São Martinho (SMTO3): queda de 14% em duas sessões é suficiente? Para Morgan, ações podem cair ainda mais

Decisão do governo Lula de estender a isenção do imposto sobre combustíveis por mais 60 dias levou a uma derrocada das ações da empresa

Felipe Moreira

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As ações da São Martinho (SMTO3) recuaram 14% nos dois primeiros dias do pregão, desempenho significativamente inferior ao do índice Ibovespa, que caiu 5% no mesmo período. “A decisão do recém-empossado governo Lula de estender a isenção do imposto sobre combustíveis por mais 60 dias é a razão por trás disso”, aponta Morgan Stanley.

Cabe ressaltar que, nessa linha, após abrirem em alta, os ativos SMTO3 viraram para queda e operavam com baixa de 1,76%, a R$ 22,30, por volta das 11h (horário de Brasília), da sessão desta quarta.

Embora o impacto da extensão de 60 dias provavelmente seja insignificante nos resultados anuais da empresa (menos de 2%), analistas acreditam que os riscos associados a possíveis políticas do novo governo (por exemplo, mudanças no código tributário ou nos regulamentos) justificam uma queda maior dos ativos.

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Nesse sentido, segundo o Morgan Stanley, a medida pode desencadear uma queda mais rápida nos preços do etanol, que atualmente está em 77% e 78% o valor da gasolina, bem acima da paridade energética (70%) e da média histórica de janeiro/fevereiro (de 72%), que são meses de entressafra.

Ao mesmo tempo, os níveis de estoque estão altos (94 dias versus 83 dias). Assim, os produtores que estavam mantendo estoques, esperando impostos mais altos em janeiro, devem estar mais propensos a vender seus produtos agora, o que pode pressionar os preços em direção à paridade histórica mais cedo do que tarde.

“Portanto, embora não aumentar os impostos por 60 dias possa não ser tão relevante para os resultados, uma possível queda mais rápida nos preços é”, avaliam analistas. O time de research do banco estima uma potencial queda de preço de R$ 0,30 por litro (-10%) em relação aos níveis atuais, assumindo uma paridade de 72% com os preços da gasolina, consistente com a sazonalidade histórica do período.

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Analistas ainda pontuam que o etanol é uma parte importante do fluxo de caixa do setor, que não pode ser objeto de hedge. A menos que o preço do petróleo suba e/ou o real desvalorize ainda mais, analistas veem riscos crescentes para as estimativas de preço do etanol.

Eles ressaltam que a “atual paridade energética de 78% é pouco atrativa para o consumidor, anormalmente alta mesmo para a entressafra, e já está reduzindo a demanda e a participação do etanol no ciclo otto”. Com os níveis de estoque acima do normal, Morgan Stanley acredita que essa era a última peça que faltava para ver os preços do etanol começarem a cair rumo a uma paridade de energia mais normalizada.

Nesse sentido, o banco americano reitera classificação underweight (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda) e preço-alvo de R$ 26, o que representa potencial de valorização de 14,5% frente ao preço de fechamento de terça-feira (3) de R$ 22,70.

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“Admitimos que os múltiplos parecem atrativos. No entanto, olhar no espelho retrovisor como base para avaliar o valor pode não ser relevante se o campo regulatório for muito diferente nos próximos meses e anos”, avalia.