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Seja porque resolveram guardar munição para o embate final, quinta-feira, na Globo, seja porque perceberam que os ataques pessoais, beirando a baixaria, do encontro do SBT, pegaram mal e poderiam prejudicá-los junto a camadas de eleitores, a verdade é que Dilma Rousseff e Aécio Neves fizeram um debate bem mais “civilizado” ontem na Record. Mesmo as perguntas mais duras, envolvendo corrupção, foram feitas com “educação”.
O encontro acabou sendo morno, com uma tentativa de apresentar programas e discutir propostas, com destaques para a inflação e ainda o caso Petrobrás, no qual nenhum dos dois cometeu grandes falhas ou grandes brilhos. Informa a “Folha de S. Paulo” que os dois mudaram de tom amparados em pesquisas que mostraram rejeição à agressividade deles.
Pode ter contribuído para amainar o ambiente a atitude mais dura do Tribunal Superior Eleitoral contra a troca de insultos: o TSE, em quatro dias, barrou 14 anúncios dos dois candidatos.
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Para o aquecimento da campanha, o tema mais importante do fim de semana, que ainda hoje deve render discussões, no terreno pantanoso da Petrobrás, foi a admissão pela presidente Dilma, no sábado, de que houve sim desvios na empresa e que ela fará o possível para ressarcir os prejuízos. No domingo Dilma reafirmou que sabe que houve desvios na estatal, porém não sabe quem cometeu.
A nova posição da presidente em relação do caso foi muito discutida no comando da campanha petista, pois havia um grupo, ao qual pertencia o ex-presidente Lula, que achava que ela não devia fazer o que fez. Prevaleceu a opinião da presidente.
Aliás, Lula está destoando um pouco do nível mais ameno adotado por sua pupila. No fim semana, como sábado em Belo Horizonte, voltou a jogar pedras contra o tucano, com referências a questões pessoais. Não se sabe se é uma iniciativa exclusiva do ex-presidente ou um jogo combinado de campanha: Lula bate para Dilma não se desgastar.
Investigação nos Estados Unidos
Foi uma guinada vertiginosa por parte da presidente no caso Petrobrás. Até então, Dilma sempre dizia, quando perguntada sobre o assunto, que estava esperando conhecer o teor completo dos depoimentos da Operação Lava-Jato, principalmente as delações premiadas do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff, para agir. Não reconhecia nada.
O que teria feito a presidente mudar de tom numa coletiva que deixou a impressão de ter sido convocada apenas para ela dar esta reviravolta?
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Uma das razões pode ter sido a noticia de sexta-feira de que a SEC (o equivalente nos Estados Unidos da nossa CVM) abriu uma sindicância para investigar se o que está acontecendo na Petrobrás causou prejuízo a seus acionistas.
A estatal tem ações negociadas na Bolsa de Nova York e a legislação norte-americana é pesadíssima. Informa o “Valor” que a CVM não diz se abriu procedimento idêntico no Brasil.
A outra razão foi mesmo evitar prejuízos eleitorais e tentar tirar a Petrobrás do centro dos debates. A pesquisa do DataFolha conhecida na quarta-feira indicou que o escândalo da estatal deve influenciar o voto de quase metade dos eleitores no segundo turno: 49% dos entrevistados disserem que a denúncia vai pesar na sua escolha e 30% deles disseram que terá grande influência. Outros 43% declararam que a corrupção na empresa não vai orientar seu voto.
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O instituto perguntou ainda aos entrevistados sobre o que sabem do escândalo. Do total, 80% tomaram conhecimento das denúncias e 66% acreditam que elas são verdadeiras. Apenas 8% acreditam que não houve repasses de recurso e o restante não soube responder.
Em outra pergunta, 64% responderam que a candidata do PT tem responsabilidade – 38% acham que ela tem muita responsabilidade, e 26%, acham que tem pouca. Eximem Dilma de culpa 18% e o restante preferiu não opinar a respeito.
Em entrevista ao “Valor Econômico”, a professora Luciana Veiga, da Universidade Federal do Paraná, com pós-doutorado em comportamento eleitoral nos Estados Unidos, diz que a corrupção influencia mais o voto quando a economia não vai bem.
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Diz ela que a disputa Dilma-Aécio está tão acirrada porque uma parte substancial dos eleitores não conseguiu definir bem se a economia vai de fato mal (como prega o PSDB) ou bem (como defende o PT). Esse eleitor está dividido de um lado pelas críticas do tucano à inflação e ao PIB baixinho e de outro pela defesa que Dilma faz dos bons resultados, via manutenção de baixo índice de desemprego.
Luciana acha que o discurso de Aécio de fazer um “Brasil para todos” está pegando na faixa da população acima da linha de corte dos programas sociais e que não se sente protegida.
O “Valor” traz também o perfil dos dois mais influentes assessores de Dilma e Aécio: o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e o ex-governador de Minas e senador eleito Antonio Anastasia. Os dois têm lugar no coração num futuro governo petista ou tucano.
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Rossetto poderia ir para a Casa Civil ou a secretaria-geral da Presidência e Anastasia também para a Casa Civil ou o Ministério do Planejamento. No caso do petista, ele formaria do Jaques Vagner, Aloizio Mercadante e Giles Azevedo o núcleo duro de Dilma no nova gestão.
Outros destaques
dos jornais do dia
– ATIVIDADE ECONÔMICA – Na “Folha”: O faturamento das micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo caiu pelo sexto mês consecutivo. Em agosto, a retração chegou a 8,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Esse foi o maior recuo registrado nos últimos 12 meses, de acordo com pesquisa do Sebrae-SP. No total, as empresas tiveram uma receita de R$ 47,4 bilhões. O setor do comércio puxou a queda, com -16,6%.
– EMPREGO – No “Valor”: com as vendas crescendo menos do que em 2013 e as incertezas em relação a 2015, mais empresas dos setores de comércio e serviços planejam contratar empregados temporários neste fim de ano – e menos funcionários devem ser efetivados. Pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que 80% das empresas brasileiras pretendem contratar mão de obra temporária nesse período. Em 2013, o percentual era de 68%. Por outro lado, apenas 20% das companhias têm a intenção de contratar funcionários efetivos até dezembro, ante 32% no ano passado. A tendência é que o emprego temporário sirva menos como porta de entrada para o mercado de trabalho neste ano. De acordo com o estudo, 68% das empresas não têm a intenção de efetivar nenhum funcionário (o percentual estava em 48% em 2013).
– ECONOMIA MUNDIAL – Ainda no “Valor”, do Wall Street Journal: As bolsas americanas encerraram uma semana tumultuada demonstrando força, mas alguns gestores de recursos estão advertindo que alguns problemas subjacentes que haviam derrubado as cotações anteriormente ainda continuam presentes. Com a economia dos EUA saudável e as autoridades do Federal Reserve (Fed), o banco central do país, enfatizando sua determinação em manter o rumo atual, poucas pessoas temem que o mercado americano possa entrar em colapso. Mas elas receiam que, com a Média Industrial Dow Jones subindo 30% no ano passado, incluindo dividendos, e com apenas alguns recuos até agora neste ano, as ações continuam caras e vulneráveis à fragilidade da economia de outros países. A Europa segue flertando com uma recessão e a China ainda dá sinais de desaceleração. A demanda continua fraca pelos combustíveis do crescimento econômico, tais como petróleo e cobre.
LEITURAS SUGERIDAS
Fim de semana
1. Suely Caldas – “O que aconteceu há 12 anos…” – Estadão
2. Moisés Naím – “O que pensa o mundo” – El Pais
3. Marcos de Barros Lisboa – “Os meios e os fins” – Folha
Segunda-feira 1. Marcio Holland – “Inflação, carne bovina, frango e ovo” – Folha
2. Nelson de Sá – “Agressão cede lugar ao tédio, deixando evidente falta que fazem os jornalistas” – Folha
3. Bernard Appy – “Tributação e distribuição de renda” – Estadão
4. Luiz Carlos Mendonça de Barros – “Mundo novo, teorias velhas” – Valor