Quando este jornal chinês tuíta, Wall Street escuta

Nas últimas semanas, o editor-chefe do Global Times, Hu Xijin, usou sua conta no Twitter para prever com precisão várias ações da China

Bloomberg

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(Bloomberg) — Investidores ansiosos para saber como o obscuro governo da China está lidando com a guerra comercial têm prestado muita atenção a uma fonte inesperada: o editor de um dos jornais estatais mais aguerridos do país.

Nas últimas semanas, o editor-chefe do Global Times, Hu Xijin, usou sua conta no Twitter para prever com precisão várias ações da China, como uma investigação sobre o desvio de de encomendas da Huawei Technologies pela FedEx e o alerta do governo chinês sobre o risco de estudar nos Estados Unidos. Os mercados prestaram atenção: depois de um tuíte do editor, as ações da Boeing fecharam no nível mais baixo em quatro meses.

No entanto, Hu reconhece que ocupa um espaço ambíguo em meio aos esforços do Partido Comunista para comunicar seus planos ao mundo.

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“Tenho acesso a algumas informações devido à natureza do meu trabalho, mas não tenho autorização de ninguém para divulgá-las”, disse Hu em entrevista à Bloomberg News em Pequim, na semana passada. “Não tenho certeza se as autoridades chinesas estão deliberadamente passando informações para mim. Eu e as autoridades temos um entendimento tácito.”

A posição de Hu como importante oráculo das políticas da segunda maior economia do mundo destaca o abismo entre as estratégias de comunicação usadas pelo presidente Donald Trump e por seu homólogo chinês, Xi Jinping. Enquanto o líder americano recorre à comunicação espontânea via Twitter – tendo usado a plataforma para anunciar a mais recente manobra tarifária no mês passado -, Xi divulga seus planos por meio de burocratas, documentos e discursos carregados de jargões.

Esse contraste despertou interesse por profissionais como Hu, que convive com proeminentes autoridades chinesas que comentam assuntos geralmente conduzidos com extrema sensibilidade por agências estatais e órgãos de propaganda. Com a escalada das tensões comerciais, os seguidores de Hu no Twitter mais que dobraram, para 48.400 no mês passado.

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Larry McDonald, fundador da newsletter de investimentos Bear Traps Report, descreveu o conteúdo como uma “versão comunista chinesa do Twitter de Trump”.

“Muitos gestores de fundos e investidores que conhecemos estão acompanhando de perto a conta de Hu no Twitter, pois esta fornece informações importantes sobre a posição da China sobre a guerra comercial e outras questões”, disse McDonald. “O Twitter de Hu é visto como a maneira da China de reagir. É uma tática de negociação do Partido Comunista Chinês.”

Também como nas páginas do Global Times, os tuítes de Hu estão repletos de argumentos defendendo as práticas de direitos humanos da China e elogios à da ascensão do país. Hu adotou uma linha semelhante na conversa com a Bloomberg na última quarta-feira, dizendo que a economia do país continuaria a crescer apesar da guerra comercial: “A China pode aguentar a perda. O tempo está do nosso lado.”

Na entrevista de quarta-feira, Hu disse que a China “pode tomar algumas medidas” contra as importações de serviços dos EUA, uma área de expansão para o lado americano, se Trump seguir adiante e cobrar tarifas sobre todas as importações de produtos chineses. Ele também alertou sobre “danos colaterais” para empresas como Apple ou Qualcomm, caso o conflito comercial continue aumentando.

Um detalhe a ser observado: Hu disse que os tuítes “baseados no que eu sei” são “definitivamente verdadeiros”. Ele usou frases semelhantes em seus posts sobre a FedEx, sobre o alerta aos estudantes e sobre a iniciativa da China de criar uma lista negra de empresas estrangeiras.

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–Com a colaboração de Zheping Huang. ©2019 Bloomberg L.P.