“Tempestade perfeita” na Cielo e força do aço para CSN: as análises dos resultados que movimentaram esta quarta

Minerva, Telefônica Brasil e Smiles também revelaram os seus números entre abril e junho: confira o que os analistas viram sobre os balanços

SÃO PAULO – A temporada de resultados do segundo trimestre mal começou, mas já traz grandes surpresas – tanto positivas quanto negativas – para os investidores. Além do resultado do Santander (SANB11, R$ 30,96, +3,51%), que foi bem recebido pelo mercado (veja mais clicando aqui), a CSN (CSNA3, R$ 13,00, +5,69%) também teve um resultado visto como positivo pelos investidores, com destaque para os preços mais elevados de aço.

Por outro lado, a Cielo (CIEL3, R$ 4,94, -3,52%) viu seus papéis reagirem negativamente na Bolsa após o balanço, enquanto as ações da Minerva (BEEF3, R$ 14,09, -4,41%) caíram forte apesar do balanço considerado positivo. Com reação mais morna, estiveram os papéis da Smiles (SMLS3, R$ 15,66, +1,75%) e da Vivo (VIVT4, R$ 50,60, -0,73%). Confira a análise de resultados e os respectivos desempenhos das ações na B3 nesta quarta-feira (29):

CSN (CSNA3, R$ 13,00, +5,69%)

A CSN apresentou lucro líquido de R$ 446 milhões, ante prejuízo de R$ 1,3 bilhão em igual período de 2019. Os preços mais elevados do aço contribuíram para esse resultado.

A alavancagem da empresa, que é a relação entre dívida líquida e Ebitda, subiu para 5,17 vezes (no primeiro trimestre, era de 4,78 vezes). A companhia afirmou que vai reduzir a alavancagem para 3,75 vezes até o final do ano e a 3 vezes até o final de 2021.

Os resultados foram avaliados positivamente por boa parte dos analistas. Em destaque, o Bradesco BBI elevou a recomendação da CSN para “outperform” (desempenho acima da média do mercado), com o preço-alvo passando de R$ 11 para R$ 17. A mudança leva em conta uma recuperação mais rápida do mercado de aço brasileiro e o segmento de minério se beneficiando da maior produção.

Os analistas da instituição financeira destacaram ainda a geração de caixa mais forte, que vai contribuir para a desalavancagem.

“A demanda doméstica de aço está se recuperando em um ritmo mais rápido do que o esperado, abrindo espaço para novos aumentos de preços de aços planos e longos nos próximos meses, enquanto a empresa também conseguiu ganhar participação de mercado em meio à crise da Covid-19”, destacaram. “Já a divisão de minério de ferro deve se beneficiar de maior produção, menores custos e preços saudáveis no segundo semestre e em 2021”, apontam os analistas.

Já o Credit Suisse manteve a recomendação de neutra para o papel, apontando a possibilidade da alavancagem se manter acima de 4 vezes caso não ocorra a venda de ativos, reforçando que esse processo “deve atrasar devido aos efeitos da pandemia”.

A XP Investimentos também apontou os números como fortes, mantendo recomendação de compra para os ativos: “olhando para frente, vemos um caminho de recuperação no segmento de aço e um aumento no volume de minério de ferro. Além disso, temos uma perspectiva saudável para os preços do minério de ferro, com a oferta ainda apertada e os impactos positivos sobre a demanda devido aos estímulos do governo chinês”.  Por outro lado, o perfil atual da dívida aparece como o principal fator de risco para a empresa, destacando aguardar desinvestimentos para uma melhora do balanço patrimonial.

Ajudando a impulsionar os papéis durante o pregão, os executivos da companhia reforçaram a visão positiva durante teleconferência com o mercado ao apontarem demanda melhor que a esperada, o que ajudou a convencer a companhia a elevar os preços.

Além de reajustar preços de aços longos, voltados à construção civil, em 6% neste mês, ela ainda vai cobrar de segmentos industriais alta de 10% em agosto e aplicar novo reajuste para distribuidores de planos em setembro, de entre 10% e 12,5%, segundo informou Luis Fernando Martinez, diretor comercial da companhia.

“O cenário para correção de preços em setembro está totalmente favorável”, apontou, destacando que setores que tiveram baixa na pandemia já estão em patamar de uso de capacidade de 80%, caminhando para 95% a 100% no quarto trimestre. Segundo Martinez, as perspectivas são “muito boas” para o mercado de aço do país no segundo semestre.

Ele citou eletrodomésticos de linha branca, como máquinas de lavar, construção civil e máquinas e equipamentos, além de indústria automotiva, com emplacamentos acima do esperado desde maio.

Com relação ao endividamento, Marcelo Ribeiro, diretor de relações com investidores da empresa, considerou as metas como desafiadoras, mas apontou contar com geração de caixa e iniciativas financeiras que a empresa vai entregar. A CSN informou  aos investidores que vai reduzir sua dívida líquida em cerca de R$ 10 bilhões, para R$ 23 bilhões, até o fim de 2021.

Cielo (CIEL3, R$ 4,94, -3,52%)

A empresa de meios de pagamento Cielo registrou no segundo trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 75,2 milhões, ante lucro de R$ 428,5 milhões entre abril e junho de 2019.

A receita líquida da empresa, na comparação anual, caiu 12,5%, para R$ 2,4 bilhões. O Ebitda somou R$ 236 milhões, redução de 69,7% ano a ano.

O resultado decorre dos efeitos econômicos da pandemia da Covid-19, embora a empresa venha de trimestres consecutivos de queda do lucro devido ao aumento da concorrência.

“Já são três trimestres seguidos em que a Cielo entrega resultados bem abaixo do esperado, dessa vez com forte prejuízo”, destaca a Levante, enquanto os analistas do Bradesco BBI apontaram o balanço como resultado de uma “tempestade perfeita”.

De acordo com o Morgan Stanley, os números da Cielo foram muito fracos, ainda que não surpreendentes dadas as circunstâncias extraordinárias com o Covid-19.

A XP Investimentos também apontou que os números foram negativos, com um prejuízo causado principalmente por: i) desalavancagem operacional, uma vez que o volume financeiro (TPV) despencou 22% na base anual para R$ 128 bilhões, enquanto os custos aumentaram 2% na comparação anual para R$ 1,1 bilhão; ii) menor resultado financeiro, 71% inferior ao mesmo período do ano anterior, para R$ 40 milhões, pressionado pelos menores volumes e a taxa de juros mais baixa da história; e iii) impostos, que chegaram a R$ 20 milhões, mesmo a empresa não reportando lucro antes dos impostos.

“No entanto, reiteramos nossa recomendação neutra e o preço-alvo de R$ 5,00, pois acreditamos que a deterioração esteja parcialmente precificada”, destaca o analista Marcel Campos.

O resultado da Cielo também foi considerado ruim pelo Bradesco BBI, que reduziu a estimativa de lucro para o ano em 44%, para R$ 336 milhões. Já o preço-alvo foi reduzido de R$ 5 para R$ 4,50, com a classificação sendo mantida em “neutra”.

A análise é de que os volumes vieram piores, mas o mix de receitas também esteve fraco pela maior participação de transações com débito, que possuem taxas de desconto inferiores. Também houve prejuízos crescentes nos Estados Unidos e perdas com chargebacks.

“Tudo somado criou a tempestade perfeita para a Cielo. As ações devem corrigir fortemente no curto prazo, refletindo o caminho longo e difícil ainda pela frente”, avaliaram os analistas.

Apesar das reduções das estimativas, os analistas avaliam que a empresa tem se esforçado para reduzir a participação nos clientes com menor rendimento (grandes varejistas) e menor participação das operações de pré-pagamento no resultado (queda de 21,2% para 15,3% em um ano).

“A redução na exposição a transações de pré-pagamento de menor rendimento permitiu à Cielo aumentar sabiamente sua posição de caixa e controlar seus indicadores de alavancagem”, avaliaram.

A empresa informou ainda que vai ajustar a sua estrutura de custos e capital para enfrentar um cenário de forte queda dos resultados. Em teleconferência, Paulo Caffarelli, presidente-executivo da companhia, deu mais detalhes sobre o plano. Ele afirmou que a Cielo prevê economizar cerca de R$ 450 milhões a mais do que estimava inicialmente para 2020.

Em relação a 2019, a expectativa é de que a despesa seja R$ 250 milhões menor – no período, a empresa teve despesa operacional de R$ 2,08 bilhões e gastos totais de R$ 9,42 bilhões. “Isso deve incluir revisão de contratos”, afirmou.

Caffarelli ainda disse esperar que o Banco Central autorize em breve a retomada da parceria da empresa com o WhatsApp para pagamentos.

Smiles (SMLS3, R$ 15,66, +1,75%)

O coronavírus impactou fortemente os resultados da Smiles no segundo trimestre de 2020. A receita de R$ 105 milhões foi 83% menor que a do mesmo período do ano passado e o Ebitda negativo em R$ 6 milhões veio abaixo da estimativa de R$ 63 milhões que tinha o Bradesco BBI e foi ainda pior que a mediana das projeções do mercado, em R$ 102 milhões.

Contudo, nem tudo foi ruim na visão de Victor Mizusaki e Gabriel Rezende, analistas do Bradesco BBI.

“A Smiles tem uma estrutura de custo eficiente e conseguiu reduzir as despesas com vendas, gerais e administrativas em 49% na comparação com o segundo trimestre de 2019 graças a menores gastos com descontos para transações com cartão de crédito, marketing e utilização de inteligência articial nos call centers”, explica.

Um dos fatores que impactou o resultado foram as menores receitas com breakage (quando o usuário acumula os pontos de fidelidade, mas não os resgata).

Já a margem direta de redenção de milhas caiu 4,6 pontos percentuais surpreendentemente, com menor redenção de bilhetes de voo, cancelamento de compras de viagens e melhora no mix com o Shopping Smiles, que possui maior margem de lucro.

“Esses números de julho sugerem uma taxa de recuperação mais acentuada no terceiro trimestre, que, combinada com a redução nos custos de passagens aéreas, pode resultar em maior crescimento do Ebitda e expansão da margem em os próximos trimestres”, conclui o Bradesco.

Minerva (BEEF3, R$ 14,09, -4,41%)

Segundo os analistas Victor Saragiotto e Felipe Vieira, do Credit Suisse, a Minerva reportou fortes resultados no segundo trimestre de 2020 com crescimento de 9,3% da receita líquida na comparação anual.

O Ebitda de R$ 590 milhões também animou a equipe de análise, mostrando um avanço de 62,2% em relação ao segundo trimestre de 2019. O número foi ainda 4,5% acima das projeções do banco suíço.

De acordo com o Credit, os resultados foram impulsionados principalmente pela depreciação de 20,4% sofrida pelo real no trimestre e pela sólida demanda por carne na Ásia.

Graças ao efeito cambial, os preços das exportações aumentaram 60,4% na base anual. Outro destaque é que a alavancagem caiu de 2,9 vezes para 2,6 vezes no múltiplo dívida líquida dividida pelo Ebitda ajustado na comparação trimestral.

Do lado dos custos, o preço do gado se manteve sob controle, o que combinado com o desempenho forte nas exportações levou a margem bruta a 23,2%. 

A parte negativa ficou por conta dos menores volumes na divisão Brasil e na Athena Foods.

Para os analistas do Credit, a Minerva deve continuar a se beneficiar de um cenário favorável para exportações de carne nos próximos trimestres devido ao grande déficit na oferta provocado pela epidemia de peste suína africana no ano passado.

Todavia, como o momentum para o gado brasileiro é menos favorável e 80% dos custos da empresa são relacionados à compra de gado, o Credit Suisse não espera qualquer alívio para os custos nos próximos trimestres.

Já a equipe de análise do Morgan Stanley, que previa um Ebitda 7% menor para a companhia no período, aponta que são pontos positivos a geração de fluxo de caixa livre e a menor alavancagem.

“Foi uma performance impressionante, particularmente se considerarmos a disseminação da pandemia e os lockdowns associados a ela”, resumem os analistas.

Por outro lado, os analistas do banco americano ressaltam que a receita decepcionou principalmente no mercado doméstico de carne bovina.

Vivo (VIVT4, R$ 50,60, -0,73%)

A Telefônica Brasil informou nesta quarta-feira que seu lucro líquido caiu 21,6%, a R$ 1,13 bilhão, no segundo trimestre sobre igual período de 2019.

Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente foi de R$ 4,103 bilhões, 3,8% abaixo na base anual.

De acordo com a Levante Ideias de Investimentos, o balanço foi mediano e dentro das expectativas. “O impacto do cenário pandêmico nos números foi bastante limitado, reforçando a resiliência da companhia e do setor de telecomunicações”, avalia.

Por outro lado, o destaque negativo ficou para queda de 5,1% na receita líquida trimestral, para R$ 10,3 bilhões, com o negócio fixo afetado pela redução em serviços de voz e TV por assinatura, enquanto o móvel sentiu o impacto da pandemia de Covid-19. As vendas de smartphones despencaram quase 41% com o fechamento das lojas por medidas de isolamento social, segundo o balanço.

A queda também pode ser explicada principalmente ao desempenho ruim da receita de serviços móveis, que representam cerca de 66% da receita total.

Por outro lado, o destaque positivo ficou com o controle sobre de custos e despesas da Vivo neste período, que apresentaram queda de 5,9% na comparação anual, esforços esses que geraram algum ganho de margem Ebitda, que fechou o trimestre em 39,8%, 0,6 ponto percentual a mais que no mesmo período do último ano.

“Além disso, os serviços de banda larga prestados por meio da tecnologia FTTH (fibra) também apresentaram um desempenho positivo e a sua receita avançou 48% na comparação anual e 13% na comparação com o trimestre anterior”, apontam os analistas.

Junto com seus resultados, a Vivo emitiu um fato relevante anunciando “a possibilidade de constituição de um veículo para construção e oferta de rede de fibra ótica neutra e independente para atacado”.

Por fim, ela também anunciou a abertura do programa de recompra de até 583.558 ações ordinárias e de 37.736.954 ações preferenciais, com data limite até 27 de janeiro de 2021.

Conforme destacam os analistas, o principal catalisador das ações da Vivo – assim como para o setor de telecomunicações em geral – segue sendo as tratativas para compra do segmento móvel da Oi, novela que deve ganhar novos capítulos em breve.

Em coletiva à imprensa nesta quarta-feira, o presidente da Telefônica Brasil, Christian Gebara, disse estar confiante com a proposta conjunta apresentada por Vivo, TIM e Claro no valor de R$ 16,5 bilhões para aquisição da rede móvel da Oi. Para que a negociação siga adiante, porém, o trio terá de aguardar até 3 de agosto, quando termina o acordo de exclusividade assinado pela Oi com a Highline do Brasil, empresa que também apresentou uma oferta pelas redes móveis da tele. Depois disso, o acordo entre ambas poderá ser prorrogado, ou a Oi poderá escolher ficar livre para negociar com outras proponentes.

“Estamos confiantes com a proposta que fizemos”, disse ele. Gebara disse ainda que Vivo, TIM e Claro estão bem posicionadas para obter sinergias entre os seus negócios e os clientes, canais de venda e infraestrutura de rede móvel da Oi. Além disso, ele defendeu eu a Vivo tem um balanço consistente, endividamento baixo e boa capacidade de financiamento para fazer frente aos desembolsos.

A carreira que mais forma milionários: conheça o primeiro MBA do Brasil totalmente dedicado ao mercado de ações

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.