“Se estrangeiros saírem vendendo na bolsa, brasileiros devem comprar tudo”, diz CIO da Rio Bravo

Para o CIO (Chief Investment Office) da gestora de recursos Rio Bravo, Paulo Bilyk, as intervenções estatais, especialmente no setor de energia, causaram muita desconfiança e prejudicaram a reputação do Brasil lá fora

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – O Brasil, que já foi capa de revistas internacionais como “o foguete da vez”, andou perdendo prestígio com os investidores estrangeiros. Este ano, com o crescimento da economia bem mais fraco do que o previsto e com a intervenção do governo em diversos setores, prejudicando muitas empresas listadas na bolsa de valores, os investidores começaram a se questionar sobre as perspectivas do país.

Para o CIO (Chief Investment Officer) da gestora de recursos Rio Bravo, Paulo Bilyk, as intervenções estatais, especialmente no setor de energia, causaram desconfiança e prejudicaram a reputação do Brasil lá fora. “É uma coisa muito mais grave do que o fato da economia não crescer como o esperado. Muitos estrangeiros possuem ações da Eletrobras e eles estão se sentindo tungados. Mexeram com o bolso deles”, afirma Bilyk.

O executivo, assim como uma grande parte do mercado, não concorda com a maneira como o governo escolheu para reduzir as contas de luz, adotando medidas que impactam diretamente nas receitas das geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia elétrica. “O governo brasileiro poderia muito bem ter alcançado os descontos que pretendia na conta de luz da maneira que está fazendo agora. Como algumas empresas não aceitaram as renovações naquelas condições, decidiu-se fazer o que já deveria ter feito desde o começo: baixar impostos como PIS e COFINS”, pontua Bilyk.

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Para ele, a grande euforia que havia com o Brasil nos últimos anos tem se dissipado com estas atitudes intervencionistas. No entanto, ele também não concorda com uma debandada em grande escala dos estrangeiros e acredita que a saída em massa do país seja uma reação exagerada. “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O país é feito por nós, pelos trabalhadores, pelo povo, que trabalha, que produz e consome. Isso tudo é muito mais importante do que um ministro (se referindo à matéria da revista The Economist cogitando a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, como melhor alternativa para o país). Se o estrangeiro cometer essa imprudência de sair correndo, os brasileiros têm mais é que comprar tudo. Eu vou comprar”, afirmou Bilyk.

O CIO da Rio Bravo ressalta que a bolsa brasileira passa por um momento peculiar. Com a queda da taxa Selic (que no momento está em 7,25% ao ano, seu menor nível histórico), mesmo com toda volatilidade e incerteza econômica, a alocação em renda variável tende a aumentar, inclusive nos fundos de pensão, que possuem metas atuariais a serem cumpridas. Como estes fundos precisarão correr algum risco para alcançar a rentabilidade necessária para pagar todas as aposentadorias dos contribuintes, é possível que haja uma entrada forte no mercado acionário capaz de impulsionar a bolsa para cima. “Os fundos de pensão provavelmente vão aumentar a alocação em bolsa, gradativa e consistentemente. A pergunta é: eles farão isso em maior, igual ou menor proporção do que os estrangeiros sairão?”, questiona.

O que comprar
Em 2012, com a crise internacional ainda mostrando sinais de força e prejudicando companhias expostas ao mercado externo, o setor de consumo foi a grande estrela do mercado acionário nacional. Mesmo com um crescimento menor da economia, muitas empresas conseguiram se destacar e suas ações trouxeram retornos interessantes para os investidores. No entanto, Bilyk prefere adotar um pouco mais de cautela em relação a este setor. “Tenho um pouco de dúvida deste ‘ufanismo pró-consumo’. Acho que existe um exagero na expectativa de que o consumo é que vai mover tudo”, aponta.

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O gestor procura identificar setores que podem ser menos afetados por um período prolongado de baixo crescimento da economia e se mostra animado com as empresas ligadas à educação. Este ano, por exemplo, companhias como Estácio (ESTC3), Anhanguera (AEDU3) e Abril Educação (ABRE11) trouxeram bons resultados para seus investidores. “Estamos vendo a população brasileira, com esta migração de renda, começar a fazer projetos de vida que antes eram basicamente projetos de sobrevivência. As pessoas passam a ver horizontes maiores, e você começa a pensar intergeracionalmente”, pontua.

No entanto, mais do que setores, a gestora, que adota o value investing (estratégia fundamentalista que busca encontrar ações com um preço mais baixo do que o seu valor real de mercado), procura focar seus esforços em encontrar empresas com bom potencial de crescimento a preços atrativos. Entre as companhias que fazem parte do portfólio da Rio Bravo está a Valid (VLID3), que atua no segmento de meios de pagamento eletrônicos.

“[Esse tipo de negócio] Tem um futuro fantástico. O plástico é o meio mais eficiente de dar crédito, e essa empresa está pronta para migrar tudo isso para celular. E tudo isto está perfeitamente bem casado com este mundo web, 100% ligada nas bases de dados, tanto para oferecer o crédito quanto para acompanhar direções de consumo”, ressalta Bilyk.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip