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SÃO PAULO – Se é certo que comparações entre períodos de crise podem ajudar a avaliar as opções mais e menos acertadas, o modelo que deveria ser seguido pela administração dos Estados Unidos pode não ser um mistério tão grande. Enquanto as semelhanças entre a crise norte-americana e aquela do Japão são destacadas e analisadas pela maioria, há outro país que deve ser lembrado: a Suécia.
No início dos anos 1990, a região passou por uma situação parecida com a atual. Foram dois anos consecutivos de contração devido ao colapso de uma bolha imobiliária inflada por crédito barato. A taxa de desemprego quadruplicou em três anos, os preços das casas caíram em 25% até 1995, os empréstimos inadimplentes chegaram a 11% em 1993 e a coroa sueca desvalorizou 30%.
A situação não apenas prejudicou a economia, com as perdas agregadas dos empréstimos dos sete maiores bancos atingindo um equivalente a 12% do PIB (Produto Interno Bruto) anual do país, como também deixou todo o setor bancário insolvente. Mas o exemplo deve ser tomado não somente devido às semelhanças existentes. Ao contrário do Japão – e atualmente dos EUA -, as medidas adotadas pelo governo sueco são ressaltadas por seu sucesso.
Análise de Ações com Warren Buffett
Aprendendo com a Suécia
“Então, o que a Suécia fez? Se as opções atualmente consideradas nos EUA são: a) uma recapitalização adicional, b) um banco agregador que compre ativos podres, e c) nacionalização, a solução sueca incluiu as três opções”, explica o economista Simon Johnson, em seu blog The Baseline Scenario.
| A estratégia sueca | |
| Recapitalização – O primeiro passo governo da Suécia foi assegurar todos os credores dos bancos, sem limites máximos, fazendo com que os investidores continuassem a financiar as instituições. A ideia, entretanto, não funcionaria sozinha, já que, mesmo com crédito, os bancos continuariam insolventes e poderiam congelar suas operações de empréstimo.
Assim, o governo optou também pela recapitalização das instituições, tendo como condição inicial que seus auditores revisassem as folhas de balanço dos bancos envolvidos. O objetivo era reportar todas as baixas contábeis necessárias, de forma a mostrar a verdadeira situação. Nacionalização – A operação mostrou a insolvência de dois grandes bancos suecos, Nordbanken e Gota, que foram nacionalizados e integrados. Essa medida levou o Estado a deter o controle de mais de 20% dos ativos do sistema financeiro sueco.
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Segundo ele, normalmente o caso da Suécia é utilizado como argumento a favor da nacionalização. Porém, para Johnson, a maior lição não é a nacionalização em si. O que importa é a precificação dos ativos. O governo sueco obrigou os bancos que seriam ajudados a reportar todas as baixas contábeis de uma única vez e então vender os ativos podres para os bad banks por um preço realista.
Por trás das medidas adotadas no país está a estratégia de livrar as instituições financeiras dos títulos ilíquidos que pesam sobre suas folhas de balanço e recapitalizá-las para que elas operem de forma saudável. E isso tudo sem recompensar os acionistas e executivos dos bancos.
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“Como nós dissemos há muito tempo, o Tarp teria sido uma boa idéia se pagasse o preço justo pelos ativos e combinasse isso com a recapitalização para preencher os buracos dos resultados dos bancos. O mesmo vale para um banco agregador. O problema seria deixar os bancos decidirem quais ativos eles querem vender e então deixá-los descarregar esses ativos no banco agregador a preços inflados. Isso não resolve nada”, argumenta Johnson, se referindo ao caminho que tem sido tomado pela administração norte-americana.
Sem final feliz
Embora descrita como um caso de sucesso, a situação da Suécia foi sucedida de reformas muito maiores do que os três passos tomados para salvar o sistema financeiro. O governo do país reformulou todo o modelo social, com contínuas alterações durante a década de 1990. O custo da crise não foi limitado somente ao capital utilizado pelos bad banks.
Ademais, conforme concluído pelo Federal Reserve de Cleveland, a crise causou um declínio permanente na produção que pode explicar a queda na renda relativa da Suécia. Assim como no país, não se pode pensar em um final fácil para os EUA. “Mesmo crises financeiras bem administradas não têm realmente um final feliz”.