Pressionado, Temer desperta e convoca reunião para discutir Manaus e segurança pública

Governo federal e governo do Amazonas trocam acusações sobre de quem a maior responsabilidade pelo massacre no presídio. É o típico caso em que os dois lados têm razão.

José Marcio Mendonça

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Ao contrário do que reza o dito popular, que diz em casa em que falta pão todos gritam e ninguém tem razão, em meio de autoridades que se omitem em casos que são de sua responsabilidade um culpa o outro e os dois têm razão. É o caso do massacre no presídio de Manaus, em que o ministro da Justiça, Alexandre de Morais, diz que o governo do Amazonas sabia que estava preparada uma rebelião e fuga de presos e insinuou que ele não agiu e que José Melo foi no mínimo omisso. Melo se defende e culpa também as omissões de Brasília. Morais diz que a maioria dos trucidados não pertencia a nenhuma facção criminosa. O secretário de Segurança do Amazonas afirma o contrário.

No episódio, não há dúvida de que os dois estão certos. Estados e Brasília não dão a atenção que o grau de violência que atingiu as prisões brasileiras e as ruas do país realmente deveria ter. Um fato que mostra essa omissão dupla: segundo “O Globo”, um relatório da Polícia Federal revelou há mais de um ano a trama para matar “todos os membros do grupo rival” no Amazonas; ora, e a PF sabia, é óbvio que Brasília e Manaus também deveriam saber em seus níveis de comando. Por que não se agiu a tempo?

A intensa grita nacional e internacional, contra o que se passou na capital amazonense e contra o quadro terrificante do sistema prisional brasileiro, pelo menos serviu para uma coisa – despertar o Palácio do Planalto. Até o papa Francisco e a ONU já falaram. E Temer quieto.

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Finalmente ontem, depois de três dias de absoluto silêncio, no qual foi representado pelo nem sempre muito claro e objetivo ministro da Justiça, o presidente decidiu convocar para hoje uma reunião com um grupo de ministros para discutir a situação. Temer está sendo duramente criticado, até veladamente por alguns auxiliares, por não ter se pronunciado imediatamente sobre a tragédia, no mínimo dando satisfações à sociedade brasileira e se solidarizando com as famílias atingidas pelo massacre.

Para usar uma expressão comum no mundo do futebol, observa-se que Temer não gosta de entrar em “bola dividida”. Quando o assunto é delicado, seja na política, seja na economia, seja numa questão social, ele deixa as manifestações para os auxiliares. Quando é para dar boas notícias, falar de coisas positivas, vender uma imagem otimista do governo, aí sim o presidente aparece. Esse estilo está refletido na mídia tradicional e nas redes sociais. Está deixando lembrança a omissão de Dilma no caso do desastre ecológico de Mariana, quando a então presidente demorou mais de uma semana para se mover e visitar a região atingida. Não é à toa que o mundo político em Brasília é acusado estar vivendo em um mundo especial, fora da realidade do país – o que ontem chamamos de sua “irrealidade cotidiana”.

Destaques dos

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jornais do dia

– “Governo corta desonerações de cinco setores e economiza R$ 3,3 bi em 2017” (Globo)

– “Governo aumenta gastos com investimentos em R$ 11,4 bi em dezembro” (Globo)

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– “Governo pode ter de cortar até R$ 50 bi nos gastos do ano” (Estado)

– “Cresce parcela estrangeira na produção de petróleo no Brasil” (Valor)

– “BNDES dará R$ 5 bi para capital de giro de micro e pequenas empresas” (Valor)

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– “Com a crise, mais da metade das greves foi gerada na esfera pública” (Folha)

– “País fechou 2016 com saldo cambial negativo de R$ 4,2 bi” (Estado)

– “Isenção de IPTU no Rio chega a R$ 681 milhões” (Globo)

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– “Poluição já custa à China R$ 1 bi por dia” (Globo)

– “Justiça suíça vê ‘indicios suficientes’ contra Cunha” (Estado)

– “Uma pessoa é assassinada por dia nas prisões do país” (Folha)

– “Facção Família do Norte previa caixinha de até R$ 1 mi por mês” (Folha)

– “PF sabia de ameaça de massacre em Manaus” (Globo)

– “Facção do Amazonas teria relação com as Farc” (Estado)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Receita opaca” (diz que órgão da Fazenda deve explicações sobre alteração em estudo que trazia crítica a programa de parcelamento de dívidas tributárias) – Folha

2. Clóvis Rossi – “O fracasso vai além dos presídios” (diz que o episódio de Manaus e os números da violência indicam um país em estado falimentar) – Folha

3. Vinícius Torres Freire – “O anda da carruagem encalhada” (diz que venda de carros cai 20%, mas comércio e indústria de veículos despioram no segundo semestre) – Folha

4. Editorial – “Incompetência e descaso também explicam a violência” (diz que falta um programa de segurança pública de fato nacional, mas muita coisa poderia ter sido evitada se a máquina funcionasse dentro de um mínimo padrão de eficiência) – Globo

5. Míriam Leitão – “Atrás das grades” (diz que o massacre de Manaus é sintoma – a doença é ampla, complexa e tem consequências para além da segurança pública) – Globo

6. Ribamar Oliveira – “Dois documentos que merecem leitura” (diz que MP e divulgação do Tesouro apresentam aspectos reveladores da estrutura de remuneração dos servidores federais, ativos e inativos e suas vantagens) – Valor

7. Editorial – “Uma liminar de muitos efeitos” (diz que Carmem Lúcia se equivoca ao aliviar à custa de outros os efeitos da irresponsabilidade) – Estado

8. Eugênio Bucci – “Como o discurso político virou entretenimento” (diz que na era da pós-verdade, até mesmo merchandising o discurso político deu de fazer” (Estado)