Sob a sombra da BM&F Bovespa, demais bolsas do Brasil são esquecidas

Embora muitos ignorem, há mais de 25 bolsas espalhadas pelo Brasil; porém, apenas em São Paulo é possível negociar ações

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Sendo a única bolsa no Brasil a realizar atividades de negociação de ações a partir da integração das bolsas de valores brasileiras a partir de 2000, a BM&F Bovespa já é velha conhecida dos investidores – até mesmo dos mais leigos. 

O que pode passar despercebido, no entanto, é que existem diversas outras bolsas no Brasil, algumas com mais de um século de existência. É o caso, por exemplo, da Bolsa de Valores da Bahia, cujo embrião foi a aprovação do regimento dos corretores e a criação da Junta dos Corretores, em 27 de julho de 1851. 

“A casa foi criada nos mesmos moldes da Bolsa do Rio de Janeiro”, informa a instituição. Atualmente, após a fusão com as bolsas de estados vizinhos, a instituição passou a se chamar Bolsa de Valores Bahia Sergipe Alagoas. A própria bolsa fluminense, que muitos acreditam extinta, ainda existe. 

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As bolsas da Bolsa
De longe a mais importante bolsa do Brasil, a BM&F Bovespa também possui em suas mãos outras instituições atuantes no mercado. Além da BVRJ (Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), também faz parte de suas posses a Bolsa Brasileira de Mercadorias. 

BVRJ
Primeira bolsa a ser fundada no Brasil, a BVRJ foi o maior mercado brasileiro até sua quebra, em 1989. Foi nessa época que a liquidez foi transferida mais rapidamente para a bolsa paulista, culminando com a integração das bolsas em 2000. Ainda assim, a instituição não perdeu completamente sua importância, conforme explica a BM&F Bovespa: 

“praticamente todos os grandes momentos econômicos do país transitaram pela Bolsa do Rio, desde o Encilhamento – primeira grande febre especulativa (…) – até os leilões de privatização das grandes empresas estatais que marcaram a guinada da economia brasileira em direção à retirada de grandes setores do controle do Estado, isto a partir da adoção do Programa Nacional de Desestatização, em 1991”. 

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Deixando os áureos tempos em que seu IBV (Índice da Bolsa de Valores) serviu de exemplo para o desenvolvimento da metodologia do Ibovespa e as polêmicas de privatizações de empresas como Usiminas, CSN e Vale, os títulos patrimoniais da BVRJ e os direitos de administração foram adquiridos pela BM&F em 2002. Dessa forma, a bolsa parou de atuar e seu espaço é utilizado de forma pontual. 

BBM
Outra empresa que faz parte da BM&F Bovespa é a Bolsa Brasileira de Mercadorias, na qual a instituição detém uma participação de 50,12% – ou 203 títulos patrimoniais. Os outros 202 títulos pertencem a corretoras. 

“Concebida para ser a bolsa do agronegócio brasileiro”, como ela mesma descreve, a BBM tem como objetivo “desenvolver e prover o funcionamento de sistemas para negociação de mercadorias, bens, serviços e títulos, nas modalidades a vista, a prazo e a termo, viabilizando a formação de grande mercado nacional para commodities agropecuárias”. 

Com centros na maioria das regiões brasileiras, a BBM atua na negociação de produtos e títulos agropecuários, como CDA (Certificado de Depósito Agropecuário), WA (Warrant Agropecuário), CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), através de leilões contratados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e pelo Banco do Brasil. 

Remanescentes
Após a integração dos mercados até hoje, foram poucas as bolsas regionais que sobreviveram. Além da BVRJ e da BVBSA (Bolsa de Valores Bahia Sergipe Alagoas), a Bovmesb (Bolsa de Valores Minas – Espírito Santo – Brasília) mantém suas operações, englobando também os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. 

Contudo, o papel dessas instituições tornou-se apenas secundário após a fusão operacional e a concentração das negociações dos valores mobiliários na BM&F Bovespa. “Com essa reestruturação, as bolsas regionais passaram a dar ênfase às atividades de difusão do mercado e prestação de serviços a investidores e empresas de sua jurisdição, bem como informações sobre o mercado acionário à imprensa e ao público em geral”, explica a BVBSA. 

Nova bolsa?
Em meados de 2009, houve rumores sobre a possibilidade de entrada de uma concorrente à BM&F Bovespa no mercado nacional ainda em 2010, o que poderia revitalizar o mercado de negociação de ações do País, concentrado na bolsa paulista desde 2000. 

Em resposta às especulações, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) esclareceu que “pela regulamentação atual, já se pode analisar a instalação de novas bolsas para concorrer com a bolsa existente, ou ainda, outros mercados de balcão para concorrer com os existentes”. 

Bolsas de mercadorias: ainda relevantes
Se a situação das bolsas de valores que ainda existem no Brasil mingua visivelmente desde a integração do mercado, o mesmo não pode ser dito das bolsas de mercadorias, onde são negociados títulos agropecuários e realizados leilões de commodities agrícolas da Conab e do Banco do Brasil. 

Ao todo, são dezenas de Bolsas de Cereais e Mercadorias regionais, que permaneceram em atividade mesmo com o crescimento da BM&F e as consecutivas aquisições de players regionais promovidas pela instituição. Ou, como colocado pela Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina: “o sistema de Bolsas de Mercadorias do Brasil é composto de 25 Bolsas cobrindo todo o território nacional, interligadas pelos sistemas de leilão”. 

Para citar algumas das mais conhecidas, além da bolsa de Londrina, há a Bolsa de Cereais e Mercadorias de Maringá, São Paulo, Mato Grosso e Brasília. Também entram na categoria a Bolsa de Hortifrutigranjeiros, Cereais e Produtos Agropecuários de Pernambuco e a Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro. 

Nesses mercados, os leilões da Conab e do Banco do Brasil são os principais eventos, abrangendo não apenas a venda de estoque regulador do Governo Federal, como também contratos de opção, contratação de frete, trocas simultâneas e até mesmo a compra e venda de álcool para a Petrobras.