Se os 10 dias de Trump na Casa Branca ensinam algo é de que ele vai cumprir o que prometeu, diz analista

Para o coordenador do BRICLab na Universidade Columbia, em Nova York, uma das mudanças mais drásticas que o republicano deve implementar tem ligação com o comércio global

Mário Braga

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SÃO PAULO – Os dez primeiros dias de Donald Trump à frente da Casa Branca evidenciam que o mandato do republicano deve ser muito parecido à tônica de sua campanha. A avaliação é de Marcos Troyjo, economista, diplomata e cientista social, que ressalta que a expectativa de que as promessas mais controversas seriam amenizadas com o tempo não se concretizou.

“O que percebemos agora é uma correia de transmissão absolutamente automática entre as promessas de campanha e as ações do presidente. Não houve abrandamento algum”, disse, durante conferência virtual promovida pela Amcham (Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos) nesta segunda-feira (30).

Um dos exemplos é a ordem executiva emitida na sexta-feira que impede a entrada nos Estados Unidos de pessoas nascidas em sete países de maioria islâmica. A decisão gerou protestos em todo o país e já foi questionada na Justiça. “O Trump não vai conseguir fazer tudo o que quiser, porque a democracia americana tem um sistema de pesos e contrapesos, mas em muitas áreas, ele vai poder fazer o que quiser, sim”, afirmou Troyjo.

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Um dos exemplos é na retirada do país de acordos comerciais, como já foi sinalizado em relação ao TPP (Parceria Transpacífica). “Para realizar acordos internacionais, o presidente dos EUA precisa de autorização do Congresso. Mas para sair do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), por exemplo, ele tem apenas que dar um ‘aviso prévio’ de 180 dias ao México e Canadá”, detalhou.

O coordenador do BRICLab na Universidade Columbia, em Nova York, destaca que uma das mudanças mais drásticas que Trump deve implementar no âmbito econômico tem ligação com o comércio global. “Não há um presidente americano, de Harry Truman (1945-1953) a Barack Obama (2009-2017), que não tenha trabalhado pela abertura de mercados e regimes plurilaterais de comércio”, disse.

Troyjo ressalta que existe uma correlação histórica entre a posição geopolítica de grandes potências e a abertura de mercados. “É o caso do Reino Unido nos séculos XVIII e XIX, quando eram a grande potência marítima e os grandes incentivadores do livre comércio”, exemplificou.

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Segundo o especialista, protecionismo deve ser a grande marca do republicano na política de comércio exterior. “A palavra ´proteção´ é quase onipresente na retórica comercial da Casa Branca sob Trump: proteção às empresas, ao emprego e aos trabalhadores norte-americanos”, disse. “E isso é muito ruim para os Estados Unidos e para o mundo”.

Se a tendência isolacionista se confirmar e o novo presidente for capaz de forçar o “retorno” dos parques industriais de multinacionais para o território norte-americano, a expectativa de Troyjo é que haja um aumento dos custos das companhias, com encarecimento dos produtos aos consumidores ou diminuição das margens de lucro.