Quais varejistas estão em bom ponto de entrada? Goldman e Morgan destacam preferidas

Com o desemprego em níveis historicamente baixos e a Selic em 15%, o varejo vem apresentando desempenho misto neste ano

Felipe Moreira

Loja de roupas em São Paulo (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)
Loja de roupas em São Paulo (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

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Divididas entre um mercado de trabalho aquecido, com desemprego próximo das mínimas históricas, e uma taxa básica de juros elevada — a Selic está atualmente em 15% –, o que restringe o crédito e afeta o consumo, as varejistas vêm registrando tendências mistas ao longo deste ano.

Na avaliação do Morgan Stanley, as vendas do varejo brasileiro devem continuar em um ritmo moderado, sem grandes catalisadores para acelerar a atividade nos próximos meses.

Entre os fatores positivos, o banco destaca que a inflação subjacente tem surpreendido para baixo, levando sua equipe econômica a reduzir as projeções de inflação para 2025 e 2026. No entanto, o Banco Central mantém um tom mais conservador, e o Morgan espera que o ciclo de cortes de juros comece apenas no fim do primeiro trimestre (1T26).

Não perca a oportunidade!

Até agosto, o crescimento real das vendas no varejo (ajustado sazonalmente) foi de 2,1%, abaixo dos 3,8% de 2024, com tendência de desaceleração nas últimas leituras. Em termos nominais, o crescimento médio de 7,2% também representa uma desaceleração em relação aos 8,3% de 2024, com o segundo semestre enfrentando uma base de comparação cerca de 1 p.p. (ponto percentual) mais difícil que o primeiro.

Por outro lado, o Morgan Stanley reconhece que os cortes de juros devem gerar um impulso positivo, mas com efeito defasado sobre o consumo, o que indica poucos gatilhos para uma inflexão nas vendas do varejo — positiva ou negativa — nos próximos trimestres.

Segmento em destaque no 3T25

O Morgan Stanley prevê um 3T25 com desempenho estável em alimentos, pressão em eletrônicos e desaceleração em vestuário após a força do 2T25.

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Alimentos e bebidas: crescimento nominal de 7,8% até agora em 2025, com inflação próxima de 7%.

Eletrônicos, eletrodomésticos e móveis: avanço nominal de 4,4%, afetado pela maior dependência de crédito. O Magazine Luiza (MGLU3) deve crescer 2% na base anual em volume bruto negociado (GMV) no 3T25, após queda de 1% no 2T25.

Moda e calçados: crescimento nominal de 7,2% até agosto, mas parte do impulso anterior veio de vendas antecipadas de inverno. O banco estima crescimento de 5,5% de SSS (vendas nas mesmas lojas) para Lojas Renner (LREN3) e de 8,0% para C&A (CEAB3), ambas em desaceleração frente ao 2T.

Preferência do Morgan Stanley

O Morgan Stanley avalia que os cortes de juros trarão ventos favoráveis ao setor, por reduzirem custos de capital, aliviarem o serviço da dívida e ampliarem a renda disponível. No entanto, sua estratégia de seleção de ações privilegia empresas com (1) baixa alavancagem, (2) iniciativas internas de eficiência e (3) exposição a segmentos menos dependentes de crédito.

Por outro lado, o Morgan mantém cautela em relação a companhias mais afetadas pelos juros elevados, que limitam a capacidade de investimento produtivo. Após revisar sua visão setorial, o banco reforçou sua convicção positiva nas ações da Azzas 2154 (AZZA3), Lojas Renner (LREN3) e Vivara (VIVA3), todas com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra).

Já para Magazine Luiza (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3), o banco mantém recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), devido à combinação de exposição a bens cíclicos, concorrência acirrada no e-commerce e impacto dos juros altos na lucratividade.

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Entre as ações com recomendação equalweight (exposição igual a média do mercado, equivalente à neutro), o Morgan destaca C&A (CEAB3) — com execução sólida nos últimos anos, mas agora negociando a múltiplos próximos aos da Renner. Dada a maior consistência histórica e disciplina de capital da Renner, o banco mantém preferência relativa por LREN3.

O relatório também menciona a Natura (NATU3) de forma positiva, pela simplificação estrutural com a venda da Avon International, embora o aumento recente da alavancagem e a volatilidade operacional ainda mantenham o banco cauteloso.

Por fim, para o Assaí (ASAI3), o Morgan espera que as vendas mesmas lojas sigam abaixo da inflação, enquanto a empresa ainda digere sua expansão recente no modelo “cash & carry”. Apesar das complicações pós-spin-off, o banco vê suporte nos valuations por fluxo de caixa descontado e múltiplos, mantendo recomendação neutra.

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Lojas Renner (LREN3) e da C&A (CEAB3)

As ações das varejistas Lojas Renner (LREN3) e da C&A (CEAB3) acumulam quedas de 16% e 10% desde meados de setembro, contra baixa de 1% do Ibovespa, após projeções indicarem desaceleração da demanda por vestuário no 3T25, influenciada por um período prolongado de temperaturas frias. O Goldman Sachs reconhece que investidores continuam preocupados com um possível arrefecimento macroeconômico e com o fato de o clima irregular ter persistido em outubro.

No entanto, com LREN3 e CEAB3 sendo negociadas abaixo de 9 vezes P/L (Preço sobre Lucro) estimado para 2026 e oferecendo taxa crescimento anual compsta (CAGR) de lucro por ação (EPS, na sigla em inglẽs) de 12% e 15% entre 2026 e 2028, respectivamente, o banco vê um ponto de entrada atraente — especialmente porque qualquer sinal de recuperação das vendas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) no 4T25 pode impulsionar o sentimento e provocar expansão de múltiplos.

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O Goldman observa que o clima tende a ter influência menor sobre a demanda por vestuário no 4T, e que a maior parte das vendas ocorre na segunda metade do trimestre, principalmente a partir de meados de dezembro.

O banco projeta crescimento de SSS de 8,1% para Renner e 12,9% para C&A no 4T25 (ante +4,5% e +9,3% estimados no 3T25), o que já incorpora alguma desaceleração macroeconômica frente ao ritmo de crescimento de 10,8% e 15,0% registrados no 1T25. A análise histórica mostra que ações do setor tendem a reagir positivamente a sinais de aceleração sequencial das vendas no 4T em relação ao 3T.

O Goldman acredita que haverá aceleração sequencial nas vendas à medida que o clima deixa de ser um fator limitante em novembro e dezembro. Embora o desempenho em outubro ainda possa ser fraco, mais de 75% das vendas do trimestre ocorrem em novembro e dezembro, quando o impacto climático é menor.

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O banco avalia que a C&A oferece uma tese de investimento mais atraente no curto prazo, apoiada em melhorias operacionais que devem manter o crescimento de SSS acima dos pares até 2026. Ainda assim, a Lojas Renner deve ser beneficiada por seu histórico consistente de execução e maior liquidez, o que pode justificar um prêmio de valuation.

No geral, o Goldman Sachs vê os níveis atuais como um ponto de entrada atrativo no setor de varejo de vestuário brasileiro e reitera recomendação de compra para Lojas Renner e C&A, com preço-alvo de, respectivamente, R$ 20 e R$ 22.