Reajuste de planos veio abaixo do esperado, mas é neutro para ações do setor; atenções se voltam para negociações no corporativo

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou na última segunda o ajuste anual de preços para planos individuais em 9,63%

Felipe Moreira

Ilustração

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A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reguladora dos planos de saúde no Brasil, divulgou na última segunda-feira (12) o ajuste anual de preços para planos individuais em 9,63%, abaixo dos 15,5% do ano passado e ligeiramente inferior aos 10% esperados pelo Goldman Sachs, o que na avaliação do banco é neutro para empresas do setor.

De acordo com a ANS, a desaceleração no aumento de preços é consistente com uma gradual normalização percebida na dinâmica de custos do setor.

“O aumento de preço anunciado será aplicado a 16% da base de associados de planos de saúde privados no Brasil, válido de maio de 2023 até abril de 2024. O cálculo é baseado em impactos inflacionários, mudanças na frequência de uso e nos custos unitários de serviços médicos e insumos (ou seja, medicamentos, equipamentos médicos, entre outros)”, explicam analistas do Goldman Sachs.

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O Goldman Sachs ainda ressalta que o reajuste não terá um impacto negativo no preço das ações da Hapvida (HAPV3; classificação neutra), dada a pequena diferença.

Segundo Goldman Sachs, os contratos individuais representam cerca de 24% das receitas dos planos de saúde da Hapvida, o que, juntamente com os ajustes de preços de dois dígitos esperados em suas outras modalidades de contrato, deverá abrir caminho para a expansão contínua da lucratividade nos próximos doze meses.

No entanto, analistas destacam que como os ajustes são implementados em uma programação de data de aniversário, o aumento total de preços só deve ser visto nos resultados da Hapvida em abril de 2024, seguindo um caminho de aceleração.

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O aumento de preço dos planos de saúde individuais também vieram ligeiramente abaixo das expectativas do Morgan Stanley.

Para o Morgan Stanley, todos os olhos agora estarão voltados para as negociações do segmento corporativo, já que os aumentos de preços são essenciais para aliviar a pressão da MLR (indicador que mede a sinistralidade).

Analistas do Morgan apontaram para vários fatores que aumentaram a sinistralidade do setor desde 2021: (i) recuperação de procedimentos eletivos, (ii) diagnóstico tardio de doenças, (iii) aumento das preocupações com a saúde, (iv) mudanças regulatórias e (v) aumento de fraudes. Com isso, segundo analistas, aumentos de preços continuam sendo necessários para compensar as mudanças de curto prazo e estruturais no volume de mercado e reequilibrar a cadeia de valor da saúde.

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“O aumento aprovado deve afetar diretamente a Hapvida (indivíduos representam 1,6 milhão de vidas, 17% do total) e a SulAmerica (119 mil vidas, 4% do total), e indiretamente ter um impacto nas negociações de preços corporativos (portfólio principal de ambas as empresas)”, diz o relatório do Morgan Stanley. O time análise do banco espera que o valor médio dos contratos da Hapvida e da SulAmérica subam +11% em 2023, não refletindo totalmente os altos aumentos de preço, pois pode acontecer uma mudança na composição (downgrade dos planos).

Em termos de avaliação, o Morgan Stanley tem preços-alvo para Rede D’or (RDOR3) e Hapvida de R$ 50 e R$ 4,40, o que implica em um potencial de valorização de 55% e 4% em relação aos preços de fechamento de sexta-feira, respectivamente. “Ambas as empresas devem apresentar redução na MLR e alto crescimento do valor médio em 2023, apoiando o crescimento da receita e margens melhores”, diz o banco.

Além disso, conforme Morgan Stanley, as taxas de juros mais baixas devem aliviar parcialmente a carga de despesas financeiras da Hapvida e permitir que a Rede D’or retome a consolidação dos negócios hospitalares.

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O Itaú BBA, por sua vez, comentou que o reajuste veio linha com suas expectativas e custos elevados e níveis ainda altos de frequência de procedimentos têm afetado negativamente a lucratividade do setor de planos de saúde nos últimos trimestres, com ajustes de preços mais significativos começando a afetar os valores médios somente agora.

Para o BBA, os aumentos de preços anunciados no segmento individual, juntamente com negociações mais vigorosas sobre aumentos para planos corporativos e PME, devem trazer algum alívio ao setor de planos de saúde este ano, especialmente a partir do segundo semestre de 2023.

No caso da Hapvida, o aumento anunciado provavelmente ajudará a empresa a continuar melhorando gradualmente seus níveis de sinistralidade, dado que os planos individuais representam 17% da base de planos da empresa combinada.

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Já o Credit Suisse avaliou o reajuste como ligeiramente negativo, mas não uma surpresa. “A ANS seguiu fórmula de cálculo, sem interferência política”, diz relatório do banco suíço.