Quem se dá bem quando “WACC” cai? Setor elétrico pode passar por mudanças inesperadas

Revisão do custo de capital regulatório deve pressionar algumas distribuidoras, enquanto outras podem se beneficiar, apontam analistas do Bradesco BBI

Murilo Melo

Torres de transmissão de energia elétrica no Pará
30/03/2010
REUTERS/Paulo Santos
Torres de transmissão de energia elétrica no Pará 30/03/2010 REUTERS/Paulo Santos

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O setor de distribuição de energia elétrica deve passar por ajustes a partir da revisão do cálculo do custo médio ponderado de capital regulatório (WACC), parâmetro usado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para definir a remuneração das concessionárias. Segundo analistas do Bradesco BBI, esse movimento deve reduzir o valor presente líquido (VPL) de empresas como Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3) e Equatorial Energia (EQTL3), mas abrir espaço para companhias como Copel (CPLE6), que aparece entre as preferidas do banco ao lado da própria Equatorial.

As estimativas indicam que a redução do WACC regulatório pode gerar um efeito negativo de cerca de 10% no VPL de Energisa, Neoenergia e Equatorial Energia, e entre 7% e 8% em CPFL Energia (CPFE3) e Cemig (CMIG4). Para a Copel, o impacto esperado é bem menor, próximo de 2,5%. A diferença se explica pelo peso distinto da atividade de distribuição em cada companhia e pelo calendário de revisões tarifárias, conduzidas pela Aneel.

No caso da Copel, apenas 40% do VPL está ligado à distribuição, enquanto os 60% restantes vêm de geração e transmissão. Outro fator favorável é o momento da próxima revisão tarifária, em junho de 2026, quando o WACC regulatório deve estar no pico, em torno de 8,11%. A queda, diz o BBI, deve acontecer apenas depois disso, com nova revisão prevista somente para 2031.

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Já para Energisa, Neoenergia e Equatorial, as revisões estão concentradas entre 2027 e 2030, período em que o WACC regulatório deve atingir os menores níveis, o que justifica a pressão maior sobre seus números.

Mesmo com esse efeito, os analistas afirmam que Equatorial e Energisa têm histórico de eficiência operacional, fator que compensa parte da perda. No caso de EQTL3, o Equatorial Day apresentou uma série de medidas de gestão voltadas para manter ganhos de produtividade, o que levou o banco a revisar para cima os parâmetros de eficiência de algumas distribuidoras controladas pela companhia.

Conforme o Bradesco BBI, o setor oferece boas oportunidades, mas exige seletividade e uma espécie de cautela. Os analistas mantêm a preferência por Equatorial Energia e Copel, avaliadas com recomendação de compra, enquanto Energisa, Neoenergia, CPFL Energia e Cemig têm classificação neutra.

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Entre os destaques, Energisa e Neoenergia apresentam potencial de valorização (upside) de 28% em relação ao preço atual, com preço-alvo de R$ 63 e R$ 36, respectivamente. Copel aparece com upside de 27%, com preço-alvo de R$ 15,60, e Equatorial, com 18%, mirando R$ 43. CPFL Energia tem preço praticamente alinhado ao mercado, com upside de 0%, enquanto Cemig apresenta leve desvalorização projetada de 1%.

Eficiência, oportunidades de fusões e comportamento do WACC

Além do impacto do WACC, os analistas chamam atenção para o novo processo anual da Aneel que compara a eficiência de custos das distribuidoras (DEA/Opex). Empresas que gastam mais do que o permitido pelos reguladores podem acabar no radar de possíveis compradores.

A Enel tentou, há algum tempo, vender a unidade do Ceará, e as operações em São Paulo e no Rio de Janeiro também podem entrar no radar, já que apresentam desempenho operacional inferior, segundo o BBI. Ao InfoMoney, a Enel disse que “nenhuma de suas distribuidoras está à venda no País”.

Nesse contexto, empresas com acesso a capital mais barato e maior escala, como Equatorial, Copel, Energisa e CPFL, devem disputar espaço em eventuais aquisições.

Os estrategistas também observam que o aumento recente do Wacc não veio dos juros no Brasil, mas do beta, indicador que mede a oscilação das ações em relação ao mercado. Entre 2020 e 2025, o beta quase dobrou, de 0,45 para 0,91, puxado pelos efeitos da pandemia de covid-19 sobre concessionárias dos Estados Unidos, usadas como referência pela Aneel. Com a saída desse período atípico da amostra neste ano, o beta deve voltar para cerca de 0,44, o que deve reduzir o Wacc.

Embora a Aneel possa revisar a fórmula do WACC, os analistas veem pouca chance de isso acontecer em curto prazo. A prioridade do regulador está em atualizar o fator X, que contabiliza investimentos feitos entre revisões tarifárias, e em ajustar a base de preços do Capex, os investimentos em infraestrutura das distribuidoras.

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Esse último ponto, diz o banco, é especialmente importante para empresas do Norte e Nordeste, que enfrentam defasagem nos custos de itens pequenos e adicionais, reduzindo o valor reconhecido de seus ativos regulatórios (RAB).