Tempestade ou furacão? Para Roubini, estamos na “tempestade ‘miniperfeita'”

Para o economista, o respiro das economias emergentes visto nos últimos dias não representa o fim da crise dos países em desenvolvimento

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As projeções de outubro do ano passado feitas pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, que disse que o Brasil poderia entrar em uma “tempestade perfeita” (um mix de corte do rating brasileiro, deterioração nas contas públicas e retiradas de estímulos nos EUA), continua ecoando nos mercados. Hoje, não são poucos os economistas que acreditam que o buraco é mais embaixo e que apenas o termo “tempestade” não basta para traduzir o momento de forte instabilidade em que vivemos.

O famoso economista Nouriel Roubini, conhecido como “Dr. Doom” pelas suas projeções bastante pessimistas, é um dos que criou uma variável ao termo, afirmando em entrevista ao portal norte-americano Market Watch que os emergentes estão em uma “tempestade miniperfeita”. O economista ressalta que, embora as medidas recentemente anunciadas por alguns emergentes – como a elevação de juros na Turquia, Índia e África do Sul, bem como a intervenção cambial na Rússia – tenham trazido certo alívio aos mercados, isso não é suficiente para conter a saída de investimentos estrangeiros e a consequente alta do dólar.

“Eu vejo – levando em consideração os riscos macroeconômicos, políticos, o crescimento baixo e a inflação em elevação – futuro downside para muitos dos emergentes frágeis”, afirmou o economista. Roubini também destacou que os apertos econômicos, como os que ocorreram na Turquia – onde o Banco Central teve a decisão repentina de elevar a taxa de juros “overnight” em cerca de 4 pontos percentuais – e outros países vai frear a desvalorização das divisas ante o dólar, “mas a questão é por quanto tempo eles podem manter as altas taxas de juros, quando o crescimento está diminuindo e as eleições chegando”.

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Para o economista, a situação do Brasil também é bastante delicada. O país, juntamente com Turquia, África do Sul, Índia e Indonésia, faz parte do “Fragile Five”, lista dos 5 emergentes com status econômico – sobretudo cambial – mais preocupante. Em comum, além da sobrevalorização do dólar em relação a suas moedas nacionais, todos esses países também apresentam problemas fiscais, déficits em conta-corrente, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) reduzido, inflação em elevação e aproximação de período eleitoral, momento que costuma gerar turbulências políticas.

O excesso de confiança no sucesso dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a falta de prudência em estimar os riscos podem ter sido, segundo Dr. Apocalipse – ou Dr. Realidade, como prefere ser chamado – os principais fatores que deram início à crise dos mercados emergentes.

“A lição que você aprende mesmo com a pequena Argentina, que tem um movimento afiado no câmbio em um período em que os dados da China arrefeceram, além do risco político vindo de Turquia, Tailândia, Ucrânia, é que há uma tempestade ‘miniperfeita’. De repente, não apenas as moedas dos mercados emergentes, renda fixa ou ações estão sob pressão, mas o contágio já alcançou também os mercados acionários de Europa e Estados Unidos”, encerrou o apocalíptico Roubini.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.