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SÃO PAULO – As expectativas para a inflação em 2011 não param de piorar. Pela quinta semana consecutiva, o relatório Focus trouxe deterioração da projeção para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2011, que passou de 6,02% para 6,26%, aproximando-se perigosamente do teto da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 6,5%.
O aumento de preços também já começa a preocupar a população, como mostrou pesquisa Datafolha, em que 41% disseram acreditar que inflação vai aumentar nos próximos 12 meses. José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), acredita que para conter essa rápida deterioração, o Banco Central terá que, em algum momento, surpreender a sociedade e o mercado, “mostrando que está efetivamente preocupado” com o cenário inflacionário.
Muitos ruídos…
O que causa essa distorção são os ruídos na execução da política monetária, disse o economista. “Há muita gente falando sobre política monetária que não deveria estar falando. Será preciso de política mais dura para chegar no mesmo resultado”, declarou após participar do Seminário Perspectivas da Economia Brasileira, realizado pela Tendências Consultoria nesta quinta-feira (14).
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Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio diretor da Tendências, concorda, e avalia que a interferência de outros órgãos do governo, como o Ministério da Fazenda, gera problemas na condução da política monetária. “O Banco Central tem que ter autonomia operacional e, em um regime de metas, a comunicação deve ser feita sem ruídos”, declarou Loyola.
É preciso, além disso, um alinhamento de objetivos, já que não adianta o BC tentar manter a inflação sob controle se o restante do governo não assume também esse compromisso. No entanto, Loyola afirma que, segundo o discurso há indicação de que o Banco Central está mais disposto a aceitar riscos, o que pode trazer perdas inclusive de credibilidade para o a autoridade monetária.
… e muitos objetivos
Outro problema enfrentado pelo BC são os vários objetivos que deve cumprir. Além de assegurar a inflação na meta, é preciso também manter uma taxa de câmbio relativamente estável. Isso tanto coibe elevação mais agressiva da Selic (porque aumenta a atratividade dos títulos públicos brasileiros) como anula a flutuação da taxa de câmbio como componente do combate à alta dos preços. “Fica devendo dos dois lados”, declarou o ex-presidente do BC.
A mensagem que o Banco Central passa no momento é de que as medidas macroprudenciais, “um nome bonito” para algo que existe há muito tempo, segundo Loyola, irão recompensar essa alta menor da Selic. Assim, a política monetária caminho em sentido cada vez mais heterodoxo.
O sócio-diretor da Tendências indica elevação em 0,5 ponto percentual da Selic, para 12,25% ao ano, na próxima semana. O economista da Opus também acredita que o Copom (Comitê de Política Monetária) deverá elevar a Selic em 50 pontos-base, mas não dá o ciclo de aperto monetário como encerrado, apesar do consenso trabalhar com apenas esta última alta da taxa de juro em 2011.