Redecard sai da bolsa, Cielo cai 3,5% e Marfrig sobe 7%; veja destaques

Usiminas e Sabesp realizaram lucros em movimentos distintos; Santos Brasil e Iochpe despencaram, enquanto B2W manteve rali de alta

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – O mercado nacional contrariou o exterior e viu seu principal índice fechar em alta de 0,96%, aos 61.909 pontos. Na sessão de despedida Redecard (RDCD3), as ações da sua maior rival – a Cielo (CIEL3) – registraram queda de 3,45%, terminando aos R$ 57,45, a maior queda do Ibovespa. Ao passo que os papéis da Marfrig (MRFG3) tiveram ganhos de 6,94%, terminando aos R$ 11,55, liderando os ganhos do índice.

Na mínima do dia, as ações da Cielo chegaram a cair 4,45% aos R$ 56,85. Também impressiona o volume financeiro movimentando com os papéis, em R$ 137 milhões, superando a média dos últimos 21 pregões, em R$ 106,82 milhões. Pouco acostumada a grandes variações, a Cielo registrou sua pior queda desde o dia 16 de abril, quando caiu 4,85%.

O movimento negativo veio após os analistas Marcelo Henriques e Eduardo Rosman, do BTG Pactual, reduzirem a recomendação dos papéis da companhia para manutenção, após a performance recente das ações, combinado com os comentários sobre parcelamento sem juros no cartão de crédito por parte dos bancos e os riscos de maior invervenção do governo no setor, incluindo-se os bancos. 

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A saída da Redecard da bolsa, porém, deve ser benéfica para a Cielo. “Deve haver um fluxo de investidores para Cielo”, avalia Henri Evrard, analista da Infinity Asset. Ele acredita que há muito mais que justifique essa queda, a não ser o próprio rebaixamento do BTG Pactual. “Há algumas notícias de que o setor pode vir a ser regulado, sobretudo por conta dos juros de cartão de crédito”, chama a atenção o analista.

Rumores movimentam Marfrig e Gol
Devolvendo as perdas recentes, as ações da Marfrig lideraram os ganhos desta segunda-feira. Evrard acredita que isso se deve ao fato da companhia ter negado a possibilidade de uma nova oferta de ações – o que poderia causar um excesso de ações no mercado. “Com isso, todo fluxo de venda do papel foi retirado”, afirma Evrard.

“A própria companhia negou isso, o que pode estar influenciando a ação”, diz o analista. É válido destacar que uma das principais preocupações em relação a empresa é a sua alta alavancagem, fruto de seu agressivo processo de expansão, calcado em fusões e aquisições financiadas por dívidas.

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Rumores também podem ser a causa da movimentação da Gol (GOLL4), na avaliação do analista, o que justificaria a expressiva alta de 5,83%, aos R$ 12,17. “Há a expectativa de que a empresa possa ser vendida, o que tem impulsionado as ações da companhia aérea nas últimas sessões”, salienta. Na expectativa de que a Emirates possa vir adquirir a companhia, os papéis GOLL4 já subiram 25,46% em setembro, uma das principais altas do mês entre os componentes do Ibovespa.

Usiminas, Sabesp e B2W
Outras duas ações que chamaram a atenção nesta sessão foi a preferencial da Usiminas (USIM5) e a ordinária da Sabesp (SBSP3), que terminaram em sentidos opostos. A razão do movimento, porém, é a mesma: realização de lucros. Os papéis da Sabesp, que subiram 3,99% aos R$ 79,50, haviam refletido uma perspectiva de novas intervenções do governo e vinham de uma forte sequência de quedas, caindo da região dos R$ 92,70 para R$ 75,50. Baratas, parecem ter mostrado recuperação. “É uma realização, a Sabesp vinha caindo depois de subir bastante e agora realiza esse movimento, não tem nada de novo”, acredita Evrard.

Essa é a justificativa inversa para Usiminas, cujos papéis cairam 3,12%, terminando aos R$ 11,18. Depois de cair muito, os papéis da siderúrgica foram estimulados por medidas do governo, como a redução dos custos com energia e a elevação da tarifa de importação para produtos similares produzidos no exterior. “As ações chegaram a subir bastante com essas notícias, mas também parecem estar realizando lucros”, diz. 

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Outra ação que digna de nota por um movimento parecido é a B2W Varejo (BTOW3), que com alta de 4,47% aos R$ 10,27, também ocupou o posto de uma das maiores altas da sessão. Depois de avançar mais de 80%, as ações ainda econtram espaço para novas altas, em reflexo das expressivas quedas dos últimos anos. “Na minha avaliação, ainda é uma das ações mais baratas do setor de consumo”, salienta Evrard. Para ele, o caminho da empresa é complicado: tem que melhorar as margens e trabalhar na reestruturação, mas o preço ainda é muito baixo. “Jajá não vai ser uma das mais baratas”, diz, lembrando que às vezes é bom ter um pouco de pressa.

Duratex compra Thermosystem
Já as ações da Duratex (DTEX3) subiram 4,62%, terminando aos R$ 13,60. A empresa informou ter assinado proposta vinculativa para comprar, por R$ 63 milhões, a fabricante de chuveiros eletrônicos e sistemas de aquecimento solar Thermosystem.

“Esta aquisição encontra-se alinhada à estratégia de crescimento da companhia em segmentos sinérgicos aos negócios atuais e deverá agregar uma capacidade de produção de 1,5 milhão de peças anuais”, afirmou a empresa de materiais de construção, que precisará da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para fechar negócio.

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Santos Brasil: nova vítima do governo?
Depois das elétricas e bancos, o governo elegeu mais um setor para intervir: os portos, da qual a Santos Brasil (STBP11) é a maior prejudicada. As units chegaram a cair 10,62% pela manhã, mas registraram uma leve recuperação e fecharam com queda de 6,09%, cotados a R$ 28,20. 

Além disso, os papéis da operadora de portos mostram volume de R$ 34,04 milhões, contra uma média diária de R$ 9,13 milhões nos últimos 21 pregões. “O governo sinalizou e agora há uma expectativa de redução da tarifa portuária em 30%”, afirma Evrard, analista da Infinity Asset. 

Motivados por essa notícia, os papéis abriram em queda de 4,10% e vão apresentando um dos movimentos mais negativos desta sessão. “Apesar da nova regulação sair apenas em outubro, as perspectivas não são nada boas”, destaca o analista, lembrando que isso afeta diretamente o case da companhia, reduzindo as receitas.

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“Esse caso está se definindo no pior cenário possível, é que nem no caso das elétricas”, diz Evrard. Com medo do que pode acontecer com o setor em breve, investidores optaram por desfazer de suas posições na empresa. Com a possibilidade de redução de receitas em 30% na espreita, é capaz que o movimento ainda não esteja terminado. 

Iochpe-Maxion recua forte
As ações da Iochpe-Maxion (MYPK3) recuaram 3,84% nesta sessão, cotadas as R$ 26,55. Em um dia positivo na bolsa nacional, os papéis da fabricante de autopeças recuam amparadas na recomendação de venda por parte da equipe de análise do JPMorgan, que não vê perspectivas de novas altas para a empresa. 

Os analistas Nicolai Sebrell, Ricardo Alves e Augusto Ensiki acreditam que os fundamentos do mercado de caminhões brasileiro já não está mais tão atrativo. Em reflexo à isso, as ações da empresa chegaram a cair 5,43% mais cedo, atingindo R$ 26,11. A empresa cede um pouco dos ganhos de quase 50% nos últimos 365 dias, uma das razões para o JPMorgan avaliar a ação MYPK3 como “cara”.

A expectativa é que as ações tenham queda nos próximos doze meses, tanto em um cenário mais pessimista quanto no cenário mais provável. Com a piora da crise na Europa, é possível que MYPK3 busque R$ 20 – uma queda de 24,67% – ano que vem, enquanto no cenário base a projeção é de R$ 26, queda de “apenas” 2,07%. No cenário otimista, a perspectiva é que o papel atinja os R$ 34 ano que vem, o que representaria uma alta de 28,06%

Os analistas reavaliaram esse movimento, já que no cenário-base o preço-alvo era de R$ 26. As perspectivas do JPMorgan tendem a ser bastante pessimistas para a empresa, já que a projeção para o lucro está 23% abaixo do consenso do mercado. “O mercado de caminhões no Brasil está caindo mais rápido que o esperado e as operações internacionais ainda são duvidáveis”, afirmam os analistas.