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SÃO PAULO – A cada sinal de piora dado pela economia argentina, mais atento e preocupado o mercado brasileiro fica com os possíveis riscos que a deterioração de nossos maiores parceiros comerciais no continente Americano pode nos reservar. Para muitos especialistas, o default técnico dos “hermanos” deve trazer efeitos ainda mais nocivos do que aqueles antes esperados por conta do já conturbado momento vivido pela economia argentina. Nem mesmo o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve ficar de fora das turbulências.
Na última quarta-feira (30), o país vizinho não obteve sucesso na tentativa de convencer seus credores “holdouts” a aceitarem seu plano de reestruturação da dívida e entrou em moratória pela segunda vez em 12 anos, ampliando a visão cética do mercado com relação à sua saúde financeira. Os efeitos gerados pelo prolongado impasse com os chamados fundos abutres ainda não podem ser claramente projetados pelos especialistas, mas muitos começam a avaliar os riscos corridos pelo Brasil na medida em que a deterioração argentina aumenta.
“Neste momento em que os emergentes estão em processo de ajuste, com certeza os investidores globais vão ser mais seletivos ao conceder crédito”, observou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O economista ainda lembra que o novo momento argentino motiva uma maior preocupação em geração de superávit na balança comercial, o que implicaria em cortes nas importações. “80% da pauta de importação argentina de produtos brasileiros é feita de produtos manufaturados”, completa ressaltando que as exportações brasileiras acabam ficando mais expostos a cortes, uma vez que os produtos vendidos aos argentinos se concentram em bens duráveis, não considerados de primeira necessidade.
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Espera-se que o setor automotivo seja um dos mais afetados com o cenário, o que pode acarretar em diversas dores de cabeça não esperadas pelo governo brasileiro. Para o professor do curso de Administração da ESPM e sócio da Méthode Consultoria, Adriano Gomes, o potencial agravamento da crise argentina com o default deve afetar o nível de atividade das montadoras brasileiras. “Isso deve gerar ondas de demissão e desemprego – coisas que já começamos a ver”, afirmou.
Tendo em vista a ampla relação comercial entre os dois países, espera-se também que o momento de default técnico da Argentina derrube ainda mais o PIB brasileiro, alvo de duras críticas do mercado por conta de sua contestável robustez. “Antes do default, era estimado um impacto de 0,5 a 0,7 pontos no PIB brasileiro devido à recessão”, afirmou Gomes, lembrando do quadro recessivo já enfrentado pelo país vizinho, acompanhado pelos fortes efeitos de inflação, instabilidade fiscal e perdas cambiais. “Agora, o mercado espera um impacto de 1 ponto do PIB anual do País”, concluiu.
Para os analistas do Goldman Sachs, há poucas soluções visíveis para a situação e a profundidade da crise argentina depende da duração que o impasse com os credores levar. “No momento, parece que um acordo entre partidos privados pode ser a única alternativa disponível para resolver o problema do default até o expirar da cláusula Rufo (da sigla em inglês, Direitos sobre ofertas futuras)”, escreveram em relatório. De qualquer forma, o PIB brasileiro já deve sofrer com os efeitos da piora da situação da Argentina.