Qual o saldo para a Bolsa brasileira após a agitada primeira semana de 2024?

Semana foi de ajustes na visão sobre quando ocorrerá corte de juros nos EUA com ata do Fomc e dados de emrpego, mas visão segue positiva

Equipe InfoMoney

(Shutterstock)

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A primeira semana do ano se encerra para o Ibovespa com alta para o índice nesta sexta-feira (5), com avanço de 0,98%, a 132.517 pontos, às 12h30 (horário de Brasília). Contudo, na semana, a baixa acumulada ainda é de mais de 1% (com baixas de mais de 1% na segunda e na quarta-feira), em um período marcado por uma revisão do mercado sobre as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Banco Central americano) ainda no primeiro trimestre de 2024 que guiaram o Ibovespa a uma forte alta nos últimos dois meses de 2023.

A ata do Fomc (Federal Open Market Committee) e os dados do mercado de trabalho nos EUA têm sido os destaques em termos econômicos nestes primeiros dias do ano. O documento do Fed referente à última decisão de juros nos EUA veio com um tom menos dovish (menos suave/moderado) do que a decisão em si em meados de dezembro. Na ocasião, conforme destacam os analistas da Ágora, o presidente do Fed, Jerome Powell, tinha pavimentado caminho para dar início ao processo de ajuste de juros e a sensação que deu foi que a ata tentou corrigir o tom e conter a euforia do mercado.

Entre outros pontos, o Fed indicou na ata que “as taxas de juros devem permanecer no atual patamar por mais tempo do que se imaginava” e que “seria apropriado a manutenção de uma política monetária restritiva até que se tivesse uma maior convergência da inflação para a meta de 2%.”

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Já na quinta, a pesquisa ADP mostrou a criação de 164 mil postos de trabalho no setor privado em dezembro, ficando acima do esperado pelo consenso da Bloomberg (125 mil). Os pedidos semanais de auxílio desemprego, por sua vez, vieram mais fracos do que o previsto (202 mil versus 216 mil esperados). Ambos mostram um mercado de trabalho ainda resiliente nos EUA.

Com isso, a grande expectativa ficou para o relatório de emprego desta sexta. O chamado payroll mostrou geração de mais vagas do que a esperada, elevando dúvidas sobre um eventual início de queda dos juros dos EUA em março, como alguns esperam.

“O mercado estava muito otimista em relação a um começo de queda dos juros americanos no primeiro trimestre. Isso ia na direção oposta da indicação do Fed, que tende a iniciar o corte mais para o segundo semestre de 2024. Os dados de emprego corroboram isso”, avaliou Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.

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O payroll mostrou que houve a geração de 216 mil postos em dezembro nos EUA, na comparação com mediana da estimativas de criação de 175 mil. Já a taxa de desemprego se manteve em 3,7%. “A ata do banco central americano já tinha jogado um balde de água fria na ideia de início de corte dos juros em março, reforçando que o Fed ficará data dependent ou seja, ficará dependente dos dados para tomar decisões”, avalia Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Além disso, apesar das projeções de queda de juros nos EUA ter sido adiada, as projeções são de que ela ainda acontecerá neste ano, o que deve beneficiar os emergentes.

“Embora os dados confirmem que a economia está forte e que uma aterrissagem suave está em andamento, é meio um ‘reality check’ para um mercado que estava ligeiramente à frente”, disse Ross Mayfield, analista de estratégia de investimentos da Baird. “Esse relatório certamente empurra um pouco as expectativas e maio é provavelmente uma boa base para se usar agora (para cortes nas taxas).”

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Enquanto isso, relatório do Instituto de Gestão do Fornecimento mostrou que a atividade de serviços dos EUA desacelerou consideravelmente em dezembro, com o índice dos gerentes de compras (PMI) marcando 50,6, contra expectativa de 52,6, sendo um dado a mostrar a trajetória de desaceleração econômica suave nos EUA.

Para Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management, os dados de trabalho publicados hoje, mesmo sendo um pouco diferentes do que era esperado pelo mercado, não representam grandes mudanças no cenário. “Trajetórias de desaceleração gradual da atividade não costumam ser lineares. Oscilações em torno da tendência vão acontecer; e não deveriam ser motivo para perder a calma”, valia.

O Ibovespa também registra ganhos uma vez que, além da valorização do petróleo do dia que estimula as ações da Petrobras (PETR4), há fatores internos que podem explicar em parte a alta do Índice Bovespa, observa Faust. “Tivemos dados interessantes divulgados hoje no Brasil”, diz.

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O operador de renda variável da Manchester Investimentos cita por exemplo a taxa de inflação medida pelo IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de dezembro. Houve alta de 0,38%, ficando menor do que as estimativas de 0,50% a 0,55% na pesquisa do Projeções Broadcast. Ao mesmo tempo, a produção industrial cresceu 0,50% em novembro ante outubro, ficando igual à mediana. “Na parte fiscal a dívida bruta ficou menor, em 73,8%, em relação aos 75% esperados. Isso dá um alívio à parte fiscal, que é uma grande preocupação”, diz Faust, ao referir-se à taxa informada no âmbito do setor público consolidado de novembro pelo Banco Central nesta sexta.

Para Faust, os dados indicam que o “mercado brasileiro continua interessante.” Assim, apesar do ajuste e volatilidade nesta primeira semana já agitada, as visões seguem positivas, ainda que o mercado tenha realizado parte dos lucros de 2023 neste início de ano. As projeções de bancos e casas de análise para o Ibovespa ao fim de 2024 variam entre 140 mil e 160 mil pontos.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)