Tensão crescente entre EUA e Rússia faz “índice do medo” disparar mais de 20% em 2 dias

"O mundo está subestimando o tamanho da crise que está por vir", diz Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Conhecido pelo mercado como “índice do medo” por medir a volatilidade dos mercados, o VIX Index (Chicago Board Options) acumula uma disparada de 21% em dois pregões, retornando a patamares demeados de novembro do ano passado, quando a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas chamava a atenção dos investidores. Somente nesta terça-feira, às 13h (horário de Brasília), o índice registrava alta de 12,03%.

Desta vez, o que preocupa os investidores é a escalada nas tensões geopolíticas desde a intervenção norte-americana na Síria, com o lançamento de 59 mísseis contra uma base aérea do governo Bashar al-Assad, o que coloca Estados Unidos e Rússia em rota de colisão novamente. Enquanto representantes norte-americanos voltam a falar na queda de Assad como fator importante para o fim dos conflitos sírios, o presidente russo Vladimir Putin mantém apoio ao atual governo local. Para a Moscou, uma mudança no regime poderia pôr em risco sua influência sobre o país, hoje tido como aliado geopolítico importante, e onde os russos mantém uma base naval estratégica.

“O mundo está subestimando o tamanho da crise que está por vir”, diz Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset. Para ele, a queda das as bolsas mundiais e a disparada do VIX refletem uma escalada dos riscos geopolíticos, com ainda muito espaço para realização de lucros por parte dos investidores.

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A situação se agravou com um novo registro de uso de armas químicas no conflito, o que foi usado como justificativa por Trump para uma intervenção mais agressiva. O presidente norte-americano acusa o governo sírio pelos ataques químicos. Assad e seus aliados, por sua vez, negam. Nesta terça, a agência de notícias russa Sputnik disse que o presidente Vladimir Putin afirmou ter informações de que os Estados Unidos estão preparados para lançar um novo ataque aéreo. Desta vez, o alvo será o sul de Damasco, na Síria. O presidente russo afirmou ainda que o objetivo da ofensiva é culpar o governo do presidente sírio Bashar Al-Assad pela ação. Tais colocações colocam ainda mais tensão sobre o tabuleiro geopolítico.

O ataque de Trump também foi visto como uma “recado” à Coreia do Norte, que, na noite da véspera disse estar “pronta para reagir” a eventuais agressões norte-americanas. “Se os EUA ousarem escolher uma ação militar, clamando por um ‘ataque preventivo’ ou a ‘eliminação de instalações’, a República Popular Democrática da Coreia estará pronta para reagir a qualquer modo de guerra almejado pelos EUA”, disse um porta-voz da chancelaria de Pyongyang, de acordo com a agência de notícias estatal KCNA.

Entenda o VIX

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O índice mede a volatilidade das opções sobre ações do S&P 500 negociadas na bolsa de Chicago — a CBOE (Chicago Board of Options Exchange) –, e indica momentos de grande nervosismo do mercado. As opções são naturalmente voláteis, mas costumam ganhar ainda mais volatilidade em momentos de dificuldade — quando o mercado entra em quedas. Com o aumento das incertezas envolvendo a China, é natural que a volatilidade nos mercados cresça e pressione o VIX para novas altas.

Como o VIX costuma subir ao mesmo tempo em que se vê queda no S&P 500 — principal índice de ações dos EUA –, os investidores especulam que esse investidor, e todos os outros que operam o VIX, apostam em um cenário de queda sistêmica na bolsa. Esses temores são amplificados pela proximidade da votação do orçamento nos EUA, que pode ou conter um déficit muito grande, e jogar mais preocupações sobre a situação fiscal do país, ou cortes de gastos, que pode fazer com que o país volte para recessão.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.