Qual o cenário da economia dos EUA “ideal” para o Ibovespa?

Economia forte nos EUA eleva projeção de juros mais altos por mais tempo, enquanto atividade fraca por lá eleva aversão ao risco, tornando o "meio termo" o melhor cenário para o mercado brasileiro

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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Janeiro ficou marcado como um mês no qual a Bolsa brasileira destoou daquilo visto no exterior. Enquanto o S&P 500 ultrapassou sua máxima histórica, o Ibovespa caiu quase 5% com uma forte saída do estrangeiro, muito por conta da probabilidade maior de que o corte de juros nos Estados Unidos possa acontecer somente no segundo semestre em meio aos dados fortes da maior economia do mundo. Com isso, volta à tona a discussão a que ponto uma atividade econômica robusta nos EUA é interessante para o mercado de ações brasileiro.

Nos Estados Unidos, as companhias ligadas ao setor de tecnologia puxaram o otimismo, com seus resultados alimentando as expectativas quanto ao impacto do uso da inteligência artificial. Além do mais, dados econômicos mais fortes do que o esperado, como o produto interno bruto (PIB) do quarto trimestre e o relatório de emprego Payroll de dezembro, também aumentaram as expectativas para os ativos de risco americanos. 

Esses mesmos fatores, porém, também explicam em grande parte o baque do Ibovespa. 

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O primeiro ponto destacado por analistas é o fato de que juros mais altos nos Estados Unidos, desencadeados por uma economia mais aquecida, minguam o fluxo de investimentos para países emergentes. Investidores, nessa situação, buscam as taxas mais altas e a segurança oferecidas pela renda fixa norte-americana. 

Fora isso, uma economia pujante por lá também traz uma expectativa de valorização para as ações das companhias dos EUA. Diminui, então, a necessidade dos investidores de tomar riscos em países como o Brasil. 

“A alta do rendimento dos Treasuries tem sido um fator bastante observado pelo mercado, pois de certa forma baliza a expectativa de juros das outras economias. Outro ponto é que a abertura de curva lá pode reduzir o apetite a risco dos investidores norte-americanos e interferir no fluxo para países emergentes”, explica Luis Azevedo, head de gestão de recursos da Oriz.  

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“À medida que a bolsa americana continua performando bem, o interesse ou necessidade de alguns investidores estrangeiros investirem em mercados emergentes pode diminuir”, acrescenta. 

Uma possível projeção de recessão nos Estados Unidos, porém, também poderia impactar o índice brasileiro, principalmente pelo lado das commodities, com as empresas exportadoras desses produtos tendo muita importância dentro do Ibovespa. Essa visão, no entanto, está cada vez mais perdendo força, já que a economia, por lá, dá mais constantemente sinais de resiliência. 

“O temor de recessão já foi pior no ano passado, apesar de os EUA ainda estarem com uma taxa de juros restritiva. Lembrando que a taxa de juros nos Estados Unidos ainda é alta e que uma taxa de juros alta nesse patamar numa economia muito desenvolvida acaba drenando recursos no mundo. Os investidores preferem ganhar uma taxa, por mais que seja uma taxa menor nos Estados Unidos se comparado com a do Brasil”, contextualiza Ricardo Jorge, sócio da Quantzed. A taxa de juros básica americana está entre 5,25% e 5,50%, ante os juros brasileiros a 11,25% ao ano.

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Uma economia muito aquecida nos EUA ainda pode forçar o Federal Reserve a manter os juros mais altos por mais tempo, além de fazer o otimismo com a Bolsa americana – que já é alto – aumentar. O melhor cenário para o mercado brasileiro, segundo analistas, fica então “no meio do caminho”.

“Uma economia americana ruim é ruim para o mundo, com dólar se fortalecendo pelo temor de recessão. Mas a atividade muito forte por lá também acaba tendo efeitos negativos, tirando dinheiro de outros países. Importa a mediocridade”, aponta Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. 

Jennie Li, estrategista de ações da XP, também avalia que o cenário ideal, para o Brasil, é que a economia americana continue forte, mas sem forçar o Federal Reserve a manter os juros altos por muito tempo.

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“O cenário ideal é o de soft landing, com a economia desacelerando de forma gradual, inflação caindo para a meta e o Federal Reserve conseguindo cortar os juros. Em um cenário de hard landing, teremos uma recessão, com volta da aversão ao risco e Ibovespa sofrendo”, diz a especialista.