Sinalização de corte de 0,50p.p. no Copom de maio ‘subiu no telhado’, diz economista

A última Ata chegou a indicar queda em maio igual à anterior, mas mercado já crê que ela poderá ser menor ou até nem ter

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Cenários externo e interno estão mais incertos. Nos Estados Unidos, a inflação não arrefece como deveria. No Brasil, as dúvidas sobre o fiscal aumentaram após as mudanças anunciadas pelo governo com relação à meta de resultado primário para 2025.

Caio Megale, economista-chefe da XP, que participou nesta quinta-feira (18) do Morning Call da XP, diz que nos Estados Unidos já se coloca que os juros só vão começar a cair depois das eleições no país. “Isso provocou uma reprecificação geral no mercado”, disse.

Política monetária x política fiscal

O economista explicou que as taxas de juros futuras dos EUA subiram e quando elas sobem as do mundo inteiro acompanham. “A explicação para a inflação (com dificuldade de queda) é que apesar dos juros terem subido bastante, com a política monetária contracionista, na política fiscal os gastos públicos são expansionistas”, afirma.

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Para ele, a avaliação serve para outros países, como o Brasil, que inclusive anunciou redução das metas fiscais.

“Isso significa juros mais altos por mais tempo. Como tem eleição (nos EUA), e ano de eleição não se faz ajuste fiscal, provavelmente esse tema vai durar por muito mais tempo e vai continuar trazendo volatilidade aos mercados”, analisa.

Mudança de estratégia

Megale analisou também as declarações nesta quarta (17) do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

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Ele explica que a reação da taxa de câmbio aqui ao cenário nos EUA pode mudar a estratégia da política monetária no Brasil porque pressiona a inflação. “E é isso que está acontecendo agora”, afirma, sobre a subida do preço do dólar no mercado brasileiro.

Para o economista, a sinalização de corte na próxima reunião em maio do Copom, feita na última ata do comitê, de 0,50p.p. “já subiu no telhado”, e ela pode ser agora de 0,25p.p. ou nem ter.

O economista-chefe disse, no entanto, que até a próxima reunião do Copom o movimento do mercado pode mudar. Mas ressaltou que as incertezas fiscais no Brasil e as dificuldades da inflação nos EUA já ocorrem não é de hoje.

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“Se consolida um cenário que faz sentido ajustar nossas visões”, comentou.

Cenário baixista no agro

Pedro Fonseca, analista de agro, alimentos e bebidas no Research da XP, que também participou do Morning Call, apontou cenário de baixa das commodities agrícolas, margens mais apertadas para os produtores e aumento de recuperação judicial (RJ) no setor, trazendo preocupação para o mercado.

“O El Niño trouxe uma quebra de safra bastante representativa no Mato Grosso, na cultura da soja. Esperamos que seja uma quebra de 20% em algumas regiões do Mato Grosso, que é extremamente grave”, disse.

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Por outro lado, ele comentou que a atual safrinha de milho está se desenvolvendo “muito bem” e já se espera um grande resultado.

“O cenário de preço de soja e de milho continua sendo baixista”, destacou. “Vai continuar pressionando as margens dos produtores. O cenário da margem do produtor continua apertada e esse aumento de recuperações judiciais que a gente viu recentemente tem potencial de aceleração no curto prazo”, acrescentou.

“A gente acha que essas RJs de produtores devem reverberar na cadeia (do agronegócio), mas não é uma crise sistêmica”, ressaltou.

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