Se a Europa ficar destruída, a China não poderá salvar o mundo, diz Barclays

Em São Paulo, Piero Ghezzi diz que "prever o que vai acontecer é impreciso, mas o investidor tem de pensar no impensável"

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SÃO PAULO – Foco das atenções em meio a um cenário de crise como o atual, a economia chinesa, porém, levanta dúvidas quanto a sua capacidade de se sustentar como catalisador do crescimento global, caso haja uma maior deterioração no cenário das dívidas europeias. Para Piero Ghezzi, chefe de economia e pesquisa em mercados emergentes e câmbio do Barclays Capital, a China não conseguirá salvar o mundo se a Europa ficar destruída e, se isso acontecer de fato, haveria um efeito cascata de desaceleração mundial.

“Assumindo que terá uma recessão na Europa, a China deve crescer em torno de 8% nos próximos anos. A China vai crescer menos este ano, não por problema de dinânima doméstica, mas é porque os fazedores de política monetária estão preocupados com a inflação”, explicou Ghezzi, em coletiva do Barclays realizada nesta segunda-feira (28) em São Paulo.

O executivo do Barclays revela que o banco trabalha com dois cenários distintos para a economia global em 2012. O primeiro, que haverá apenas uma recessão global que levará anos para ser recuperada, já o segundo, e mais devastador, seria a destruição da Europa. “Se houver um colapso no mundo, achamos que a China não poderá salvá-lo”, disse.

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De acordo com ele, caso a Europa seja destruída pelos efeitos da crise da dívida, “a China deve ter um enfarte”. Neste caso, a economia do gigante asiático continuaria crescendo, mas em ritmo bem mais lento que o atual, entre 5,0% e 5,5% ao ano. “Com a destruição na Europa, o crescimento na China seria impactado. Consequentemente, as commodities seriam afetadas, puxando para baixo o crescimento dos países emergentes, em especial o Brasil, quê depende bastante deste mercado. Com a China crescendo menos, os EUA também sofreriam, e assim sucetivamente”, afirmou.

Mas, para Dean Maki, chefe de economia do Barclays para os Estados Unidos, mesmo no cenário de destruição na Europa, os EUA não devem entrar em um colapso como aquele que enfrentou em 2008. “Depois de 2008, nós já resolvemos ou amenizamos diversos problemas, o impacto de um cenário desses para os EUA seria médio”, avalia.

E o Brasil?
Por aqui, assumindo este pior cenário, os impactos também seriam limitados. De acordo com Marcelo Salomon, chefe de economia e estratégia do Barclays para a América Latina, o mercado de ações brasileiro deve sofrer muito caso uma eventual destruição na Europa afete o desempenho econômico chinês. Contudo, não é certo que isso de fato vá se espalhar com tanta força para a economia real do País.

“No cenário de destruição na Europa, aqui no Brasil haveria um impacto direto no mercado de ações, porque os grandes players da bolsa são muito ligados às commodities, que por sua vez sofreriam impacto da desaceleração chinesa. Mas, por outro lado, se formos analisar o impacto das crises globais nos últimos anos sobre o crescimento dos países da América Latina, percebemos que no Brasil o impacto foi menor do que no Chile ou na Venezuela, por exemplo. Então, não achamos que o impacto seria tão agressivo à economia real brasileira quanto em outros países.