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Temor com recessão ou ânimo com menor alta de juros: o que deve prevalecer em Wall Street?

De um lado, investidores monitoram dados piores e reacendem temor de recessão; por outro, veem fim do ciclo de alta de juros do Fed mais próximo

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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Na última quarta-feira (18), os ativos de risco norte-americanos se portaram de uma maneira não vista há algum tempo: após as vendas do varejo do país virem com queda maior do que as projeções em dezembro, os principais índices do país fecharam com fortes baixas.

Se esse seria um movimento lógico normalmente – afinal se as vendas estão fracas, o lucro das companhias será menor -, ele não foi consenso nos últimos meses.

Com a inflação nos Estados Unidos em patamares altos, publicações que trouxessem vendas fracas, ou qualquer outros dados macroeconômicos que sugerissem uma economia em desaquecimento, resultavam em queda na curva de juros e, decorrentemente, em alta das ações.

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A perspectiva de que o Federal Reserve não precisaria ser muito agressivo para frear o avanço dos preços, atuando de forma menos restritiva em suas políticas monetárias, impactava as perspectivas futuras das companhias.

Juros mais baixos implicam em mais vendas e em menores gastos financeiros no porvir, o que tende a melhorar o desempenho das companhias e levar a uma valorização das ações. Como boa parte do valor das empresas está atrelada às projeções futuras, uma economia mais aquecida e uma perspectiva de juros mais altos por mais tempo acabam por impactar o preço dos ativos nas Bolsas de valores.

Temor de recessão ganha força

Contudo, essa dinâmica pareceu ter mudado e investidores estavam repercutindo negativamente dados macroeconômicos que trazem sinalizações de atividade mais fraca. Após as vendas no varejo, a divulgação do produto (PIB) americano do terceiro trimestre, na quinta, deve ficar em evidência nesta semana. Contudo, nos pregões seguintes, a expectativa de juros menores voltou a repercutir positivamente no mercado, o que gerou questões sobre o que deve predominar nos mercados americanos.

“2022 foi um ano marcado pelos temores de uma inflação alta e duradoura. Agora que o pico da alta dos preços parece ter ficado para trás, ao que tudo indica, a preocupação irá se voltar para a atividade econômica”, explica Rafael Nobre, analista internacional da XP Investimentos. “Qual será o crescimento da maior economia do mundo? Teremos recessão? Se sim, qual será a magnitude?”, indaga.

Já há algum tempo alguns dados macroeconômicos têm indicado que as altas de juros impostas pelo Federal Reserve impactaram a atividade econômica americana. Além dos dados do comércio, o índice de preços ao consumidor  (CPI, na sigla em inglês), por exemplo, recuou 0,1% no mesmo mês, aquém do consenso, que trazia projeção de estabilidade,

“Já temos, então, uma perspectiva de que a atividade está desacelerando nos Estados Unidos. Se a inflação continuar em tendência de queda, pode ser que o mercado passe a olhar os indicadores de dados econômicos para tentar medir qual o dano já feito pelo aperto monetário”, diz o especialista da XP.

Ele relembra que, atualmente, o setor terciário, que engloba serviços e consumo (e, portanto, o varejo), é responsável por mais de 70% do produto interno bruto (PIB) e que economistas já veem uma probabilidade média de 65% do país enfrentar uma recessão neste ano.

Bolsas americanas na corda bamba 

Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus, vai no mesmo sentido.

“A economia americana passa por um dilema. A economia precisa desacelerar para a inflação desacelerar e o Federal Reserve está buscando isso. Agora, investidores irão olhar mais para o curto prazo, com resultados de empresas, ou mais para o médio e longo prazo?”, debate o especialista da casa de research.

De acordo com ele, o mercado voltou a reagir negativamente às sinalizações de que a economia americana irá desacelerar de forma muito rápida, o que implicaria em uma recessão e em queda dos faturamentos  – mas também pode reagir mal no caso de a atividade econômica mostrar sinais de resiliência.

“O mercado de Bolsa antecipou que o Federal Reserve ‘ganhou o jogo’ e já colocou isso no preço. Qualquer notícia ruim é motivo para uma realização”, explica Levy. “Dados de inflação mais baixos, bem como os ligados à atividade econômica, são bons para o longo prazo. O problema são surpresas muito piores do que o esperado, com atividade mais baixa do que as projeções”.

O que será necessário para que as ações não sofram com nenhum dos dois cenários será o muito comentado “pouso suave”: a economia não pode continuar tão aquecida, a ponto de que a inflação continue a ser um problema, nem desacelerar muito, resultando em uma recessão muito forte.

“Há a preocupação, de agentes econômicos, de que o Fed está mantendo juros altos por muito mais tempo do que o necessário”, defende Guilherme Zanin, analista da Avenue. “Do outro lado, as vendas no varejo negativas impactam o mercado. Agentes esperam alguns trimestres difíceis e nós entendemos que teremos uma desaceleração”.

De qualquer forma, alguns especialistas veem que a economia americana terá dificuldades para avançar nessa linha tênue que não levará a uma recessão nem para voltar nem para a inflação.

Nesta segunda e na última sexta, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq avançaram após diretores do Fed mencionarem que as próximas altas serão em menor escala, de 25 pontos-base. Ao mesmo tempo, porém, a vice-presidente da instituição, um dia antes, defendeu que a inflação no país ainda está em patamares muito elevados, em uma espécie “morde e assopra”.

“A bolsa americana segue cara ao olharmos para o prêmio de risco e para o preço sobre lucro. E está cara olhando tanto a percepção altista de taxa de juros quanto a perspectiva de queda de lucros no caso de os Estados Unidos entrarem em recessão. É uma combinação pouco atrativa”, contextualiza Nobre, da XP. “O que venho recomendando, nos portfólios, é o deslocamento um pouco mais para ativos de renda fixa”, completa Levy, da Empiricus.

Utilizando a metáfora do pouso suave, o mercado acionário americano parece estar em uma aterrissagem um tanto delicada. Vale, de qualquer forma, apertar os cintos.