Recuo do dólar frente ao real em 2005 desafiou padrão do câmbio internacional

Veja as principais variáveis por trás do real fortalecido, em um ano marcado pela valorização do dólar no mercado mundial

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Ao fim de 2004, o dólar valia R$ 2,65. Já no 30 de dezembro, último dia útil de 2005, são necessários R$ 2,32 para comprar uma unidade da moeda norte-americana.

O dólar fechou o ano com desvalorização de 12,4% frente ao real, reflexo dos fluxos de divisas associados tanto ao lado monetário quanto ao lado real da economia. Variação que ganha relevo diante do contexto internacional. Afinal, a moeda dos EUA registrou avanço frente ao euro, ao iene e a outras importantes referências mundiais em 2005.

Resta saber, portanto, quais os fatores que determinaram o diferencial brasileiro. Política monetária de combate à inflação, saldo entre exportações e importações e influência direta do Banco Central no mercado de câmbio interessam.

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Selic atraindo divisas

A taxa Selic encerrou o ano 0,25 ponto percentual menor do que começou. Dada a análise restrita aos extremos, a conclusão poderia ser de desincentivo à entrada de divisas em território nacional. No entanto, entre o começo e o fim estiveram bons períodos de elevação da taxa de juro.

Foram quatro elevações da Selic até que se alcançasse, entre maio e agosto, o patamar mais elevado de 2005, 19,75% ao ano. O suficiente para garantir o ingresso de dólares, estimulado ainda mais pela forte liquidez internacional.

O suficiente para garantir, mesmo com o aumento da Fed Funds rate. Responsáveis pelo fortalecimento do dólar internacional, os reajustes de 25 pontos base na taxa de juro norte-americana não foram o bastante contra o caso brasileiro.

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Balança comercial

Desafiando o manual mercantilista, o real mais forte não impôs ônus significativos à balança comercial brasileira; pelo menos não na ótica quantitativa. O saldo do Brasil com o resto do mundo deve atingir cerca de US$ 45 bilhões em 2005, o maior valor da história nacional.

Por trás da relação contra-intuitiva entre câmbio e balança, três figuras. Primeiro, os prazos longos com que são contratados diversos produtos comercializáveis impedem iterações imediatas entre as varíaveis.

Segundo, a cotação das commodities, que guardam espaço considerável na pauta de exportações do Brasil, atingiu patamares bastante elevados durante o ano. Dessa forma, volumes menores foram compensados por preços mais altos.

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Por fim, vale mencionar que grande parte das exportações brasileiras dá-se dentro da relação intrafirma. Multinacionais compram barato de suas subsidiárias, visando boas margens de lucro no mercado internacional. O grau dessas margens torna por vezes irrelevante o câmbio real/dólar.

O remorso do Banco Central

Apesar do recuo do dólar frente ao real no balanço anual, o último mês de 2005 mostrou valorização de 5,5% da moeda norte-americana. Justificativa na queda da Selic, mas principalmente nas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio.

Por meio de aquisições diretas e de leilões de swap invertido, o BC desenhou uma posição comprada em dólares. De acordo com a instituição, a iniciativa foi pautada no oportunismo: boa chance de compor reservas internacionais e quitar dívidas em moeda estrangeira.

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No entanto, há quem interprete de outra maneira. Uma espécie de remorso, estratégia compensatória pela política monetária fortalecedora do câmbio. Mas o BC, entidade autônoma, não se curvaria diante de pressões políticas e econômicas; não é mesmo?