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O setor de distribuição de energia elétrica deve passar por ajustes a partir da revisão do cálculo do custo médio ponderado de capital regulatório (WACC), parâmetro usado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para definir a remuneração das concessionárias. Segundo analistas do Bradesco BBI, esse movimento deve reduzir o valor presente líquido (VPL) de empresas como Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3) e Equatorial Energia (EQTL3), mas abrir espaço para companhias como Copel (CPLE6), que aparece entre as preferidas do banco ao lado da própria Equatorial.
As estimativas indicam que a redução do WACC regulatório pode gerar um efeito negativo de cerca de 10% no VPL de Energisa, Neoenergia e Equatorial Energia, e entre 7% e 8% em CPFL Energia (CPFE3) e Cemig (CMIG4). Para a Copel, o impacto esperado é bem menor, próximo de 2,5%. A diferença se explica pelo peso distinto da atividade de distribuição em cada companhia e pelo calendário de revisões tarifárias, conduzidas pela Aneel.
No caso da Copel, apenas 40% do VPL está ligado à distribuição, enquanto os 60% restantes vêm de geração e transmissão. Outro fator favorável é o momento da próxima revisão tarifária, em junho de 2026, quando o WACC regulatório deve estar no pico, em torno de 8,11%. A queda, diz o BBI, deve acontecer apenas depois disso, com nova revisão prevista somente para 2031.
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Já para Energisa, Neoenergia e Equatorial, as revisões estão concentradas entre 2027 e 2030, período em que o WACC regulatório deve atingir os menores níveis, o que justifica a pressão maior sobre seus números.
Mesmo com esse efeito, os analistas afirmam que Equatorial e Energisa têm histórico de eficiência operacional, fator que compensa parte da perda. No caso de EQTL3, o Equatorial Day apresentou uma série de medidas de gestão voltadas para manter ganhos de produtividade, o que levou o banco a revisar para cima os parâmetros de eficiência de algumas distribuidoras controladas pela companhia.
Conforme o Bradesco BBI, o setor oferece boas oportunidades, mas exige seletividade e uma espécie de cautela. Os analistas mantêm a preferência por Equatorial Energia e Copel, avaliadas com recomendação de compra, enquanto Energisa, Neoenergia, CPFL Energia e Cemig têm classificação neutra.
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Entre os destaques, Energisa e Neoenergia apresentam potencial de valorização (upside) de 28% em relação ao preço atual, com preço-alvo de R$ 63 e R$ 36, respectivamente. Copel aparece com upside de 27%, com preço-alvo de R$ 15,60, e Equatorial, com 18%, mirando R$ 43. CPFL Energia tem preço praticamente alinhado ao mercado, com upside de 0%, enquanto Cemig apresenta leve desvalorização projetada de 1%.
Eficiência, oportunidades de fusões e comportamento do WACC
Além do impacto do WACC, os analistas chamam atenção para o novo processo anual da Aneel que compara a eficiência de custos das distribuidoras (DEA/Opex). Empresas que gastam mais do que o permitido pelos reguladores podem acabar no radar de possíveis compradores.
A Enel tentou, há algum tempo, vender a unidade do Ceará, e as operações em São Paulo e no Rio de Janeiro também podem entrar no radar, já que apresentam desempenho operacional inferior, segundo o BBI. Ao InfoMoney, a Enel disse que “nenhuma de suas distribuidoras está à venda no País”.
Nesse contexto, empresas com acesso a capital mais barato e maior escala, como Equatorial, Copel, Energisa e CPFL, devem disputar espaço em eventuais aquisições.
Os estrategistas também observam que o aumento recente do Wacc não veio dos juros no Brasil, mas do beta, indicador que mede a oscilação das ações em relação ao mercado. Entre 2020 e 2025, o beta quase dobrou, de 0,45 para 0,91, puxado pelos efeitos da pandemia de covid-19 sobre concessionárias dos Estados Unidos, usadas como referência pela Aneel. Com a saída desse período atípico da amostra neste ano, o beta deve voltar para cerca de 0,44, o que deve reduzir o Wacc.
Embora a Aneel possa revisar a fórmula do WACC, os analistas veem pouca chance de isso acontecer em curto prazo. A prioridade do regulador está em atualizar o fator X, que contabiliza investimentos feitos entre revisões tarifárias, e em ajustar a base de preços do Capex, os investimentos em infraestrutura das distribuidoras.
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Esse último ponto, diz o banco, é especialmente importante para empresas do Norte e Nordeste, que enfrentam defasagem nos custos de itens pequenos e adicionais, reduzindo o valor reconhecido de seus ativos regulatórios (RAB).
