Teste empírico revela a eficiência do indicador MACD com as ações brasileiras

Rodrigo Silva Vidotto avalia a capacidade da ferramenta em produzir sinais de compra e venda lucrativos frente ao Ibovespa

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Da análise clássica, fundamentalmente grafista, a análise técnica foi ganhando espaço conforme os avanços tecnológicos, que proporcionaram uma visão mais clara dos gráficos e da utilização de indicadores técnicos, uma vez que facilitaram os cálculos matemáticos envolvidos.

A comprovação da eficiência das ferramentas técnicas no processo de tomada de decisão no mercado acionário para identificar tendências e pontos de entradas foi o bastante para difundir a análise técnica pelo mundo, principalmente entre os traders.

Com base nas médias móveis e outros conceitos básicos de estatística, operadores de mercado, em especial os norte-americanos, criaram mecanismos para identificar tendências e possíveis situações de entrada e saída.

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A partir da década de 1960, foram desenvolvidos na Europa e nos EUA diversos estudos para comprovar a eficiência da análise técnica e de seus indicadores. A partir destes experimentos, uma gama de indicadores técnicos foi criada – ferramentas essas que são utilizadas até hoje.



O MACD
Dentre os diversos indicadores técnicos utilizados, o MACD (Moving Average Convergence/Divergence), desenvolvido por Gerald Appel na década de 1970, ganhou notoriedade entre os analistas técnicos por ser uma ferramenta simples de operar e interpretar.

O MACD nada mais é que a mescla de três médias móveis exponenciais, composta, no gráfico, por duas linhas: a Linha de Sinal (vermelha), conhecida por ser “mais lenta” devido ao seu caráter de tendência de longo prazo; e a Linha MACD (azul), que responde às oscilações de curto prazo.

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*Ação ordinária do Banco do Brasil no fechamento do dia 11/1/10

Usualmente, tendo como base os manuais de análise técnica, o MACD é constituído pela MME (Média Móvel Exponencial) de 26 dias (longo prazo), MME de 12 dias (médio prazo) e MME de 9 dias (curto prazo).

A partir das médias móveis exponenciais, o famoso trader Alexander Elder, em seu livro “Como se transformar em um operador e investidor de sucesso”1, explica como é calculado o MACD:

  1. Calcular a MME de 12 dias;
  2. Calcular a MME de 26 dias;
  3. Subtrair a MME de 26 dias da MME de 12 dias = Linha MACD
  4. Calcular a MME de 9 dias da Linha MACD = Linha de Sinal

Teste de eficiência
Fundamentalmente, a sinalização de entrada e saída de um papel é dada, respectivamente, quando a Linha MACD cruzar para cima a Linha de Sinal (compra), enquanto o sinal de venda é gerado quando a Linha MACD cruza para baixo a Linha de Sinal.

Com este conceito em mente, o economista e mestre pela EESC-USP (Escola de Engenharia da USP de São Carlos), Rodrigo Silva Vidotto, elaborou um artigo acadêmico intitulado “O Moving Average Convergence-Divergence como ferramenta para a decisão de investimento no mercado de ações”**, a fim de constatar a eficácia da utilização do MACD no mercado acionário brasileiro e avaliar a valorização das ações no momento da compra e venda.

Vidotto escolheu, utilizando o método de amostragem aleatória simples, cinco empresas listadas na BM&F Bovespa para realizar o estudo. Feita a escolha, foi analisada, baseado em gráficos mensais, a oscilação do MACD de cada papel no ano de 2006 e o desempenho do Ibovespa como parâmetro de comparação, a fim de “observar o cruzamento das linhas (MACD e a linha de sinal) e detectar o momento de compra e venda dessas ações”.

Com o objetivo do trabalho traçado, o economista desenvolveu uma tabela com as ordens realizadas em função do cruzamento das linhas, que segue a seguinte ordem: data (dia em que ocorre a entrada); ordem (compra ou venda); preço de fechamento; variação percentual entre compra e venda; fechamento do Ibovespa; variação percentual do Ibovespa no momento entre a compra e venda do papel em questão.

Ações x MACD
Através do método de amostragem proposto, foram escolhidas as ações ordinárias de Banco do Brasil (BBAS3), Embraer (EMBR3), Natura (NATU3), BR Foods, ex-Perdigão (PRGA3), e WEG (WEGE3).

Banco do Brasil
De acordo com os indicativos propostos, Vidotto constatou que o MACD ofereceu um indicativo favorável de compra e venda em 57% dos casos durante o ano de 2006, ao passo em que 43% dos casos o indicativo foi desfavorável.

Caso o investidor seguisse o MACD, obteria uma rentabilidade acumulada de 44,11% em razão a uma rentabilidade acumulada do Ibovespa de 9,71% no mesmo período, como segue a tabela extraída do trabalho:

Embraer
No caso da fabricante de aviões, o MACD ofereceu um indicativo favorável de compra e venda em 44,4% dos casos durante o período, ao passo em que 55,6% dos casos o indicativo foi desfavorável.

Caso o investidor seguisse a operação, obteria uma rentabilidade acumulada de 7,06% em razão à queda acumulada do Ibovespa de 8,66% no mesmo período, como segue a tabela:

Natura
Para a Natura, o indicador técnico ofereceu um indicativo favorável de compra e venda em 54,5% dos casos durante o ano de 2006, ao passo em que 45,5% dos casos o indicativo foi desfavorável.

Caso o investidor seguisse o MACD, obteria uma rentabilidade acumulada de 13,93% em razão a uma rentabilidade acumulada do Ibovespa de 0,87% no mesmo período, como segue a tabela:

BR Foods (ex-Perdigão)
Com base no desempenho dos papéis da Perdigão em 2006, antes de unir suas operações com a Sadia, o economista, aplicando o MACD, constatou que o indicador ofereceu indicativo favorável em 50% dos casos.

Segundo o MACD, o investidor obteria rentabilidade acumulada de 10,02% na passagem, contra uma queda de 7,80% por parte do Ibovespa, segundo mostra a tabela:

 

WEG
No último caso, Vidotto constatou que o MACD ofereceu um indicativo favorável de compra e venda em 85,7% dos casos durante o ano de 2006, ao passo em que 14,3% dos casos o indicativo foi desfavorável.

Caso o investidor seguisse o MACD, obteria uma rentabilidade acumulada de 58,41% frente a uma rentabilidade acumulada do Ibovespa de 1,37% no mesmo período, como segue a tabela:

Conclusões…
Através do exposto, Vidotto concluiu que o MACD foi uma ferramenta eficaz no propósito entre as cinco empresas analisadas durante o ano de 2006, uma vez que os indicadores de compra e venda renderam 26,7% em média, contra uma rentabilidade média acumulada do principal índice de ações da bolsa paulista de 0,90%.

Além disso, o MACD, entre o momento de compra e venda, obteve, em média, sinais favoráveis em 58,3% dos casos analisados, contra 41,7% de sinais desfavoráveis, atestando sua confiabilidade.

…e considerações
Apesar do sucesso nos testes, o economista alerta o investidor sobre o uso do MACD como ferramenta única para investir. Segundo Vidotto, é extremamente importante utilizar indicadores como IFR (Índice de Força Relativa) e OBV (On Balance Volume) para atestar o movimento estudado.

O trader Ricardo Dallalana, um dos administradores do Arco Trading, enfatiza a utilização do IFR combinado com o volume, como também destaca outras características importantes do MACD.

Segundo Dallalana, o trader deve ficar atento às divergências entre o indicador e o mercado, já que podem sinalizar o início de uma reversão de tendência e, consequentemente, um poderoso instrumento para confirmar a entrada e saída de papéis.

Sobre as médias móveis a utilizar na configuração do MACD, Ricardo Dallalana utiliza as MME de 21/13/8, lembrando que o padrão é 26/12/9. Apesar de ser eficiente ao rastrear tendências, o trader do Arco Trading sugere a utilização do ADX, pois acredita que este é mais rápido em relação ao MACD, fator que não desmerece a precisão e a confiabilidade do indicador técnico.


*ELDER,A. Como se transformar em um operador e investidor de sucesso. Rio de Janeiro, Campus, 2004.
**VIDOTTO, Rodrigo Silva. O Moving Average Convergence-Divergence como ferramenta para a decisão de investimento no mercado de ações. RAC, Curitiba, v. 13, n. 2, art. 7, p. 291-309, abr/jun. 2009.