pelos críticos dos testes é a ausência de definição e metodologias únicas entre os diferentes países da União Europeia sobre a classificação das condições de capital das instituições financeiras, que mede a habilidade delas de suportar perdas inesperadas. 

Segundo a própria autoridade bancária europeia, os reguladores de cada país poderão utilizar suas respectivas definições para classificar a condição de seus bancos, definições essas que em geral não são divulgadas publicamente. Esse ponto fraco dos testes já havia sido duramente criticado no ano passado.

As diferentes maneiras pelas quais os reguladores de cada país calculam a relação de capital considerada satisfatória – denominada Tier 1 – tornam complicada qualquer comparação entre bancos de diferentes países. Segundo a autoridade bancária do Reino Unido, por exemplo, alguns de seus bancos podem aparentar possuírem reservas de capital menores que instituições de outros países.

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Solução?
A solução para esse problema, que seria uma unificação da definição utilizada nos testes, é considerada distante, pois chegar a um acordo pan-europeu no prazo de meses seria bastante difícil. Analistas afirmam que a utilização de padrões locais para a classificação de uma instituição como Tier 1 pode ser vantajosa para bancos de países que adotam menor nível de rigidez.

Buscando melhorar a recepção dos resultados dos testes, que deverão ser divulgados em junho, a autoridade bancária europeia já anunciou que, para este ano, embora os padrões locais continuem ditando as regras, os resultados dos 88 bancos avaliados serão revisados por outros reguladores.

Segundo o presidente do EBA, Andrea Enria, a intenção é “assegurar a credibilidade e consistência do exercício usando tanto parâmetros estatísticos como também julgamentos de especialistas”. Entretanto, em meio a todos estes contrapontos, o desejo de melhorar a credibilidade e consequentemente a recepção dos testes pelo mercado pode não ser alcançado, tornando nula a contribuição disso para a evolução da crise financeira europeia e da confiança dos investidores.