Spreads bancários europeus mostram tendência de elevação no longo prazo

Deutsche Bank avalia que liquidez no curto prazo, financiamentos de longo prazo e capitalização dos bancos são os principais riscos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Dada a conjuntura atual da Europa, pontuada por três problemas principais – capital, financiamento e liquidez – os spreads (diferença entre o preço de compra e venda de uma ação, papel ou título) de títulos públicos podem continuar elevados no curto e longo prazo, a não ser que haja uma resolução das autoridades para resolver o problema de financiamento dos bancos, diz o Deutsche Bank. Os spreads bancários dobraram desde o início de maio e estão “lentamente chegando a níveis impraticáveis”.

“Dadas as necessidades de refinanciamento para o último trimestre de 2011, de aproximadamente € 183 bilhões, e para os próximos 3 anos, de € 1,5 trilhões até 2013, nós esperamos que o financiamento a longo prazo continue pressionado”, afirmam os estrategistas Nick Burns e Jim Reid em relatório. O risco principal é a desalavancagem dos bancos.

O Deutsche considera que, neste momento, continuará em foco a habilidade de expansão dos bancos europeus, dada sua exposição aos países periféricos. “Acreditamos que a possibilidade de um onda de recapitalização é grande em caso de um evento estatal”, diz o estrategista Mahesh Bhimalingam em relatório.

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Financiamentos de longo prazo
A principal preocupação é a quantidade de financiamento de longo prazo necessária para que os bancos possam intervir no mercado no curto prazo. “Nós vemos um total de resgates de € 1,5 trilhões para 2013 e € 2,5 trilhões para 2015. Mais relevantes são os resgates de curto prazo ao longo do ano”, afirma o banco.

Olhando a quantidade anual de empréstimos por bancos europeus, há uma queda nos níveis de concessão. Os empréstimos cairam significantemente desde o começo da crise de crédito, se recuperaram entre a metade de 2010 e o segundo trimestre de 2011, e entraram em uma linha de estabilidade no terceiro trimestre.

A equipe de análise está preocupada com o caso da tendência estabilizar-se onde está, já que os bancos continuarão pressionados em relação aos fundos. Além disso, se a volatilidade permanecer, tende a acontecer uma queda significativa nos níveis de empréstimo.

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Liquidez
Sendo o fundo de financiamento de longo prazo desafiador para os bancos, as instituições poderiam estar optando por financiamentos de curto prazo para continuar com as operações. Se o financiamento de curto prazo também não estiver facilmente disponível, existe o perigo de que se evolua para uma outra crise bancária.

A liquidez em dólar continua sendo um desafio para alguns bancos (especialmente os franceses), com exposições soberanas e o BCE (Banco Central Europeu) tendo de intervir para oferecer linhas de financiamento em dólar em conjunto com Federal Reserve. Ao mesmo tempo, os EUA vêm diminuindo os empréstimos aos bancos europeus e os próprias instituições financeiras europeias não têm sido grandes financiadoras mútuas.

Capitalização
A capitalização é fortemente controlada por reguladores, mas a crise recente em bolsa e a redução do dinheiro disponível no mercado corroeu a capacidade dos bancos para resistir às perdas reais. Restam ainda outros pequenos riscos, como consumidores insatisfeitos, deterioração da qualidade da carteira de ativos, provisões e perdas, além da pressão das autoridades para a recapitalização.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.