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Temporada de balanços nos EUA: expectativa de lucros menores, mas chances de surpresas positivas

Lucros das companhias devem desacelerar, com juros e inflação em alta nos EUA; resiliência da economia americana pode amenizar impactos

Mitchel Diniz

(Shutterstock)

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O maior banco dos Estados Unidos divulgará seus resultados trimestrais nesta sexta-feira (14), dando oficialmente início à temporada de balanços das empresas americanas. A média das projeções de mercado compilada pela Refinitiv aponta que o JP Morgan ([ativo=JPCM34]) deverá reportar lucro por ação de US$ 4, um crescimento de 45% em relação ao ano passado.

Se a estimativa for confirmada, os números terão crescido em menos intensidade do que no primeiro trimestre. Entre janeiro e março deste ano, o lucro do JP Morgan cresceu 52%. “Os grandes bancos surpreenderam porque ganharam participação de mercado dos bancos pequenos, que estão mal das pernas”, lembra Guilherme Motta, estrategista de BDR’s da Santander Corretora.

Em março último, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank fecharam as portas. Já no segundo trimestre, o JP Morgan assumiu os ativos do First Republic, outro banco regional em dificuldades. “Em geral, os depositantes desses bancos menores vão querer colocar seus recursos em instituições sólidas, de balanço robusto. Isso deve ser positivo para os grandes daqui para frente, de maneira mais estruturada, inclusive”, afirma Motta.

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O estrategista observa que o retorno sobre patrimônio líquido do JP Morgan é elevado e semelhante ao de bancos brasileiros, mesmo em um sistema bancário altamente pulverizado com mais de quatro mil competidores.

Motta prevê que esta não será uma temporada de “grandes resultados”, mas acredita que os “bancões” vão apresentar números “decentes”. Com os juros dos Estados Unidos no maior patamar em 16 anos, as instituições financeiras são favorecidas por spreads maiores – ou seja, faturam mais com a diferença entre taxas de captação e de empréstimos concedidos.

Por outro lado, os bancos devem continuar aumentando suas provisões, afinal, além dos juros altos, a inflação americana também segue em patamar elevado. “Mas os dados indicam que o consumidor americano está muito bem capitalizado. A inadimplência por lá está em níveis historicamente baixos, inferiores ao período pré-pandemia”, explica Motta.

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Na avaliação do estrategista, a economia americana tem mostrado resiliência, contrariando as previsões mais catastróficas dos economistas, com um mercado de trabalho ainda apertado e massa salarial robusta.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, diz que vai ser importante acompanhar as perspectivas dos grandes bancos para a economia americana e se haverá mudança de tom, já que cada vez mais o mercado fala em um “pouso suave” para a economia.

JP Morgan e Bank of America, por exemplo, vinham falando com insistência sobre uma recessão, aumentando provisões para se precaver de uma disparada na inadimplência. “Vai ser importante ouvir o que eles tem a dizer sobre perspectivas de balanço e provisões”, afirma Castro Alves.

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Os bancos mais sensíveis a operações no mercado de capitais devem seguir prejudicados pela escassez de novas ofertas no segundo trimestre. Com a recuperação das Bolsas, porém, as expectativas para os próximos balanços são mais positivas nesse aspecto.

Mercado mostra ceticismo sobre os resultados da temporada

De acordo com a mais recente estimativa da plataforma Factset, o lucro consolidado das empresas do S&P 500 entre abril e junho deste ano deve sofrer uma contração de 6,439%, na comparação com o mesmo período de 2022. Se a previsão confirmar, será a pior temporada de balanços trimestrais em três anos.

“O mercado também tinha expectativas muito baixas para o primeiro trimestre deste ano, mas acabou sendo surpreendido positivamente”, diz Paulo Gitz, estrategista global da XP. A economia resiliente durante o período, conforme visto nas recentes revisões do Produto Interno Bruto (PIB) americano, explicam boa parte da surpresa.

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Nos três primeiros meses de 2023, o lucro das empresas do S&P 500 sofreu uma contração de 1,3% em bases anuais, também de acordo com a FactSet.

“Acreditamos que a barra está baixa para uma surpresa positiva também neste trimestre. Mas, olhando as projeções de uma economia ainda desacelerando, esperamos revisões para baixo nos trimestres seguintes”, afirma Gitz. Até agora, o mercado vem prevendo expansão de lucros para as empresas do S&P 500 no terceiro e quarto trimestres deste ano.

O que esperar dos resultados das empresas de tecnologia?

A expectativa para os resultados das grandes empresas de tecnologia no primeiro trimestre deste ano também era ruim. E na avaliação do estrategista da Avenue, os resultados foram apenas “menos piores” do que o esperado. Empresas cresceram menos do que a inflação no período, mas ao menos conseguiram interromper um ciclo de queda, disparando um gatilho para a alta das ações do setor.

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“Afetou negativamente o custo das demissões, pois se gasta muito com lay offs no primeiro momento para economizar mais à frente. Ainda vai ter um pouco disso no segundo trimestre”, afirma Castro Alves.

As empresas ficaram “inchadas” durante os primeiros anos da pandemia, ao ampliar suas contratações de profissionais com salários elevados. Agora, as companhias focam mais em eficiência, reduzindo o quadro de funcionários e os investimentos em projetos menos rentáveis para blindar os lucros. Assim, a temporada de resultados para as techs pode não surpreender pelo lado de crescimento de receitas, mas sim na redução de custos.

“Eu não me surpreenderia se as ações de tecnologia continuassem a performar bem após a  divulgação desses resultados”, diz Guilherme Motta, da Santander Corretora.

Ele vê a disparada das ações das techs em 2023 amparada pela tese de adesão à inteligência artificial. Porém, diz que a nova tecnologia ainda vai refletir pouco nos resultados das empresas no segundo trimestre, com uma ou outra exceção, a exemplo de Nvidia ([ativo=NVDA]). A empresa fabrica chips utilizados no desenvolvimento de ferramentas como o ChatGPT e espera faturar cerca de US$ 11 bilhões no período.

O estrategista de BDR’s também acredita que Microsoft (MSFT34) e Amazon (AMZO34) podem apresentar números positivo ligados à nova tecnologia nos segmentos de cloud computing, já que a inteligência artificial precisa de alto poder computacional para rodar seus algoritmos.

“A nuvem da Amazon é muito utilizada por startups e estamos vendo um ciclo muito bom dos fundos de venture capital colocando recursos nessas empresas”, diz Motta.

Alphabet (GOGL34) e Meta (M1TA34), por sua vez, são negócios mais cíclicos. As empresas faturam, sobretudo, com publicidade – que depende de ciclos econômicos. Se o ambiente de negócios desacelera, as empresas anunciam menos. “Os resultados de curto prazo tendem a ser mais fracos para essas empresas também”, afirma Motta.

A Apple (AAPL34) também tem um perfil de receitas mais sensível a ciclos econômicos, pois depende da venda de hardware – iPhones, Macbook’s e wearables. Em um ciclo de alta de juros, a demanda por esse tipo de item, considerado não essencial, costuma ser menor.

Varejo deve refletir consumo seletivo

Ainda que a economia americana esteja se mostrando mais resiliente do que se esperava, o cenário ainda é de juros e inflação elevados. Diante disso, os americanos estão dando prioridade a itens básicos e serviços, em detrimento de bens duráveis. E esse comportamento deve refletir nos próximos resultados trimestrais das empresas de varejo.

“O primeiro trimestre deixou um sentimento de ‘terra arrasada’ no varejo. Resultados ‘menos ruins’ que o esperado no segundo podem ser vistos como algo positivo. Mas não espero números bons”, diz Castro Alves, da Avenue.

O varejo do chamado consumo não discricionário deve ser o mais impactado e as expectativas não são muito positivas para empresas como Nike (NIKE34) e até mesmo para a Amazon, na sua parte de e-commerce. “Essas empresas estão com nível de estoque muito altos e, com a falta de demanda, vão ter que fazer liquidações e isso vai afetar a lucratividade das companhias”, diz Motta.

Na outra ponto, as empresas que atendem ao consumo básico, de itens como alimentos, medicamentos e produtos higiene, são menos sensíveis ao ciclo econômico. “Essa parte do varejo segue muito forte, pois as empresas estão conseguindo repassar a inflação para os consumidores e conseguem exercer poder de preço”, complementa o estrategista da Santander Corretora.

Energia: vendas seguem forte

As empresas do setor de energia lideraram os ganhos nas Bolsas americanas em 2022, mas estão entre as maiores baixas deste ano. No setor de petróleo e gás, os preços estão bem distantes das máximas registradas no ano passado, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia. Contudo, segundo os analistas, as empresas do setor continuam sendo forte geradoras de caixa. É o setor que mais paga proventos da Bolsa americana.

“As empresas continuam registrando grandes volumes de vendas e fazendo políticas mais amigáveis para acionistas. Elas deixam de investir em novas capacidades para pagar proventos”, diz Motta.

Assim, segundo o estrategista, a tônica do setor na temporada de balanços vai se concentrar em retorno aos acionistas e recompra de ações. Mesmo com o preço do petróleo em níveis mais moderados, os proventos dessas empresas tendem a ser “muito bons”.

“O setor de petróleo e gás está subrepresentado no S&P 500. Passado o burburinho da recessão, acredito que as ações podem voltar a performar bem”, conclui Motta.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados