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SÃO PAULO – O novo estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) revela que, na América Latina, custos de transporte mais baixos levariam a um aumento significativo das exportações, superando qualquer possível ganho que a região possa ter com tarifas mais baixas no futuro.
“O transporte precisa estar no palco central do debate sobre políticas comerciais depois do fracasso de Doha”, afirmou o economista do BID que liderou o estudo. “Muito foi feito para reduzir barreiras tarifárias e não-tarifárias, mas agora é hora de expandir a agenda de políticas e abordar os custos do transporte e seus efeitos perversos sobre o comércio”.
Resultados do estudo
De acordo com a pesquisa, uma redução de 10% nos custos de frete no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e Bolívia permitiria que as exportações para os Estados Unidos aumentassem cerca de 39%. Comparativamente, as vendas externas à nação americana sofreriam alta de menos de 2%, caso as tarifas sobre as importações fossem reduzidas em 10%.
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Melhorias relativamente pequenas nos transportes também permitiriam que os países contemplados pelo estudo aumentassem substancialmente as vendas de produtos que já exportam para outros países da América Latina e do Caribe.
Na Argentina, por exemplo, com essa redução, as exportações de laticínios e máquinas seriam, respectivamente, duas vezes e 27 vezes maior. Já no Brasil, as exportações de sementes e frutos oleaginosos e de máquinas seriam 32 vezes maiores. Por sua vez, as vendas de flores da Venezuela ao exterior seriam 25% maiores.
Concorrência
O motivo é que estradas mal conservadas, aeroportos e portos congestionados e serviços de alfândega ineficientes aumentam o tempo e o custo da remessa de mercadorias e podem eliminar totalmente a vantagem logística da região de estar mais próxima do maior mercado do mundo, o norte-americano, diz o estudo.
Além disso, a ascensão da China e da Índia como exportadores importantes na economia mundial, associada à crescente fragmentação da produção e às pressões de tempo do comércio internacional, alteraram as vantagens comparativas da América Latina e deram aos investimentos em infra-estrutura de transporte uma importância estratégica sem precedentes para a região.
Gasto com fretes
O custo do transporte na América Latina é superior ao das nações desenvolvidas. A região gasta quase o dobro do que a quantia utilizada pelos Estados Unidos para importar seus produtos, segundo o estudo. As exportações latino-americanas e caribenhas para os EUA pagam taxas de frete que são, em média, 70% mais altas do que as taxas pagas por exportações da Holanda, um país famoso por seus portos eficientes.
Veja no gráfico:
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| Gastos totais com fretes como porcentagem das importações | |||
| País | Percentual | ||
| Paraguai | 14,5% | ||
| Peru | 8,5% | ||
| Chile | 7,5% | ||
| Média América Latina | 7,2% | ||
| Colômbia | 6,7% | ||
| Uruguai | 5,7% | ||
| Brasil | 5,5% | ||
| Argentina | 5,1% | ||
| EUA | 3,7% | ||
Fonte: BID
Para se ter uma idéia, os custos do frete aéreo da região aumentou muito mais rapidamente do que na China e no resto do mundo. As taxas de frete em 2006 no Caribe, por exemplo, eram 36% mais altas do que em 1995. Enquanto isso, a China manteve seus custos abaixo da marca de 1995, apesar da elevação dos preços do petróleo. O frete oceânico, por sua vez, preocupa menos, já que seus preços estão convergindo com as taxas mundiais.
De acordo com o estudo, a maior parte das diferenças nos custos dos fretes oceânicos e aéreos pode ser explicada pelas mercadorias pesadas que a região exporta, uma vez que estas tendem a custar relativamente mais para transportar do que bens manufaturados. Além disso, cerca de 40% da diferença nos preços de transporte entre a região e os EUA e a Europa têm como base o grau de eficiência de portos e aeroportos.
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O nível de concorrência entre as empresas transportadoras e o volume menor de importações de produtos da região também ajudam a explicar os custos mais elevados do frete oceânico. Uma conclusão semelhante pode ser tirada para as taxas de fretes aéreos. Caso os países latino-americanos melhorassem a eficiências de seus portos até o nível dos EUA, os custos de transporte para as importações da região cairiam cerca de 20%, garante o BID. Por sua vez, se houvesse maior competição entre as empresas de transporte, no mesmo nível americano, os custos de frete reduziriam 4%.