Quem não se comunica, se trumbica

As recentes alterações na parte contábil da lei das SAs devem ser melhor comunicadas; isso ficou claro no resultado da Rossi

Fernando Caio Galdi

As recentes alterações na parte contábil da lei das SAs e o conseqüente processo de migração das normas brasileiras para as normas internacionais de contabilidade devem ser melhor comunicados ao mercado.

Este fato ficou claro na divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2008 (1T08) pela Rossi Residencial. Após a divulgação de seu resultado no dia 15/05/2008, o preço das ações desabou cerca de 15% (veja gráfico abaixo).

Parte desse desempenho deve-se à diminuição do lucro e das margens da empresa, impactados negativamente pelas mudanças de práticas contábeis resultantes do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, conforme determinado pela lei 11.638/07 e pela CVM.

As principais alterações referem-se ao reconhecimento de despesas de marketing relacionados aos empreendimentos imobiliários no momento de sua ocorrência (versus capitalização e posterior amortização pelas práticas anteriores), tratamento diferenciado dos gastos com construção de stands de venda e na classificação dos encargos financeiros.

Percebendo o impacto negativo da divulgação de seu resultado e a confusão acerca de seus números, a empresa divulgou dia 26 de maio um comunicado ao mercado detalhando as referidas alterações. Logo na introdução do documento a empresa diz o seguinte:

“A Rossi Residencial S.A. (Bovespa: RSID3), com o objetivo de auxiliar no entendimento das alterações das práticas contábeis realizadas no 1T08 e posteriores ajustes a serem realizados a partir do 2T08, disponibiliza ao mercado:

1) Alterações contábeis já adotadas no 1T08 e a serem adotadas no 2T08 e seus impactos na margem bruta, margem EBITDA e margem líquida.

2) Exercício de reconciliação de margem bruta, a fim de facilitar a comparação com as demais empresas do setor.

3) Demonstração de Resultados de 2007 ajustados pelas práticas contábeis adotadas no 1T08, INCLUINDO a alteração da prática contábil relacionada à correção monetária da carteira de recebíveis a ser adotada SOMENTE no 2T08.”

Este fato serve de exemplo para que as demais empresas fiquem atentas e divulguem seus resultados de maneira bastante detalhada, explicando as causas e efeitos das alterações contábeis decorrentes do processo de migração. Precisam se comunicar com o mercado adequadamente para que não haja penalizações no preço de suas ações.

“A migração reflete melhor a realidade econômica das empresas”

As recentes alterações no processo contábil de reconhecimento, mensuração e divulgação de informações financeiras são novidades para o mercado e mesmo alguns analistas mais experientes têm dificuldades de interpretá-las em um primeiro momento. A migração para as normas e princípios de contabilidade do IASB (órgão internacional de emissão de normas contábeis) torna a contabilidade brasileira mais transparente e reflete melhor a realidade econômica das empresas. Contudo, gera uma complexidade contábil que é uma grande novidade para os contadores tupiniquins e para os usuários das demonstrações financeiras.

Nesse contexto, para que o processo de migração seja o menos traumático possível, é necessário que haja uma disseminação dos conceitos básicos que passam a sustentar a contabilidade das companhias abertas brasileiras, bem como as empresas se preocupem em comunicar da melhor maneira possível os impactos dessas alterações. Pois como dizia um dos melhores comunicadores brasileiros, o saudoso Chacrinha: Quem não se comunica, se trumbica!

Doutor em Ciências Contábeis pela FEA-USP, Fernando Caio Galdi é professor da FUCAPE Business School e escreve mensalmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
fernando.galdi@infomoney.com.br

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