Sob o olhar do BC, dólar consolida piso de R$ 2,00 e analistas traçam estimativas

Front europeu negativo e estímulo às exportações guiam ação do Governo; especialistas divergem sobre cotação para o fim do ano

Graziele Oliveira

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SÃO PALO – Na última terça-feira (15) o dólar comercial assumiu novos patamares de cotação chegando aos R$ 2,00 rapidamente. Deste modo, os investidores se perguntam se estamos diante de um novo piso para a divisa norte-americana. “Temos uma novo piso, pois o antigo teto foi alcançado facilmente. A postura do Governo, sentado e observando, já indica que estabeleceu-se um novo piso”, disse Geraldo Alves, gerente de operações da Fitta DTVM.

Segundo ele, o cenário externo ruim se mantém, com o estresse grego no foco dos investidores. A notícia mais recente de Atenas, é de que, na véspera, o BCE (Banco Central Europeu) divulgou que interrompeu as operações com instituições financeiras da Grécia até que estas estejam recapitalizadas.

No front interno, a atuação do Governo colocando o câmbio como o grande vilão do setor produtivo intensificou o estabelecimento de um novo padrão para a moeda, intensificando ainda mais outros fatores que intensificam na valorização da moeda, como a queda nos preços das commodities, e os seguidos cortes na taxa Selic.

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“De qualquer forma, pode-se verificar que a depreciação do real neste período tem sido muito maior que a observada em outras moedas similares ante o dólar, ou seja, a influência política sobre o câmbio tem provocado uma desvalorização maior do que o estresse externo e o ajuste das commodities poderiam sinalizar”, lembra Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.

Quando o BC pode voltar a atuar?
Neste sentido, Alves diz que a expectativa do mercado é de que com o dólar cotado entre R$ 2,04 e R$ 2,07 o BC poderá retomar as intervenções no mercado cambial para impedir mais altas. “A entrada de dólares dos exportadores trará valores de fora para dentro, o que gera outras movimentações [desvalorização cambial]. Isso começa a definir os patamares de acordo com expectativas de liquidez”, explica o gerente de operações da Fitta DTVM.

Na mesma linha está Campos Neto, que traz as preocupações com a inflação como pano de fundo para o movimento da divisa. “A principal restrição para tal política ainda é o teto da banda da inflação, de 6,5%, mas tal fator dificilmente causará constrangimento em 2012. Ainda assim, a interrupção das compras de dólares pela autoridade monetária deve ser vista como sinalização de que o patamar tido como ideal pelo governo não está distante”, diz.

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O céu é o limite?
No entanto, os especialistas dizem que a moeda não deverá subir indefinidamente, mas espera-se que o Governo siga com sua política de estímulo à indústria via desvalorização.

“A importação brasileira está sendo combatida com o incentivo da exportação. O cenário relevante na nossa economia interna é a nossa valorização e a nossa disputa no mercado externo, o que acontece com patamares [de dólar] de R$ 1,97 a R$ 1,99. É um dólar bom para se negociar”, explica Alves, que projeta dólar entre R$ 2,03 e R$ 2,04 para o final de 2012.