Smart Fit: depois do IPO, como a rede de academias encara alto desemprego, renda menor e variantes

Apostando na diversificação geográfica como estratégia, grupo de academias se prepara para retomada que será completada apenas em 2022

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – A Smart Fit (SMFT3) fez pesquisas internas que mostraram uma intenção de volta às academias. Mesmo assim, a maior rede de estabelecimentos do tipo no país está de olho em riscos como variantes do novo coronavírus, alto nível de desemprego e queda na renda do brasileiro.

Apostando na diversificação geográfica como estratégia, o grupo se prepara para uma retomada às academias na América Latina – que deve ser concretizada apenas em 2022.

O InfoMoney conversou com Edgard Corona, fundador e CEO do negócio, sobre o caminho até a oferta pública inicial de ações; o impacto da pandemia nos negócios; e planos após o IPO.

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O caminho até o IPO

Ao todo, o grupo de academias acumula 2,8 milhões de clientes ativos em frentes presenciais e digitais. A primeira academia da Smart Fit foi aberta em 2009. Hoje, a marca acumula 981 unidades em 13 países da América Latina. O grupo é mais conhecido pelas academias de baixo custo, mas também conta com outras bandeiras. A primeira delas foi a rede de academias premium Bio Ritmo, fundada em 1996. Outro exemplo é a plataforma de streaming de atividades físicas Queima Diária, fundada em 2016.

O grupo de academias estreou no mercado acionário há pouco mais de um mês: as ações começaram a ser negociadas na B3 no dia 14 de julho. A oferta pública inicial de ações movimentou R$ 2,3 bilhões e os papéis tiveram valorização de quase 35% no primeiro dia, indo dos R$ 23 por ação definidos no prospecto para R$ 31. A ação encerrou em R$ 28 nesta sexta-feira (20).

Os planos de levar o grupo ao mercado acionário pública são de longa data, porém. Segundo Corona, as conversas com investidores começaram em 2012. A Smart Fit já tinha uma captação privada com o Pátria Investimentos. “Não era o momento de fazer um IPO. Mas tivemos reuniões e os investidores tomaram notas”, diz o CEO.

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Em 2018, a ideia de um IPO voltou para a mesa. “Nossos investidores procuram uma saída, e sempre avaliamos qual era o momento de fazê-la. Mas naquele momento havia uma incerteza sobre qual preço iríamos alcançar, e a avaliação não atendia os fundos”, diz Corona. A Smart Fit voltou para as captações privadas: recebeu no ano seguinte aportes dos fundos Canada Pension Plan Investment Board e Dynamo.

“Recompomos nossa base de investimentos, com alguns saindo e outros entrando. Apresentamos também uma base sólida com nossos resultados entregues em 2018 e 2019. Provamos principalmente que as novas lojas apresentavam uma boa performance”, diz Corona.

Porém, 2020 foi marcado pela pandemia do novo coronavírus. A Smart Fit foi bastante impactada pelas restrições às atividades sociais. Na primeira onda da pandemia, a partir de abril de 2020, o grupo teve de suspender a operação das academias em nível nacional e por um longo período. Em 2021, a segunda onda provou um novo fechamento, mas desta vez em algumas regiões e por menos tempo.

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Durante o período, a Smart Fit diminui o ritmo de expansão de novas academias e fortaleceu seu caixa, com aumento de capital social no valor de R$ 500 milhões em dezembro de 2020. Por fim, investiu em canais de fitness digital, como o Queima Diária.

O IPO veio junto da expectativa de retomada do negócio após a pandemia. “Vimos como lugares com vacinação bem sucedida tiveram volta consistente e crescente das academias. Não sabíamos quando a vacinação ia acontecer por aqui, mas sabíamos que tínhamos unidades com boas estruturas e bons resultados. Em algum momento, a história vista no exterior iria se repetir no Brasil e na América Latina. Queríamos encher o tanque de combustível e preparar nossa expansão”, diz Corona.

O número de clientes estava em queda até junho deste ano, que teve alta de 4% no número de consumidores ante o mês anterior. Em julho de 2021, quando 100% das academias do grupo ficaram de portas abertas, houve nova alta de 4%. A ocupação atual das unidades está entre 60% a 70%, dependendo das condições de reabertura em cada cidade onde está a Smart Fit. Corona estima que a ocupação voltará a 82% em algum ponto de 2022. O número se baseia em uma pesquisa que a Smart Fit fez com ex-clientes neste mês: 82,3% dos consumidores respondeu que voltaria a treinar após ser vacinado, e colocou academia entre suas opções de local de treino.

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“A despeito dos impactos negativos de curto prazo, acreditamos que, a longo prazo, a pandemia terá um impacto positivo no aumento da prática de exercícios físicos em busca de um estilo de vida mais saudável (…). De acordo com tendências de mercado, 71% dos brasileiros buscará fazer exercícios físicos após a pandemia, além de saúde, exercício e academias serem prioridades para os brasileiros em 2021”, escreveu a Smart Fit em seu prospecto. “Os players high value low price [serviço de alto valor agregado com preço acessível] têm recuperado sua base de clientes após a melhora da pandemia em países europeus, além de as projeções da Fitch Ratings indicarem que apenas esse segmento será capaz de retornar a níveis ‘pré-Covid’ em 2022.”

Recentemente, a concorrente Blue Fit também protocolou um pedido de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Criada em 2015 sob a marca Health Place, a Bluefit conta hoje com unidades próprias e franquias em 15 estados brasileiros, além do Distrito Federal. Perguntado sobre diferenciais da Smart Fit, Corona ressaltou o grande número de clientes por loja, consistência do modelo de negócios e foco em musculação, exercícios cardiovasculares e ginásticas.

“Devemos ter 30% a 35% mais clientes por loja, além de um processo estruturado de formatação de unidades. Unificamos processos de atendimento, layout e aplicativo em quase mil lojas, e medimos métricas como recorrência e NPS. Também sou contra a grande diversidade de exercícios. Quando você coloca jiu jitsu e as pessoas não querem fazer, por exemplo, você ocupa muito espaço e gasta com treinamento do professor e indumentária específica. E nosso negócio é de faturamento por metro quadrado”, diz Corona.

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Desemprego, pouca renda e variantes x internacionalização

Mesmo com o avanço da vacinação contra Covid-19, diversos países estão preocupados com o avanço das variantes do novo coronavírus, como a Delta. A Smart Fit está monitorando o avanço das mutações. “O maior impacto das variantes aparecem em grupos de pessoas que não tomaram nenhuma vacina. Sim, é uma preocupação.”

No Brasil, soma-se um contexto de alto desemprego e perda de renda. “Algumas regiões se beneficiaram da alta das commodities e não foram tão afetadas, como o Centro-Oeste. Em geral, porém, a renda do brasileiro não aumenta no mesmo passo da inflação e o desemprego de fato impacta na operação. Em 2009, cobrávamos R$ 69,90 por mês num plano Black. Hoje, cobramos R$ 109,90. Sabíamos que não dava para aumentar acompanhando a inflação, e que captaríamos mais gente dessa forma”, diz Corona. O CEO também enxerga um movimento de migração de consumidores de academias mais premium, assim como uma redução na oferta geral de academias por conta do fechamento de operações pequenas durante a pandemia.

Uma forma de mitigar tais efeitos é diversificar a operação geograficamente. Hoje, mais de 40% da receita da Smart Fit está fora do Brasil. Corona estima que essa divisão fique meio a meio nos próximos anos. “A América Latina tem a característica de que uma hora um país está bem enquanto outro não está. Temos 13 alternativas, que permitem rebalanceamento de investimentos diante de um estoque disponível de imóveis.”

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Planos de expansão

A Smart Fit considera que o mercado latino-americanos de academias tem baixa penetração e é fragmentado. Segundo seu prospecto, o mercado de fitness latino-americano cresceu a uma taxa anual média de 7,1% em número de clientes entre 2010 e 2019, chegando a 20,8 milhões de clientes. Naquele ano, a penetração do mercado de centros de exercícios no Brasil, no México e na Colômbia era de 4,9%, 3,3% e 2,1% respectivamente. Nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Alemanha essa mesma penetração era de 21,2%, 15,6% e 14,0%.

Segundo Corona, a Smart Fit detém hoje cerca de 15% do mercado brasileiro de academias, e 13% do mercado latino-americano. Essa participação deve crescer entre 2% e 3% ao ano com a abertura de novas lojas. Foram 53 unidades entregues no segundo trimestre de 2020, número que superou o total de academias abertas em 2020 (74).

“O plano apresentado é de abrir 200 unidades por ano. Mas estamos calmos no momento, não queremos ser taxativos. Temos capacidade de execução em condições normais de temperatura e pressão, mas imagina que vem uma terceira onda da pandemia”, reflete Corona.

Em receita líquida, a diferença entre os segundos trimestres de 2020 e de 2021 foi de 410%, indo de R$ 67 milhões para R$ 343 milhões. Vale lembrar que, no segundo trimestre de 2020, alunos da Smart Fit foram isentados do pagamento das mensalidades enquanto as academias estavam fechadas. Mesmo assim, os R$ 343 milhões ficaram abaixo dos R$ 372 milhões vistos no primeiro trimestre deste ano e dos R$ 386 milhões vistos no último trimestre de 2020. O terceiro trimestre deste ano deverá ter apenas períodos em que as academias ficaram de portas abertas.

O prejuízo no segundo trimestre ficou em R$ 175,2 milhões, ante R$ 272,2 milhões no mesmo período de 2020. No primeiro trimestre deste ano o prejuízo foi menor, ficando em R$ 144,7 milhões. Corona credita o prejuízo ao foco da Smart Fit em continuar expandindo seu número de academias.

A Smart Fit está usando a maioria dos recursos captados em sua estreia na bolsa, cerca de 70%, para expandir sua base de clientes na América Latina. Serão três frentes de investimento: amadurecer academias já inauguradas; aumentar o número de academias por crescimento orgânico; e aumentar o número de academias por aquisições.

Em termos de expansão orgânica, o grupo deve focar em abrir unidades nos 13 países em que já opera, como Brasil e México. Esses países representam 96,4% do mercado latino-americano, segundo o prospecto da Smart Fit. As unidades devem ser abertas em praças ainda não alcançadas pela companhia, ou próximas a unidades que tenham demanda suficiente para justificar outras academias.

“O foco maior de crescimento continua em cidades de grande porte, com população acima de 1 milhão, e de médio porte, com população entre 300 mil e 1 milhão de habitantes. Um foco de crescimento para o futuro seriam cidades de pequeno porte, entre 100 e 300 mil habitantes, em que também há espaço para crescimento. A Smart Fit já está presente em 79% e 61% das cidades acima de 1 milhão de habitantes e entre 300 mil e 1 milhão de habitantes respectivamente”, disse o grupo em seu prospecto.

A companhia também disse que poderia se valer de aquisições pontuais, “caso identifique oportunidades interessantes para complementação de sua base atual de academias, mantendo a disciplina na seleção das empresas alvo e buscando principalmente a conquista de pontos comerciais atrativos, de maneira consistente e complementar ao vetor principal de crescimento orgânico”. A pandemia teria facilitado os termos de aquisições com outras academias, que depois têm seus imóveis convertidos para o padrão da Smart Fit. Corona negou rumores de mercado de que a Smart Fit estaria negociando a aquisição da Bodytech.

Outra frente de expansão é o investimento em fitness digital. A Smart Fit está focando especialmente na Queima Diária. O grupo vai inaugurar produtos e serviços em categorias como luta, dança e spinning; investir em melhoria das plataformas digitais; ampliar a estratégia de marketing digital; e expandir a operação da plataforma para o restante da América Latina.

O grupo Smart Fit fechou o segundo trimestre deste ano com 2,381 milhões de alunos nas academias e 435 mil alunos exclusivamente digitais. A frente virtual apresentou expansão de 15% sobre os números vistos no final de 2020.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.