Roberto Campos, o pregador incansável do liberalismo

Economista, diplomata e político, Roberto Campos usava de fina ironia para combater o comunismo, o socialismo e o esquerdismo de botequim

Estadão Conteúdo

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Ao longo de mais de meio século de vida pública, Roberto Campos (1917-2001) participou ativamente de alguns dos momentos mais marcantes da história do país. Como diplomata, economista, senador e deputado federal, ele teve uma trajetória admirável e acumulou realizações expressivas nas inúmeras atividades que exerceu no governo.

O maior legado de Roberto Campos, porém, foi no mundo das ideias. Ele foi um dos maiores defensores do liberalismo no país, provavelmente o maior. Encarnou, mais que ninguém, o papel de pregador incansável do pensamento liberal e usava de fina ironia para combater o comunismo, o socialismo e o esquerdismo de botequim.

Até hoje, 17 anos após sua morte, continua a ocupa um lugar de destaque nos corações e mentes dos seguidores do liberalismo no Brasil.

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“Ele lançou a semente do Estado minimalista no País, numa época em que o Estado era tudo na economia”, diz Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio e ex-presidente do Banco Central. “O Roberto Campos era muito mais que um economista e tinha uma visão além de seu tempo sobre a organização do Brasil como economia de mercado.”

Num período em que a defesa do liberalismo era vista como uma espécie de heresia, Campos pregava quase no deserto. Apesar de perseguido pelas esquerdas, que o viam como “entreguista”, o que lhe rendeu o apelido jocoso de “Bobby Fields”, nunca fraquejou.

Tinha a convicção de que a economia de mercado, a concorrência interna e externa e o Estado mínimo eram a melhor maneira de promover o desenvolvimento sustentável e a prosperidade geral da população, e não se constrangia em expressá-la a qualquer tempo e lugar.

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“A primeira coisa a fazer no Brasil é abandonar a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo”, disse certa vez.

Nos primórdios de sua vida pública, quando o processo de industrialização ainda não havia se consolidado no País e faltavam capitais privados para alavancar o desenvolvimento, Roberto Campos rezava por outra cartilha. Seguia as ideias do economista britânico John Maynard Keynes, que apoiava a intervenção do Estado na economia, para estimular o crescimento.

Foi Campos, em boa medida, o responsável pela criação de diversas estatais, como a Eletrobras e a Siderbras, quando estava à frente do Planejamento. “O Roberto Campos foi o grande construtor do monstro estatal no Brasil”, afirma o diplomata Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) e organizador do livro O homem que pensou o Brasil, sobre a trajetória e as ideias de Campos.

Mas, mesmo nessa fase, Roberto Campos já era um fiscalista e combatia a gastança sem lastro do dinheiro público. Acreditava que o controle da inflação era fundamental para alavancar o crescimento sustentável da economia e garantir a preservação da poupança popular.

Logo depois que a Petrobras foi criada, em 1953, no segundo governo Vargas, Campos também se tornou um crítico contundente do monopólio garantido à empresa no setor.

Ele acreditava que a falta de concorrência geraria acomodação e ineficiência e que a não realização de parcerias com empresas estrangeiras dificultaria a exploração de petróleo pelo Brasil, como acabou acontecendo. Só depois, de acordo com Almeida, Campos se deu conta de que o Estado não era aquela maravilha que havia imaginado.

Posteriormente, nos anos 1990, passaria a apoiar até a privatização da Petrobras, que ele chamava de Petrossauro, ainda hoje um tabu. “Em 1964, ele construiu o Estado brasileiro, que depois ele veio a renegar, acusar e combater”, diz.

Sua conversão foi embalada pela onda liberalizante que ganhou o mundo nos anos 1980, com a queda do Muro de Berlim e os governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher, no Reino Unido.

O economista e consultor Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura, conta um episódio ocorrido quando ambos eram deputados federais, que ilustra bem a transformação pela qual Roberto Campos passou depois que saiu do Planejamento.

“Um dia, na Câmara, sem nenhuma razão, ele me disse: ‘Delfim, perdi muito tempo. Só deveria ter lido Hayek.'” O economista Fredrich Hayek (1899-1992), ligado à chamada Escola Austríaca, de linha ultraliberal, era defensor do Estado mínimo e um dos inspiradores de Thatcher.

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Campos foi colunista do jornal O Estado de S.Paulo entre 1988 e 1995. Seus artigos eram publicados tradicionalmente na página 2, no domingo. Seu primeiro artigo, intitulado Gorbatchev: reformista ou revolucionário, foi sobre as reformas na União Soviética. O último, intitulado A rua e o quintal, era uma crítica ao protecionismo, na qual dizia que o Brasil não podia se dar ao luxo de ficar fora do mundo.

Ele morreu em 2001 e não viveu para ver a crise profunda que atingiu a economia do país, em decorrência das políticas estatistas implementadas durante os governos do PT, nem a multiplicação dos escândalos de corrupção em empresas estatais ocorrida no período.

Também não viu o neto, Roberto Campos Neto, assumir a presidência do Banco Central no início do ano, por indicação de Jair Bolsonaro.

Segundo o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea, uma empresa de investimento, a memória de Roberto Campos deveria servir para resgatar as suas ideias, de redução da presença do Estado na economia. “O Roberto Campos estaria repetindo o que disse a vida inteira, que o Brasil andou para trás”, afirma Fraga. “Hoje, há uma janela de oportunidade para consertar esse modelo que não deu certo.”

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