Próximos anos serão difíceis para o mercado acionário, diz economista

Necessidade de desalavancagem nos EUA deve pressionar bolsas em um momento em que medidas anticiclícas deveriam ser tomadas, destaca Daniel Cunha, da XP Investimentos

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Em pouco menos de um mês, a economia norte-americana deve passar por um dos eventos mais importantes dos últimos anos: o potencialmente destrutivo abismo fiscal, que pode ser enfrentado no início de janeiro. O evento se trata do término de diversas isenções tributárias por lá, ao mesmo tempo em que gastos serão cortados caso o Congresso não chegue a um acordo – o que provavelmente jogará a economia norte-americana de volta para a recessão.

Evitado ou não, o “abismo fiscal” é decorrência da necessidade norte-americana de desalavancar a economia nos próximos anos – o que deve ter um efeito nefasto na bolsa, seja por aqui ou por lá. “E estamos em um período mais desafiador no mercado acionário, já que o momento não é dos melhores para alocar parte considerável de um portfólio em ativos de maior risco”, destaca o economista.

“Desalavancagem pode ser entendida como correção de excessos, que se observaram de maneira espalhada no último ciclo de crescimento global”, avalia Daniel Cunha, economista da equipe de análise da XP Investimentos. E nesse cenário, o abismo fiscal pode ser apenas o primeiro ato de uma longa peça. “Tal quadro desenha um crescimento para o país e mundo menor e mais volátil”, destaca.

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Martin Feldstein, professor na Universidade de Harvard e principal conselheiro econômico do governo de Ronald Reagan, destacou, em artigo publicado no Financial Times: há uma necessidade de diminuir o crescimento dos programas públicos de aposentadoria da classe média e de limitar os gastos públicos – através de uma reforma tributária ampla. Embora a necessidade exista, ele destaca que passar pelo abismo fiscal seria um “grande erro”. 

No momento, isso implica tempos difíceis para os investimentos. Cunha destaca que é cada vez mais importante saber escolher quais ações comprar, já que o mercado dificilmente andará todo junto. “As operações deverão ser cada vez mais táticas e menos direcionais”, afirma. É o que ocorreu na década de 1960 e 1970 nos Estados Unidos.

“O abismo impõe uma incerteza relevante no curto prazo, mas a economia norte-americana tem espaço para realizar uma desalavancagem fiscal de maneira gradativa e suave”, avalia Cunha. O problema, portanto, seria o “timing”, acredita o economista. Neste momento, o mundo carece de crescimento, e o ideal é que as políticas públicas fossem voltadas para a expansão e não para a contração. “O ideal era que discutíssimos políticas fiscais expansionistas e não contracionistas”, acredita. 

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Com isso, a necessidade de desalavancar os EUA é trágica. “Teremos um ritmo mais moderado que o da última década, e com uma incerteza elevada dado que se a economia precisar, não poderá contar com estímulos fiscais”, afirma. Mesmo assim, o país ainda pode contar com desalavancagem fiscal gradativa e suave, diferentemente dos países problemáticos da zona do euro.