Startup Zoom já vale o mesmo que as sete maiores companhias aéreas do mundo juntas

São três fatores que pesam a favor da companhia no atual cenário, mas preço das ações pode estar exageradamente inflado

Anderson Figo

(Photo by Smith Collection/Gado/Getty Images)

SÃO PAULO — Num mundo que migrou do dia para noite do presencial para o virtual, a startup Zoom, que oferece chamadas de vídeo pela internet, parece ter tirado a sorte grande. Suas ações já subiram 160% em 2020, indo de US$ 68 para perto de US$ 175 em menos de cinco meses.

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Com isso, o valor de mercado da empresa (preço de cada ação multiplicado pela quantidade de papéis) está atualmente em cerca de US$ 49 bilhões. E já esteve maior nas últimas semanas.

A cifra representa quase tudo o que valem, juntas, as sete maiores companhias aéreas do mundo: Southwest (US$ 16,3 bilhões), Delta (US$ 13,9 bilhões), United (US$ 6,9 bilhões), American Airlines (US$ 4,1 bilhões), IAG (US$ 4 bilhões), Lufthansa (US$ 3,8 bilhões) e AirFrance KLM (US$ 1,6 bilhão) — ao todo, US$ 50,6 bilhões.

Vale ressaltar que as companhias aéreas sempre foram empresas muito lucrativas, mas que foram fortemente prejudicadas pela crise do coronavírus, que reduziu drasticamente a circulação global de pessoas e, consequentemente, o número de voos, o que derrubou os preços das ações do setor.

Um artigo recentemente publicado pelo site The Motley Fool aponta que em breve o Zoom pode passar a integrar o índice americano S&P 500, com as 500 maiores empresas listadas na Bolsa de Nova York.

Se isso acontecer, os investidores de fundos que acompanham o índice vão ter que comprar os papéis da empresa, o que pode dar um novo impulso para as cotações.

Para o colunista Nigam Arora, do site MarketWatch, o smart money, ou aquele dinheiro que é aplicado em oportunidades durante uma crise como a atual, está por trás do bom desempenho do Zoom em 2020.

Ele alerta que o preço das ações da startup pode despencar no pós-pandemia, quando uma vacina para o coronavírus for aplicada na população mundial, que vai gradativamente retomar as relações presenciais, com menos necessidade de conferências online em vídeo.

Em entrevista ao InfoMoney, o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves, destacou que o Zoom possui, sim, pontos positivos que corroboram com o bom desempenho do papel em 2020. Mas ele citou que o valor de mercado atual é exagerado em relação ao que a empresa entrega.

Bons resultados

Segundo Alves, a empresa de fato vem entregando bons números. A receita saltou 10 vezes em três anos. Saiu de US$ 60 milhões em 2017 para US$ 622 milhões nos últimos 12 meses.

O momento atual, disse, acelerou o crescimento e as perspectivas de crescimento. “Tem um pouco de realidade e um pouco do que o mercado embute de expectativa.”

“Quando a gente olha o lucro, ele também mostrou evolução, diferentemente de algumas startups que não são lucrativas. A maioria das startups quanto mais crescem, mais dão prejuízo”, afirmou o estrategista.

O Zoom se mostrou ser diferente. Saiu de um prejuízo em 2017 e 2018, e alcançou primeiro lucro em 2019. Nos últimos 12 meses, entregou ganho líquido de US$ 25 milhões.

“O Zoom surgiu como uma solução num momento em que o mundo precisava de uma solução”, disse. “Além disso, muita gente acredita que eles possam ser alvo de aquisição de algum gigante de tecnologia, como Google ou Facebook.”

O que sustentaria essa possível investida de outra companhia no Zoom são os bons números: a empresa tem caixa líquido, alcançou no final de abril 300 milhões de usuários diários e já é lucrativa. “Tem muita gente que acaba colocando no preço essa possível aquisição”, afirmou Alves.

Exagero?

Diante da disparada das ações do Zoom, não tem como não enxergar com cautela seu valuation. Alves destacou que a empresa é negociada a uma relação de preço/lucro de 1.800 vezes. “Ou seja, não faz nenhum sentido”, disse.

“A empresa vale US$ 49 bilhões na Bolsa americana e entregou US$ 25 milhões de lucro. É surreal. O mercado projeta para 2020 um lucro de US$ 120 milhões, o que já é um crescimento absurdo em relação aos US$ 25 milhões entregues nos últimos 12 meses.”

Para ele, não é impossível que o Zoom alcance esse crescimento, mas é bem difícil. “No primeiro trimestre deste ano, o lucro foi de US$ 14 milhões, então ela teria que acelerar bastante nos próximos trimestres. Dobrar esse valor no próximo e manter isso.”

Ainda assim, é preciso considerar que, mesmo que o Zoom entregue todo esse crescimento esperado, ele estaria sendo negociado em Bolsa a 400 vezes seu lucro.

“Então, esse valuation atual embute uma montanha de crescimento que até pode acontecer de fato, mas quando a gente olha para uma empresa em um horizonte de cinco anos e não de um ano. Ou então o mercado está exagerando, o que também é bastante comum”, afirmou o estrategista-chefe da Avenue.

Segurança é ponto de atenção

Outro ponto negativo para o Zoom é a questão da segurança. A empresa enfrentou alguns problemas nessa área nos últimos meses, com falhas que inclusive ajudaram a manchar um pouco a imagem da companhia.

Alguns países, como Alemanha, Austrália e Taiwan, pediram às agências de seus governos para pararem de usar Zoom. O Google e a SpaceX também falaram para seus funcionários pararem de usar o Zoom.

“Obviamente que essa lista poderia continuar aumentando se eles não conseguirem arrumar essas falhas. Tem uma série de problemas, como roteamento através de um servidor chinês, falha em bloquear ataques a videoconferência, golpes de phishing etc”, disse Alves.

Segundo o estrategista-chefe da Avenue, a empresa está tentando resolver as falhas de segurança. Para isso, contratou dezenas de consultores em segurança e está usando serviços de segurança cibernética de CrowdStrike.

Ela também aprimorou sua infraestrutura, fez acordo com a Oracle e anunciou uma aquisição recentemente da Keybase, que é um serviço de compartilhamento de mensagens. Na visão de Alves, isso tudo deve ajudar o Zoom em seu plano de incorporar a criptografia de ponta a ponta em sua plataforma de vídeo.

“Obviamente que, enquanto isso, a segurança segue sendo um risco, especialmente quando a gente pensa em um horizonte de cinco anos e quando a gente pensa em termos do que eu estou pagando pelo o que eu estou levando em termos de lucratividade”, concluiu.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.