Sabesp (SBSP3): JPMorgan vê avanço na privatização, reforça compra e eleva preço-alvo, mas vê possível “efeito Enel” no processo

Banco pondera que crescente preocupação sobre os serviços públicos após apagões generalizados na cidade de São Paulo pode atrasar ou comprometer o processo

Camille Bocanegra

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Conforme o plano de privatização da estatal paulista de saneamento Sabesp (SBSP3) avança, ainda que com uma oposição política ao projeto, analistas destacam quais suas visões para as ações da companhia e o que esperar para ela após a desestatização, reforçando a convicção de que a desestatização deve acontecer.

Discussões sobre mudanças na regulamentação têm avançado e são positivas, sem aumento de tarifas médias por enquanto, conforme apontou o Itaú BBA após reunião com Marco Bonini, diretor da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP).

A mudança de regulamentação tem sido um dos pontos debatidos sobre o processo de privatização da Sabespe, por enquanto, as notícias têm sido positivas. Para o JPMorgan, a possibilidade do avanço na desestatização da companhia tem refletido em valorização dos papéis da Sabesp e motiva revisão para cima do preço-alvo da ação, de R$ 63 para R$ 83, ou um potencial de alta de 28% em relação ao fechamento de quinta-feira.

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“Embora a privatização da Sabesp continue sendo um evento binário cujo resultado e timing são difíceis de prever, os preços das ações da SBSP3 têm reagido positivamente às notícias. Continuamos a ver um potencial significativo de valorização caso a privatização se concretize. Estávamos mais céticos no início do ano, mas, à medida que o processo de privatização evoluiu e alcançou alguns marcos importantes nos últimos meses, revisitamos o caso”, considera.

Na análise sobre o cenário da privatização, o banco considera que o preço-alvo apresenta, no momento, probabilidade de 50% do evento ocorrer, ainda que haja maior risco de volatilidade até a conclusão do processo (em meados de 2024, no cenário otimista).

“Na melhor das hipóteses, o processo de privatização só poderá terminar em meados de 2024, representando um grande risco de volatilidade no futuro, dependendo das condições políticas e de mercado”, avalia.

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As ações da companhia são consideradas como overweight (exposição acima da média, similar a compra), uma vez que o “upside completo é muito maior do que a limitada desvantagem se a privatização for interrompida”, destaca.

Impacto de apagão para privatização da Sabesp

O risco para o avanço do processo seria, para o JPMorgan, o “crescente escrutínio publico” sobre concessionárias de serviços públicos após apagões na cidade de São Paulo. O banco considera que isso poderia atrasar ou prejudicar o processo. A análise do banco destacou o pedido do prefeito de SP, Ricardo Nunes, pela revogação da concessão da Enel à ANEEL (agência nacional de energia elétrica).

Na visão do CEO da Sabesp, André Salcedo, os questionamentos atuais são oportunidades de esclarecimento tanto da diferença entre os serviços prestados por concessionárias de saneamento e de energias elétrica quanto da importância de forte regulamentação.

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O executivo considerou, na teleconferência de resultados do terceiro trimestre de 2023 na sexta (10), que esses questionamentos são naturais e que a própria Sabesp foi prejudicada com as quedas de energia.

Modernização da regulação

Também na teleconferência de balanços, Salcedo destacou que a atual regulação já tem pontos para contornar situações adversas, como visto há alguns anos na crise hídrica enfrentada pelo estado, e que as mudanças devem modernizar ainda mais a regulamentação e trazer pontos importantes para a prestação de serviço pela companhia depois de privatizada.

“Há conversas para buscar alavancas de melhorias para a regulação” destacou. A expectativa do executivo é que as mudanças sejam definidas até o fim do ano.

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A expectativa do CEO da ARSESP é que a decisão final sobre as possíveis mudanças regulatórias venha até fevereiro e destacou que o governo do estado de São Paulo tem última palavra sobre as alterações.

Dentre os pontos propostos para modificação, está a redução da tarifa para população de baixa renda. O executivo afirmou que não há, por hora, intenção de aumento de tarifa média em termos reais e que dificilmente ocorrerá antes da universalização dos serviços, prevista para 2029.

Além disso, há intenção de mudança de metodologia do investimento na base de ativos regulatórios (RAB). O método atualmente adotado considera os futuros gastos de capital que serão executados pela empresa e o governo do estado sugeriu a alteração para garantir execução de investimentos.

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“Segundo a ARSESP, ela tem a capacidade operacional para inspecionar e incorporar anualmente os investimentos se a decisão for avançar com a mudança regulatória. No entanto, devido ao aumento massivo nos gastos de capital devido à universalização anterior dos serviços, a agência terá que contratar empresas especializadas e novos funcionários – um processo que já está avançado”, afirma o BBA.

Há expectativa de mudança de metodologia também de custos regulatórios, para garantir mais visibilidade para definição de custo regulatório eficiente. Conforme destaca a análise, a percepção de risco desse tema pode ser reduzida ao basear o custo regulatório de referências nos números relatados pela empresa. Assim, seria possível compartilhar os ganhos futuros de eficiência entre a empresa e os consumidores.

“Bonini observou que uma das possibilidades é compartilhar uma parte menor dos ganhos de eficiência com os consumidores nos primeiros anos e aumentá-la gradualmente à medida que se aproxima da universalização. O diretor da ARSESP também observou que os ganhos das iniciativas que proporcionam benefícios sociais e ambientais, como a geração de energia a partir de resíduos, não precisariam ser compartilhados com os consumidores”, explica.

O BBA considera que ainda é cedo para considerar que este será o caminho escolhido, uma vez que há outras alternativas em discussão.

Por fim, a análise destaca que as alterações na regulamentação devem ser incorporadas em novo contrato de concessão, para garantir definições regulatórias claras. A iniciativa é considerada importante pelo CEO da ARSESP, pois ajudaria a atrair bons operadores e investidores, pela redução de percepção de risco regulatório.

Assim como o JPMorgan, o Itaú BBA também tem recomendação equivalente à compra (outperform, desempenho acima da média do mercado) para as ações da Sabesp em 2024, com preço-alvo de R$ 83,60, ou um upside de 29%. Para os analistas do banco, a relação risco-retorno parece muito atraente no atual preço dos papéis.

As ações da companhia sobem discretamente às 10h02 (horário de Brasília) desta sexta-feira, com alta de 0,15%, a R$ 64,83.