Resultado do Mercado Livre faz ações de B2W e Magalu dispararem: o que os números mostraram para as varejistas?

Balanço do Mercado Livre foi bem recebido e ações chegaram a disparar 25% na Nasdaq, tendo como destaque retomada nas vendas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em uma sessão de cautela para os mercados internacionais e, consequentemente, para a bolsa brasileira, algumas empresas do setor de varejo ligado ao e-commerce registraram um desempenho bastante positivo, tanto aqui quanto no exterior.

As ações do Mercado Livre chegaram a saltar 25,46% na Nasdaq na cotação máxima desta quarta-feira (6), após balanço do primeiro trimestre de 2020 que animou o mercado. Os ativos fecharam com alta de 19,64%, a US$ 742,88.

Já na B3, os destaques ficaram para as ações da B2W (BTOW3, R$ 89,18, +19,13%), Magazine Luiza (MGLU3, R$ 55,15, +9,86%), sendo seguidas por Lojas Americanas (LAME4, R$ 27,42, +7,36%) e Via Varejo (VVAR3, R$ 10,01, +3,20%), na esteira dos números apresentados pelo Mercado Livre. “Os investidores ficaram mais confortáveis em relação à recuperação das vendas em abril no e-commerce, que estão em ritmo bastante forte”, aponta Pedro Fagundes, analista da XP Investimentos.

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Apesar de não ser listado na bolsa daqui, o Mercado Livre é atualmente o líder do e-commerce brasileiro com 33% de participação de mercado e os seus números são acompanhados de perto para entender a tendência do setor. Por conta da pandemia de coronavírus, o e-commerce ganhou ainda mais destaque em meio à visão de que as plataformas de e-commerce poderiam ser mais resilientes em meio às medidas de isolamento social de boa parte da população.

Quanto as números gerais, a empresa viu seu faturamento líquido ter alta de 70,5%, a US$ 652,1 milhões, enquanto o volume de vendas em sua plataforma foi a US$ 3,4 bilhões, alta de 34% na base de comparação anual, números que agradaram os investidores.

Conforme destaca a XP Investimentos em relatório em que traçou paralelos entre a companhia e as varejistas brasileiras (veja na íntegra clicando aqui), as vendas online do Mercado Livre chegaram a sofrer impactos negativos nas duas últimas semanas de março no Brasil por conta de efeitos da crise desencadeada pelo COVID-19.

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Assim, a venda bruta de mercadorias (ou GMV, na sigla em inglês) teve desaceleração do crescimento para 15% na base anual (versus 23% no quatro trimestre e 18% no primeiro trimestre de 2019), impactado pelos efeitos da crise.
Porém, no mês de abril (ou seja, não incluindo os números do primeiro trimestre, mas com informações divulgadas após o balanço) a companhia já observa uma retomada do ritmo de crescimento a níveis similares àqueles observados antes do início da pandemia.

Ao projetar o que esses números significam para as empresas listadas na B3, Fagundes avalia que, apesar de também terem sido negativamente impactadas ao longo das últimas semanas de março, as operações online tanto do Magazine Luiza quanto da B2W devem ter apresentado taxas de crescimento relativamente estáveis (alta de 52% e de 30%, respectivamente).

Além disso, a visão é de que o Mercado Livre perdeu fatia de mercado em categorias com ticker mais alto (caso de eletrônicos), em meio a maior agressividade dos principais competidores, o que inclui Magalu, B2W e Via Varejo.

Voltando aos números gerais, o analista destaca outra tendência para as empresas do setor, que é uma maior participação de novas categorias nas vendas, caso de saúde, bens de consumo, brinquedos e jogos. Essas categorias tiveram um forte crescimento do ritmo de vendas, superior a 100% em alguns países no caso do Mercado Livre.

Fagundes reforça que, apesar de ainda pouco representativa (menos de 5% das vendas totais), a categoria de bens de consumo é estratégica para o Mercado Livre não só durante a pandemia (venda de álcool-gel e produtos de limpeza), mas também durante a retomada. “A empresa busca aumentar o sortimento de produtos, inclusive com venda de estoque próprio, tendo inclusive lançado a interface de varejo alimentar no Brasil neste trimestre”, reforça.

A visão do analista é de que ainda há um forte potencial de crescimento, dado que a penetração desses produtos é extremamente baixa no canal online (um dígito baixo). “Na nossa opinião, a B2W está melhor posicionada na categoria, após a aquisição do Supermercado Now no início do ano”, aponta.

Outro ponto destacado no resultado é a expansão da rede proprietária do Mercado Livre como porcentagem dos pedidos enviados, uma vez que a empresa continua fazendo esforços para reduzir a sua exposição aos Correios e na melhora do nível de entrega.

O Fulfillment, que em tradução livre significa, “tomar conta de toda a logística, desde o recebimento dos produtos, separação, embalagem e por fim o envio”, atingiu 15,1% no final do trimestre e cerca de 20% em abril.

A companhia ainda anunciou a abertura de dois novos centros híbridos de cross-docking no trimestre (um em Curitiba e outro em Belo Horizonte) e não apresentou problemas em sua logística com efeitos do COVID-19. O cross-docking envolve o método em que a mercadoria recebida num armazém ou centro de distribuição não é estocada, mas preparada ser entregue ao cliente ou consumidor imediatamente ou o mais rapidamente possível.

“Ressaltamos, entretanto, que tanto a B2W quanto a Magalu têm estrutura logística mais desenvolvidas, com a Direct e a Malha Luiza já representando cerca de 90% das entregas de estoque próprio de ambas as empresas, respectivamente. De qualquer maneira, acreditamos que a melhora da logística do Mercado Livre (em prazo e custo) em escala nacional endereça um gargalo importante para o crescimento da companhia”, avalia Fagundes.

Resultados no radar

Com todos esses sinais no radar, os investidores devem acompanhar de perto a divulgação dos resultados das companhias, sendo os primeiros a serem divulgados os da B2W e Lojas Americanas, na próxima quinta (7) depois do fechamento do mercado, sendo seguidos por Via Varejo no dia 13 e Magazine Luiza no dia 25.

Em relatório recente em que comenta as expectativas para os números do primeiro trimestre, o Bradesco BBI reforça que o lucro das empresas do setor varejista deve já sofrer o impacto inicial dos dias de isolamento social a partir da segunda quinzena de março, após um começo de ano bastante positivo para o setor.

Os analistas destacam o e-commerce como resiliente, também apontando que houve desaceleração do GMV ao fim de março, mas com retomada forte em abril.

O destaque fica para Via Varejo, que deve mostrar evidências de que sua recuperação está no caminho certo, com expectativa de expansão de margens da companhia.

No setor, as preferências do Bradesco BBI são, na sequência, por Lojas Americanas, B2W, Magazine Luiza, Via Varejo e Lojas Renner (LREN3). “Embora as ações de e-commerce tenham registrado um bom desempenho, nós vemos que as estimativas de consenso podem ser reavaliadas para cima no segundo trimestre”, apontam os analistas. Já a recomendação da XP é de compra para as ações de Magazine Luiza e Via Varejo e neutra para os papéis da B2W.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.