Saída de R$ 7,9 bi: os fatores que explicam a debandada dos “gringos” da B3 em janeiro

Com oportunidades nos Estados Unidos, e noticiário local conturbado, investidores tiram capital do Brasil

Vitor Azevedo

Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York durante as negociações da manhã (Michael M. Santiago/Getty Images)
Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York durante as negociações da manhã (Michael M. Santiago/Getty Images)

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Janeiro foi marcado por uma forte saída de estrangeiros da Bolsa brasileira. Segundo dados da B3, R$ 7,9 bilhões desses investidores saíram durante o primeiro mês de 2024, revertendo, em parte, o que foi visto nos últimos meses do ano passado. E isso se deu por uma série de motivos.

O primeiro ponto destacado por especialistas é o fato de os juros terem subido nos Estados Unidos. Dados macroeconômicos mais fortes por lá, como o relatório de empregos Payroll, e falas de dirigentes do Federal Reserve afastaram a crença de que o ciclo de corte de juros norte-americano começará em breve.

Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, menciona que, hoje, “há maiores preocupações com relação à condução de política monetária nos Estados Unidos”. “A gente teve dados de inflação e de emprego recentemente mostrando ainda muita força, muita resiliência, então esse movimento de saída do investidor de ativos emergentes, em especial o Brasil, ele se dá também por conta desse flight to quality”, comenta. 

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Normalmente, quando os juros sobem nos Estados Unidos, investidores acabam rebalanceando suas carteiras, diminuindo exposição ao risco e tirando dinheiro de emergentes, como o Brasil. Isso porque os títulos do tesouro americano, considerados os “ativos mais seguros do mundo”, estão pagando mais. 

Mas janeiro, além dos juros, também foi marcado por outra questão. Apesar de o Ibovespa ter caído, bem como a Bolsa brasileira como um todo, os benchmarks americanos flertaram com suas máximas históricas, mostrando um descolamento entre os ativos de risco locais e americanos. 

Luis Azevedo, head de Gestão de Recursos da Oriz, explica que os bons resultados das empresas americanas, o boom da inteligência artificial, e os dados macro dos EUA ajudaram a puxar Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq para cima. Isso, no entanto, também pode ser um pouco prejudicial para o Ibovespa, já que, há algum tempo, a Bolsa brasileira vinha sendo procurada como uma alternativa para os investidores que viam os ganhos limitados nos Estados Unidos e que aceitavam, por isso, tomar mais riscos. 

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“Na medida que a bolsa americana continua performando bem, o interesse ou necessidade de alguns investidores estrangeiros investirem em mercados emergentes pode diminuir”, contextualiza Azevedo. “Existem algumas oportunidades em ativos nos Estados Unidos, que fazem mais sentido do que ativos aqui no Brasil”, fala Ricardo Jorge, da Quantzed. Empresas ligadas à inteligência artificial, por exemplo, vêm recebendo um grande fluxo de investimentos, com investidores acreditando que as altas recentes não ficaram por aí.

Problemas internos

Ao mesmo tempo, janeiro foi marcado por algumas narrativas “tortas” no que tange o cenário interno brasileiro, que não ajudam na visão de que a Bolsa local oferece menos riscos.  Questões como o impasse com a reoneração da folha de pagamento, a alegação do Tribunal de Contas da União (TCU) de que as receitas do Orçamento 2024 estão superestimadas e, mais para o seu fim, pelo anúncio de que as contas públicas fecharam 2023 com um déficit de R$ 230,5 bilhões foram mal recebidas pelo mercado. 

Fora isso, houve também o anúncio de um pacote de investimentos do BNDES de R$ 250 bilhões para a indústria e tentativas do Governo Federal de intervir na direção da Vale (VALE3), o que gera temor quanto à segurança jurídica do país.

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“As questões políticas sempre fazem preço em qualquer economia, ainda mais aqui em que a gente tem um problema fiscal muito significativo. Há diversas incertezas com relação ao cumprimento da meta fiscal do ano de 2024, que inclusive pode ser revista, o que soaria muito mal para os ativos de maneira geral. Esse é um problema recorrente, a gente já vem acompanhando desde o final do ano passado”, avalia o especialista da Quantzed. 

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, explica que, na política, fatores como a revisão da meta de déficit, arrecadação e eleições municipais continuam sendo vetores relevantes. 

Há, por fim, também a queda do minério de ferro, que também pesou sobre a Vale, mais do que a tentativa de interferência. A mineradora, com peso relevante no Ibovespa, caiu mais de 12% em janeiro, acompanhando a commodity e as incertezas em relação ao mercado imobiliário da China. 

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“O fluxo internacional no futuro pode vir a beneficiar o Brasil, mas houve estresse com os juros mais altos. Mas, a partir da queda [das taxas pelo Fed], provavelmente no segundo semestre, podemos ver a narrativa de mercados emergentes ex-China. China cara, México caro, sobra o Brasil, que pode se beneficiar. Mas não acredito que isso será feito de forma linear”, explica Spiess. “De qualquer forma, economia americana ruim é ruim para o mundo, com dólar se fortalecendo pelo temor de recessão, mas ela muito forte também é, tirando dinheiro de outros países. Importa a mediocridade”.

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