Situação Econômica Delicada, Desenvolvimento e Underwood

A situação, porém, não é calamitosa. A adoção de uma política econômica adequada, por um ou dois anos, nos levaria ao equilíbrio

Francisco Petros

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A manutenção do grau de investimento do Brasil, conforme avaliação da agência classificadora de riscos Standard & Poor´s é uma boa notícia para o país. Havia expectativa negativa em relação a este tema, mas, dadas as informações disponíveis, a rating agency não se contaminou com o ambiente político brasileiro ao preferir avaliar a nota brasileira de forma, digamos, mais objetiva.

Mantido o grau de investimento, restará largo e fadigoso caminho para superarmos os problemas políticos. De fato, a situação econômica do Brasil é delicada, fruto de erros primários na gestão da política econômica. Todavia, a situação não é calamitosa, especialmente em função da posição financeira das reservas internacionais. A adoção de uma política econômica adequada por um tempo relativamente curto – dois anos, eu diria – nos leva ao reequilíbrio. Ocorre que uma economia balanceada não é necessariamente uma economia em desenvolvimento. Os mais relevantes desafios da economia brasileira estão relacionados aos problemas estruturais do país, notadamente nas áreas sociais (educação, saúde, segurança e moradia) e de infraestrutura (mobilidade interna, ferrovias, portos, estradas, comunicações, tecnologia aplicada, etc.). Ou seja, a agenda nacional persiste parada depois de (poucos) anos durante a era FHC e Lula.

Diz-se que o capitalismo é um sistema não-cooperativo. Ao que parece o sistema político brasileiro não é apenas distante da mínima cooperação. Trata-se de algo suicida. Ao invés de carrear para dentro de si, digerir e solucionar a (negativa) agenda nacional, a política daqui está a produzir confusão atrás de confusão, além de dar as tradicionais mordidas relacionadas à corrupção, ao benefício ilegítimo obtido sobre a res publica e ao clientelismo mais abjeto. Chega a ser risível as análises políticas por estes lados. Vê-se “processos” e “necessidades” e dá-se “conselhos” sem que se observe e evidencie claramente o grau elevado de desinteresse da classe política pelo distinto povo. Homens de bem não querem fazer política porquanto a atividade grassa fedor.

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Diante de tudo isso, a Presidente da República permanece estagnada e, mais um pouquinho, ficará encastelada em seu Palácio Planaltino. Eleita legitimamente não consegue ir buscar a legitimidade política que pode lhe evitar, por exemplo, o banco dos réus num eventual processo de impeachment. O governo Dilma parece um iceberg: o que se vê é uma pequena parte e a grande parte submersa pode causar grandes danos aos navegantes e a ela própria.

Quando se soma a fragilidade do governo com a volúpia da corrupção, do clientelismo e do desinteresse da classe política vê-se sinais dantescos à beira do inferno. A economia capenga mostra que a indústria deve ter uma retração de até 5% neste ano, o PIB cai 2%, a inflação beirará os dois dígitos, o desemprego aumentará, os investimentos cairão fortemente e assim vai. Há quem creia que Joaquim Levy, solitário White Knight a nos livrar dos corsários políticos, está desempenhando excelente papel. Creio que sobram dúvidas a respeito, pois o Ministro da Fazenda pode até alfabetizar o governo com lições básicas sobre gestão econômica, mas dificilmente conseguirá articular uma política de desenvolvimento com o atual jogo não-cooperativo da política. Levy e sua equipe não são milagreiros – apenas um aviso ao pessoal que nele devota esperanças.

Em meio a tudo isso surge a imperial figura de Eduardo Cunha. A melhor comparação que se faz do Presidente da Câmara é com Francis (Frank) Underwood, o personagem central da série televisiva House of Cards. Bem, as pessoas falam isso com lábios sorridentes, como que sorvendo gosto de sorvete de baunilha com chocolate belga. O personagem do ator Kevin Spacey, para os que não o conhecem, faria Nicolò Machiavelli reescrever O Príncipe com novos capítulos que incluíssem assassinatos, chantagens pessoais envolvendo sexo e dinheiro, corrupção, deslealdades, etc. e tal. A alcunha de Cunha é bem duvidosa, me parece. Seria realmente justa? O tempo dirá.

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Acredito que nos próximos dias haverá certa distensão. A Presidente está conversando com a turba do Congresso, a mídia modera um pouco o tom das críticas face a não-emergência do não-rebaixamento das agências de classificação de risco, o povo está meio exaurido de queixumes e atento ao desemprego e a turma do dinheiro está esperando para ver como é que fica. No jargão do mercado, tudo indica que a coisa vai “andar de lado”.

Prepara-se, porém, para o agravamento da agenda estrutural do país nos próximos meses: mais à frente aquela agenda do desenvolvimento voltará com tudo para “chocar” a galera. A falta de água e energia, o congestionamento dos portos na colheita, os problemas de mobilidade interna do país, etc. vão bater à porta. Veremos como ficará o humor do país e a volúpia dos políticos e a burrice do governo. Enquanto isso tome cuidado com os assaltos nas paradas dos sinais de trânsito. Viver é perigoso, já ensinou Francis Underwood, ops!, Eduardo Cunha.