“Temor do desastre é um incentivo poderoso”, diz economista do BTG sobre ajuste fiscal

Para Eduardo Loyo, Brasil precisa "girar a chavinha" entre fiscal e monetário

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – “Militei entre aqueles que queriam manter os juros altos. Não é por prazer ou sadismo, é que não tínhamos condições de baixar os juros”. Porém, este economista pode ter mudado de lado. 

Antes um cético sobre a política monetária frouxa, o economista-chefe do BTG Pactual Eduardo Loyo avalia que esta pode ser a hora de cortar a taxa de juros no Brasil. 

Durante o evento “Reinventando o Brasil – agenda de mudanças para o país”, realizado nesta terça-feira (27) na sede do BTG Pactual, em São Paulo, Loyo apontou que o Brasil tem uma grande chance de “virar a chavinha” da sua política econômica. 

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“Se estamos diante da chance de fazer um ajuste fiscal duradouro, e se esse ajuste fiscal tiver um efeito contracionista, nada mais justo do que termos uma política monetária mais frouxa. Seria a relação oposta ao passado não muito distante, de política monetária apertada pra compensar uma política fiscal mais frouxa”, avalia ele.

Ele aponta ainda que “o temor do desastre [fiscal]” é um incentivo poderoso para a realização do ajuste nas contas públicas. “Não implementar o ajuste fiscal pode ser desastroso – e será. Isso acaba sendo um bônus pra quem quer ver o Brasil se ajustar”, avalia o economista.

Para o economista, o País tem um problema fiscal crônico, que nunca foi endereçado adequadamente, que o crescimento incessante da carga tributária. “Contudo, sempre tivemos a felicidade de viver um problema fiscal crônico mas não agudo. Hoje, contudo, ele é agudo, o que traz uma menção de urgência”, avalia o economista.

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Loyo ressalta que o ajuste fiscal é sempre desagradável, uma vez que é sempre uma notícia ruim para a população, tanto pela menor perspectiva de receita quanto pela maior perspectiva de pagar impostos. Além disso, há a percepção que a economia encolhe durante o ajuste, elemento este intensificado popularmente por vários países da Europa, que tiveram que fazer um ajuste duro dada a “agudização” dos problemas fiscais.

Esses programas até ganharam a conotação de austericídio, pois as receitas caem ainda mais e a economia cai em um espiral de encolhimento”, avalia ele. Contudo, aponta, os europeus sofreram mais com isso pois não tinham nenhum espaço de flexibilização nem autonomia de política monetária, espaço este que o Brasil tem. 

Otimismo cauteloso
Loyo se mostrou relativamente otimista com as perspectivas de aprovação de reformas e do ajuste fiscal. “Só o fato de o governo estar avançando em outras agendas mostra que eles não estão preocupados com o risco de dispersar capital político”.

Ele ressaltou, no entanto, que o prazo do governo Michel Temer é curto e que, possivelmente, os frutos positivos desses projetos só serão colhidos depois. “Eles vão enfrentar os custos mais imediatos do ajuste, mas sem tanto tempo para conseguir aproveitar os frutos”, avaliou.

Loyo disse que os agentes políticos precisarão se esforçar para “perenizar” a atual agenda econômica, já que não será possível “passar a limpo” o País até 2018. “Ainda vai ter muita coisa para fazer e a questão sobre o que o Brasil vai escolher para o seu futuro vai continuar em aberto em 2018”.

Ao falar sobre os programas sociais do governo, Loyo apontou que o Bolsa Família, dentre outros, precisam passar por uma reavaliação. “Não acho que o Bolsa-Família seja o caso mais patológico. Tem muito mais gastos com o dinheiro público que fazemos sem ter um grande motivo. Bolsa-Família é menos ‘vaca sagrada’ e mais questão de avaliar se ela é eficaz sobre o seu objetivo”, aponta ele. 

(Com Agência Estado) 

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers