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SÃO PAULO – Enquanto os mercados procuram um culpado para o derretimento das ações nos Estados Unidos na tarde da última quinta-feira (6) – quando US$ 700 bilhões em valor de mercado foram perdidos em cerca de 20 minutos -, a situação começa a ser esclarecida. Com erros de ordens ou não, o contexto do último pregão e dos mercados acionários norte-americanos gerou um ambiente propício para o efeito dominó que foi visto.
O colapso momentâneo do mercado norte-americano ainda está sendo investigado pelos reguladores locais. Entretanto, alguns acontecimentos podem explicar o mecanismo do problema: uma tentativa de estabilizar os preços, baixa liquidez e uma série de algoritmos de corretoras e bancos programados para realizarem operações automaticamente.
O mecanismo da Nyse
Em meio à tensão em torno da crise fiscal na Europa, que levou uma forte queda aos mercados globais, a NYSE optou por retardar em segundos as negociações, de forma a ter uma melhor ideia da precificação de alguns ativos.
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“Nós temos um modelo de mercado diferente de todo mundo. Nós negociamos tão rápido quanto os demais quando achamos apropriados. Mas quando há alta volatilidade, como na quinta-feira, nosso modelo é basicamente desacelerar o mercado e tomar 30 ou 60 segundos para achar o preço certo para uma ação”, explicou o CEO (Chief Executive Officer) da NYSE, Duncan Neiderauer, em entrevista à CNN.
De acordo com a bolsa, esse é um modelo utilizado há anos e que nunca havia trazido problemas ao mercado. Na quinta-feira, as negociações em torno de diversas ações foram retardadas, a exemplo da Procter & Gamble. O problema é que, enquanto a NYSE pausou momentaneamente os trades, as demais bolsas eletrônicas, como Nasdaq e Archipelago, continuaram funcionando em alta velocidade.
“Quando nós abrimos as negociações de Procter & Gamble um minuto depois, aproximadamente no mesmo preço que tínhamos antes, os outros mercados tinham visto quedas de 20% ou 30% na ação”, explicou Neiderauer.
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A fuga de liquidez
Quando essas pausas momentâneas acontecem, o mercado perde muita liquidez. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, alguns market makers eletrônicos optaram por parar de gerar tantas ofertas de compra e venda. Ao contrário do que acontece no Brasil, esses market makers (fundos e bancos) recebem das bolsas para prover liquidez aos mercados. E sem eles, as bolsas eletrônicas operavam sem grande liquidez.
Nesse momento, houve uma venda de contratos futuros e-mini S&P, que engatilhou algoritmos baseados em arbitragem entre futuro e à vista. Isto é, você compra o índice futuro e vende o papel à vista. Sem liquidez, os computadores que tinham ordens para vender os papéis o fizeram aos preços que eram oferecidos – muitas vezes mais de 30% abaixo dos atuais.
Nos casos da Accenture, da Boston Beer e da Exelon, cujas ações foram vendidas a centavos, o que aconteceu foi semelhante. Quando os computadores não encontram ofertas para os papéis, os market makers eletrônicos leem isso como uma oferta zerada e oferecem um centavo para capturar o negócio e ter a comissão paga pela bolsa.
“Normalmente isso não acontece, porque sempre tem alguém provendo liquidez. Na hora que os provedores de liquidez saíram do mercado por causa da entrada da NYSE com os delays em suas ordens, alguém vendeu futuro – talvez erroneamente – muito mais agressivo, fazendo com que os futuros ficassem abaixo do à vista e fez com que as máquinas dessem a ordem de vender a carteira do S&P para fechar a arbitragem. Mas ao invés disso, ela literalmente explodiu o mercado. Foi um descasamento na liquidez do futuro com o à vista, porque não tinha compra suficiente no à vista”, explica à InfoMoney uma fonte do mercado que não quis se indentificar.
High frequency
O problema acontecido na quinta-feira voltou a levantar questões acerca das operações de alta frequência nas bolsas norte-americanas, devido às ordens automáticas que foram engatilhadas na situação.
“Mas tem que lembrar que não são fundos quantitativos que fazem essas operações. É muito mais comum uma corretora, como a Merrill Lynch ou o Citibank, fazer isso do que um fundo quantitativo. São máquinas, sim, mas são máquinas que dão ordens comuns de tanto comprar e vender um papel de long & short, que são colocadas em vários fundos e não apenas em fundos quantitativos”, completa o trader.
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